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Lançada petição para atribuição de subsídio vitalício a família de Bruno Candé

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Bruno Candé Marques / Facebook

O ator Bruno Candé Marques, morto a tiro em Moscavide, Loures

O grupo Ação Cooperativista colocou hoje, ‘online’, uma petição, na qual exige “ao Governo que disponibilize, de imediato, um subsídio vitalício para a família de Bruno Candé”, ator negro assassinado na via pública, no concelho de Loures, no passado sábado.

A Ação Cooperativista – Artistas, Técnicos e Produtores, entidade surgida na área da cultura, no contexto de resposta à crise provocada pelo impacto da pandemia covid-19 no setor, lembra que “o Governo incumpre a Constituição ao não agir ativamente na erradicação do racismo e qualquer outra forma de discriminação”, referindo que a “discriminação racial é crime no nosso país (Artigo 240º Código Penal)”.

Os peticionários apontam o ódio racial como tendo estado na origem do crime cometido no passado sábado.

A petição quer que o Governo atribua à família do cidadão negro um subsídio vitalício, “como compensação mínima pela tragédia” que sobre ela “se abateu e como um sinal claro do seu compromisso com a igualdade e a justiça social, em solidariedade e apoio incondicional às vítimas de ódio racial”.

O ator Bruno Candé, de 39 anos, era casado e tinha três filhos menores.

A petição, dirigida ao presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, ao primeiro-ministro, António Costa, e aos grupos parlamentares está disponível online.

No texto da petição lê-se que o ator negro Bruno Marques Candé “foi vítima de um crime de ódio racial e assassinado por um homem branco, à luz do dia”, junto a um café em Moscavide, no concelho de Loures, nos arredores de Lisboa.

Os peticionários sublinham que “os vários testemunhos escutados em direto por vários meios de comunicação social não deixam dúvidas: este foi um ato racista”, e fazem notar que “é com perplexidade” que encaram “o ponto de situação da investigação da PSP”, citando declarações na imprensa do comissário do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP, Luís Santos, segundo o qual, “da inquirição das testemunhas todas do local, ninguém fala de atos racistas”.

Segundo o agente, citado no texto da petição, “há relatos de ‘diálogos ou confrontos que podem estar por detrás do incidente, mas não falaram nunca em questões racistas'”.

Questionam os peticionários se ficam “reduzidas a nada as pessoas que deram a cara a dizer que ouviram ameaças, como, ‘Tenho armas do Ultramar e vou-te matar’, entre outras”.

Argumenta o grupo Ação Cooperativista, que o subsídio vitalício à família do ator, “além da reivindicação de uma elementar reparação de justiça social de salvaguarda dos recursos mínimos de subsistência da família de Bruno Candé, é também uma forma de manifestação de repúdio inequívoco a qualquer ato de discriminação”.

Num comunicado divulgado no sábado, a família declarou que o ator “foi alvejado à queima-roupa, com quatro tiros”, quando se encontrava na rua principal de Moscavide, no concelho de Loures, distrito de Lisboa, e que “o seu assassino já o havia ameaçado de morte três dias antes, proferindo vários insultos racistas”.

“Face a esta circunstância”, a família considerou ficar “evidente o caráter premeditado e racista deste crime”, e exigiu que “a justiça seja feita de forma célere e rigorosa”.

A mesma reclamação foi feita pela associação SOS Racismo, logo no dia do homicídio, defendendo que “o caráter premeditado do assassinato não deixa margem para dúvidas de que se trata de um crime com motivações de ódio racial”.

Bruno Candé, 39 anos, foi morto a tiro no sábado, em Moscavide, e o suspeito do crime vai aguardar julgamento em prisão preventiva.

O ator iniciou o seu percurso no grupo de teatro da Casa Pia, tendo posteriormente frequentado a formação do Chapitô, onde participou em vários espetáculos.

Desde 2011, trabalhava com a Casa Conveniente, de Mónica Calle, onde participou no espetáculo “A Missão – Recordações de uma Revolução”, de Heiner Müller, distinguido com o prémio de Melhor Espetáculo do Ano, em 2012, pela Sociedade Portuguesa de Autores.

Fez também parte do elenco de telenovelas como “Única Mulher”, da TVI.

O Teatro Nacional D. Maria II, que expressou hoje “total solidariedade com os seus familiares, amigos e colegas de palco” de Bruno Candé, lembra que o ator preparava o novo projeto da companhia, “O Escuro Que Te Ilumina”, espetáculo que tem por base a história da sua vida e da sua capacidade de recuperação, após um acidente sofrido em 2017.

O anúncio de uma concentração em homenagem a Bruno Candé, marcada para sexta-feira à tarde, a partir das 18:00, no Largo de São Domingos, em Lisboa, começou a ser partilhado hoje, nas redes sociais, por diversas companhias e atores.

A concentração tem por lema “O racismo matou de novo: Justiça por Bruno Candé”.

// Lusa

1 Comment

  1. A Segurança Social já disponobiliza subsídios específicos para apoiar os menores que ficam orfãos. De certeza que o assassino vai ser julgado, condenado e obrigado a pagar uma indeminização. Essa petição parece absurda. Se ainda não se apuraram os factos e nem se sabe o que motivou a raiva do assassino porquê que querem rotular o crime de racismo? Será que foi puro ódio do velhote ou será que Bruno Candé também proferiu comentários desagradáveis que despoletaram a raiva do homem?
    Estão a querer transformar isto numa questão política. A justiça tem de ser igual para todos. A vida de uns não é mais importante do que de outros. Quando um negro mata um branco só porque sim nunca ninguém vem pedir pensões vitalícias. Foi um crime e quem o cometeu tem de ser punido. Quer tenha sido por racismo ou não. Não têm o direito de querer culpabilizar todos os portugueses pelos atos de um só.

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