Milhões de pessoas forçadas a deixar as suas casas por causa da seca severa e ciclones correm o risco da escravidão moderna e de tráfico humano nas próximas décadas, alertou um novo relatório publicado esta segunda-feira.
A crise climática e o aumento da frequência de desastres climáticos extremos estão a ter um efeito devastador na subsistência de pessoas que já vivem na pobreza, tornando-as mais vulneráveis à escravidão, lê-se no relatório do International Institute for Environment and Development (IIED) e da Anti-Slavery International, citado pelo Guardian.
Os investigadores constataram que a seca no norte de Gana levou os jovens a migrar para grandes cidades. Muitas dessas mulheres correm o risco de tráfico, exploração sexual e servidão por dívida – uma forma de escravidão moderna em que os trabalhadores ficam presos ao trabalho e são explorados para pagar uma dívida enorme.
Em Sundarbans, na fronteira entre a Índia e Bangladesh, os ciclones causaram cheias, reduzindo a área disponível para a agricultura. Com os países da região a aumentar as restrições à imigração, a equipa descobriu que os traficantes da região buscam viúvas e homens desempregados para cruzar a fronteira com a Índia em busca de emprego e renda.
As vítimas do tráfico são frequentemente levadas a trabalhos forçados e prostituição, com algumas a trabalhar em fábricas ao longo da fronteira.
“A nossa pesquisa mostra o efeito dominó das mudanças climáticas na vida de milhões de pessoas. Eventos climáticos extremos contribuem para a destruição ambiental, forçando as pessoas a deixar as suas casas e deixando-as vulneráveis ao tráfico, exploração e escravidão”, disse a conselheira sobre mudança climática e escravidão moderna da Anti-Slavery International, Fran Witt.
O Banco Mundial estimou que, em 2050, o impacto da crise climática – incluindo a baixa produtividade das safras, a falta de água e o aumento do nível do mar -, forçará mais de 216 milhões de pessoas de regiões como a África Subsaariana e a América Latina a deixarem as suas casas.
O relatório sublinhou as violações dos direitos dos trabalhadores e dos migrantes são desconsideradas no interesse do rápido crescimento e desenvolvimento económico.
“O mundo não pode continuar a fechar os olhos ao trabalho forçado, à escravidão moderna e ao tráfico humano que está a ser alimentado pelas mudanças climáticas. Abordar essas questões precisa ser parte integrante dos planos globais para lidar com a mudança climática”, afirmou Ritu Bharadwaj, investigadora do IIED.