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Comboio em Ponte de Lima? Já havia plano em 1874 – mas só vai chegar com o TGV

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(dr) Câmara Municipal de Ponte de Lima

Câmara Municipal de Ponte de Lima

Em 1874, ainda durante a monarquia, começou a ser criado um plano para levar a linha de comboios até ao Vale do Lima, no Alto Minho. O traçado foi parcialmente construído, mas nunca inaugurado. Mas, 150 anos depois, Ponte de Lima vai, finalmente, ouvir o apitar do comboio com a Alta Velocidade.

O presidente da Câmara de Ponte de Lima considera que a previsão de criação, no concelho, de uma estação da ligação de Alta Velocidade entre Porto e Vigo (Espanha) é uma vitória do Alto Minho.

O troço Braga-Valença do futuro TGV vai ter estações em Braga, Ponte de Lima e Valença, de acordo com o caderno de encargos do estudo ambiental já contratado pela Infraestruturas de Portugal.

“Nos últimos dois anos, tenho estado em contacto direto com os intervenientes e, se assim for, consideramos esta notícia como uma vitória em prol do desenvolvimento de Ponte de Lima e do distrito no geral”, considera o autarca da vila limiana, Vasco Ferraz.

“Além da paragem do comboio de Alta Velocidade, está também previsto que a linha ferroviária possa receber circuitos de comboios regionais, situação pela qual o concelho espera há mais de 100 anos“, sublinha ainda o presidente da Câmara.

Linha de comboio do Vale do Lima é sonho desde 1874

Ao longo das décadas, vários Governos projectaram estabelecer a ligação de comboio entre Viana do Castelo e o interior do distrito, designadamente Ponte da Barca, passando por Ponte de Lima e com seguimento até Espanha através do Alto Lindoso.

A chamada linha férrea do Vale do Lima chegou a ser parcialmente construída, mas nunca foi inaugurada.

A ideia começou a ganhar forma ainda durante o reinado de D. Luís I em 1874. Em 1889, subiu ao trono o seu filho, D. Carlos I, que tentou convencer os privados a apostarem nesta linha férrea, mas sem sucesso.

Em 1889, o Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria defendia, no “Plano da Rede Ferroviária ao Norte do Mondego”, que “o traçado do caminho de ferro de Viana a Ponte de Lima deve ser atendido” porque daria “um grande impulso” à “indústria agrícola” e à “riqueza da região”, como cita um artigo no Blogue do Minho que se dedica a divulgar informação sobre a história e cultura locais.

O mesmo documento também evidenciava que Ponte da Barca poderia “prosperar grandemente” com a linha férrea pelo facto de a maioria das suas aldeias não serem servidas por “vias de comunicação regulares, o que paralisa os produtos nos respectivos centros de produção”.

Havia ainda questões militares e de defesa que valorizavam a construção da linha de comboio do Vale do Lima.

“Uma irrupção de tropas espanholas pela fronteira do rio Minho, ou desde aí até Montalegre, pode ser eficazmente debelada com o auxílio desta linha, que não deixará ultrapassar o Lima”, sublinhava o Plano citado pelo mesmo blogue.

Obras arrancaram, mas nunca terminaram

As obras para a construção do leito da via arrancaram em Viana do Castelo e chegaram a assentar-se carris, abrindo caminho também entre Ponte de Lima e a localidade de Bertiandos, paralelamente à Estrada Nacional 202.

Esse troço deveria entroncar com a linha de comboios de Braga e com a ligação a Monção, cuja estação foi desactivada nos anos de 1990.

Em 1923, chegaram a ser encomendadas “12 carruagens automotoras eléctricas” à Alemanha para servir esta linha, numa ideia do ministro do Comércio que era limiano e que tinha “interesses pessoais no distrito”, como constata o blogue Os Caminhos de Ferro. Só que o projecto previa comboios a vapor.

Além disso, as características do leito da estrada, com as suas curvas e a dimensão apertada, não permitiriam o funcionamento dessas carruagens.

Assim, as automotoras terão sido vendidas, eventualmente para Espanha, ou para outra linha do norte.

Esse foi apenas um dos reveses no projecto que também sofreu atrasos com a implantação da República a 5 de Outubro de 1910 e com a Primeira Guerra Mundial.

A obra acabou por não avançar, não havendo uma razão clara que o justifique. Divergências e dificuldades com o traçado podem ter ditado o abandono do projecto – ou outras prioridades se levantaram.

Agora, com a chegada dos comboios por via da Alta Velocidade, Ponte de Lima ganha nova importância em termos geo-estratégicos.

“Será certamente um projecto que vem reafirmar a nossa localização estratégica no panorama da região do Alto Minho e do Minho em geral”, destaca o presidente da Câmara de Ponte de Lima.

O autarca realça que o município “tem abordado” a questão da ferrovia, “ao longo dos anos, com os responsáveis políticos de vários Governos e os responsáveis técnicos” para “os convencer dessa necessidade para a região”.

Susana Valente, ZAP //

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3 Comments

  1. E uma verdade este ipisodio sa se falar há muitos anos, e assim sendo estou completamente de acordo que esta grande obra tenha seguimento o mais rapido possivel.

  2. É uma verdade que essa obra arranque mais depressa possível para ver o comboio passar em Ponte de Lima e em Ponte da Barca e também por outras localidades e assim dar uma vida ao Alto Minho passar um comboio em Alta velocidade nas Terras Limianas que já a muitos anos estába programado essa grande obra e que nunca veio a se concreterizar uma linha do comboio passar em Ponte de Lima e que nunca foi unauborada essa obra dum comboio passar por Ponte de Lima assim seija Benvinda um comboio do TJV de Alta velocidade

  3. Realmente é um sonho e, eventualmente, uma infraestructura de desenvolvimento.
    Claro que será financiado por dinheiro dos contribuintes europeus, cerca de 500 milhões. Se somos 10 milhões… 0,2 %.
    Estudo de impacto ambiental, muito bem! Estudo de impacto económico? Não existe? Muito mal.
    Respeito pelo dinheiros do contribuintes europeus, seria muito bom.
    E… manter um TGV? Vai ser com o dinheiro dos contribuintes portugueses? Qual o impacto no movimentos dos outros tipos de transporte? Também, será para mercadorias? Se sim, o Porto de Vigo agradece.
    Por isso, o Estudo de Impacto Económico seria muito interessante… ou não.

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