A tensão entre o Chega e o Presidente da Assembleia da República foi referida numa reunião do Conselho da Europa.
A constante troca de galhardetes entre Augusto Santos Silva e André Ventura já foi tema de discussão no Parlamento Europeu. Paulo Pisco, deputado do PS, fez recentemente declarações contundentes no Conselho da Europa, em Estrasburgo, criticando a atuação do Chega e do seu líder, apesar de não mencionar explicitamente seus nomes.
“Em Portugal, a extrema-direita diz querer fundar uma nova República, rejeita a autoridade do presidente do Parlamento, os seus militantes fazem cercos aos partidos políticos, os seus parlamentares fazem ações de provocação em manifestações organizadas por partidos de Esquerda e, como afirmou o Tribunal Constitucional, os seus estatutos internos são antidemocráticos”, atirou o deputado esta segunda-feira.
O deputado socialista, que falou em nome do grupo dos Socialistas e Democratas do Parlamento Europeu num debate sobre os desafios da extrema-direita para a democracia, vinculou a crescente influência destes partidos na ascensão da desinformação e manipulação online. Pisco também apontou para o dever moral de combater essa ideologia para evitar a degradação das democracias.
Estas observações surgem num contexto em que a relação entre o Parlamento e o Chega tem sido cada vez mais tensa. A última situação de confronto direto aconteceu quando André Ventura pediu que Santos Silva condenasse supostas agressões a membros do seu partido. O presidente do Parlamento optou por não o fazer e ainda criticou a abordagem do Chega ao tema, levando a que toda a bancada do partido abandonasse o plenário em protesto.
Para dar respostas ao problema, o Conselho da Europa aprovou um relatório que, embora não seja vinculativo, serve de conjunto de recomendações para os países-membros. O relatório foi aprovado com 102 votos a favor, 15 contra e três abstenções, e aborda várias dimensões do problema, incluindo respostas legais e socioculturais.
Em declarações ao DN, Paulo Pisco esclareceu que o debate foi motivado pela necessidade de enfrentar os ataques crescentes aos valores democráticos e humanistas. “Querem colocar em causa esses valores fundamentais, e daí a decisão de debater e fazer aprovar um relatório sobre este assunto”, explica.
O deputado também referiu o bloqueio desses partidos a decisões cruciais na União Europeia, particularmente em questões de migração, e criticou países como a Hungria, que se tornou “um problema no contexto europeu”.