O placebo pode funcionar até mesmo quando se sabe que é placebo

Vários estudos têm mostrado que o placebo pode funcionar até mesmo quando os participantes sabem que não produz efeito nenhum.

Há quem lhe chame “medicamento falso” mas, na verdade, nem chega a ser um medicamento. Um placebo é um medicamento, substância ou qualquer outro tipo de tratamento que se parece com um tratamento normal, mas que não possui efeito ativo, ou seja, que não faz qualquer alteração no organismo.

O placebo é de extrema importância nos estudos científicos. Não pode curar uma doença, mas pode diminuir os sintomas causados por ela. Assim, o placebo é utilizado em vários estudos clínicos para verificar a eficácia de um tratamento novo.

Para que o novo medicamento seja considerado eficiente, é preciso haver uma diferença significativa entre os efeitos dos dois tratamentos.

O placebo pode modificar a forma como a pessoa se sente, ajudando a melhorar os sintomas e até aumentando o sucesso do tratamento que já estava a ser feito.

Betty Durkin, de 73 anos, escorregou numa tábua solta e caiu no chão, partindo o pescoço, magoando gravemente os pulsos, os joelhos e a parte superior da coluna cervical.

Os médicos propuseram-lhe um tratamento pouco convencional: iam testar se a sua dor melhorava depois de receber um comprimido placebo cheio de óleo de soja em vez de um ingrediente medicinal.

Cientistas têm testado esta hipótese há vários anos. Os participantes são informados previamente de que o comprimido que a tomar não contém ingredientes terapeuticamente ativos. Tipicamente, os participantes de um estudo não sabem se recebem o placebo ou tratamento real.

Tendo isto em conta, estes comprimidos placebo não deveriam reduzir a dor, fadiga, enxaquecas ou outros sintomas — mas a realidade é que o fazem, em grande número, escreve a National Geographic.

Durante três dias, Durkin cheirou um aroma de cardamomo e engoliu o comprimido antes de tomar os opioides. O objetivo era treinar o cérebro para associar a experiência de tomar o placebo com o alívio da dor dos opioides. Após o terceiro dia, Durkin recebeu o arome e o comprimido, mas nada de opioides.

“Eu não esperava que funcionasse. Eu sabia que era um comprimido falso, não algo ativo”, realça Durkin. “Mas, de alguma forma, o meu cérebro não sabia a diferença”.

Uma revisão da literatura, publicada no ano passado, na revista Scientific Reports avaliou 13 estudos com quase 800 participantes e concluiu que este tipo de placebos apresenta efeitos positivos significativos.

No entanto, os investigadores realçaram que nos estágios iniciais da pesquisa em qualquer campo, estudos positivos são mais propensos a serem publicados do que aqueles que não apoiam a técnica.

Estudos publicados em 2018 mostraram que os placebos tradicionais normalmente ativam neurotransmissores envolvidos na dor e na cura. John Krystal, da Yale School of Medicine, diz que isto justifica, em grande parte, o sucesso deste tipo de placebos.

O facto de ser prescrito por um médico também é fundamental. “Um placebo não é o medicamento. É o ritual do medicamento”, diz Ted Kaptchuk, diretor do programa de estudos placebo no Beth Israel Deaconess Medical Center de Boston e pioneiro neste ramo.

Daniel Costa, ZAP //

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