Aconteceu num desconhecido 25 de novembro, às mãos de um desconhecido Robert Kennedy.
Durante os últimos dias da Guerra Civil Americana, no início de 1865, o oficial confederado Robert Cobb Kennedy era julgado. A acusação? Tentativa de incendiar a cidade de Nova Iorque.
Acusado de tentar pegar fogo à “cidade que nunca dorme” em 25 de novembro de 1864, a conspiração de Kennedy seria o seu último esforço para enfraquecer a União e reforçar a causa confederada. O seu julgamento foi, na verdade, um dos últimos casos de espionagem da guerra — acabou com a sua execução, poucas semanas antes do fim do conflito, em abril.
Natural do Louisiana e filho de um agricultor, Kennedy tinha escapado de uma prisão da União no Lago Erie em 1863 e fugido para o Canadá. Furioso com as campanhas do general da União William Tecumseh Sherman no Sul, juntou-se a um grupo de exilados confederados em Toronto. Juntos, conceberam um plano ousado para atacar cidades do Norte e perturbar a economia da União, relata um artigo de 28 de fevereiro de 1865 do The New York Times, com o título ‘A trama do incêndio no hotel’.
“Na noite de 24 de novembro último, ele tentou incendiar a cidade de Nova Iorque, em manifesto prejuízo da vida e da propriedade, e contra todos os artigos ou disposições de uma guerra honrada”, escreveu o jornal.
Golpe de Estado travado por Lincoln
O plano inicial do grupo visava interferir nas eleições presidenciais de 1864 através de um golpe de Estado em Nova Iorque, recorda no Military History o escritor e ex-diretor da Fortune, Walter Giersbach.
O plano inicial envolvia a tomada de edifícios federais, o hastear de uma bandeira confederada na Câmara Municipal e a angariação de apoio dos nova-iorquinos simpatizantes do Sul, em especial, os que tinham ligações à indústria do algodão. No entanto, as tropas federais destacadas pelo Presidente Abraham Lincoln impediram a agitação e o golpe foi… um fracasso.
Kennedy e outros 7 confederados passaram então a um plano mais destrutivo: atear fogo em toda a cidade de Nova Iorque.
Cai fogo em Nova Iorque (ou não)
Armados com dispositivos incendiários cheios de fogo grego — uma mistura química concebida para se inflamar em contacto com o ar — queriam atingir hotéis e empresas. Na noite de 25 de novembro de 1864, seis dos conspiradores colocaram bombas incendiárias em vários locais, desde importantes hotéis ao Museu Americano de P.T. Barnum.
Kennedy, que usava o pseudónimo de “Mr. Stanton de Toronto”, colocou pessoalmente bombas em três hotéis e, num momento de espontaneidade alcoólica, no museu.
O ataque foi um fracasso total. Muitas das bombas não se inflamaram, enquanto outras provocaram apenas pequenos incêndios que foram rapidamente extintos pelos bombeiros da cidade. Além de ficar longe de paralisar o norte, a conspiração quase não causou perturbações.
No Sul, houve quem criticasse a escolha da cidade de Nova Iorque como alvo, dado os seus laços económicos com a Confederação e a sua aparente oposição a Lincoln. O jornal Richmond Whig chegou mesmo a sugerir que outras cidades, como Boston ou Filadélfia, teriam sido alvos mais adequados, uma vez que estavam mais alinhados com as políticas da União.
Os conspiradores fugiram depois para o Canadá, mas Kennedy acabou por tentar reentrar nos Estados Unidos. Foi capturado no Michigan e rapidamente levado a julgamento. Tudo e todos se viraram contra ele.
Os jornais aproveitaram o julgamento de Kennedy para o retratarem como um símbolo do fanatismo confederado. O próprio The New York Times descreveu-o como um “homem perspicaz e desesperado” que carecia de princípios morais e referiu a sua educação em West Point, financiada pelo Governo dos EUA, como um pormenor irónico na sua rebelião contra a União. Afinal, Robert Cobb Kennedy era familiar de Howell Cobb, um dos pais fundadores da Confederação.
Condenado por espionagem e fogo posto, Kennedy foi condenado à morte por enforcamento. O seu apelo de clemência ao Presidente Lincoln foi negado e Kennedy acabou por ser executado a 25 de março de 1865, em Fort Lafayette, uma ilha-prisão perto de Brooklyn.
A sua morte foi a última execução da Guerra Civil, que terminaria apenas duas semanas depois.