Como é a vida de pessoas que literalmente não sentem medo?

Há pessoas que, por alguma doença ou dano cerebral, não têm a capacidade de sentir medo. As suas vidas são piores do que pode imaginar.

O medo é uma sensação que causa desconforto, a nível fisiológico, cognitivo e comportamental. É uma resposta natural e inconsciente ao perigo, seja ele real ou imaginário. É um sentimento que pode ser incapacitante e que pode limitar a vida de algumas pessoas.

A coragem é uma característica que nos permite combater o medo e pela qual as pessoas são louvadas. No entanto, isto não significa que as pessoas corajosas não sintam medo. O que separa estes dois grupos de pessoas é a forma como lidam com o medo.

Por mais difícil que seja imaginar, há pessoas que vivem literalmente sem medo. Esta rara condição é devida a alguma doença ou algum dano cerebral após um acidente que afetou os circuitos cerebrais associados à resposta de medo.

Em 2015, o The Washington Post dava a conhecer uma mulher que não conseguia sentir medo e que aguçou a curiosidade de uma equipa de cientistas que tentava perceber os motivos. Entre eles estava o português António Damásio.

A mulher tem uma doença chamada “Urbach-Wieth”, que afeta algumas centenas de indivíduos em todo o mundo. A doença afeta a estrutura do cérebro e, no caso desta mulher, a amígdala, a zona do cérebro responsável pela sensação de medo.

“Eu pergunto-me como será realmente ter medo de alguma coisa”, disse a mulher num podcast da rádio norte-americana NPR.

As amígdalas da norte-americana estavam totalmente calcificadas, levando a mulher de 40 anos a não conseguir sentir medo. “É um pouco como se você fosse a esta região e literalmente a escavasse”, explicou António Damásio no podcast.

Já por algumas vezes teve uma faca apontada a si e pediu que o indivíduo avançasse. Não quis chamar a polícia nem mesmo gritar “socorro”, porque não sentia medo.

Apesar da paciente ter dito aos cientistas que odeia cobras, quando foi levada a uma loja de animais exóticos, segurou numa das cobras durante mais de três minutos, esfregando as suas escamas e tocando até na sua língua bifurcada.

Embora, precipitadamente, uma pessoa possa achar que seria ótimo viver sem medo, o caso desta mulher na casa dos 40 anos prova o contrário. Uma pessoa que não sente medo pode estar em sérios riscos de vida. O medo é crucial para avaliar as situações de perigo, evitando que o nosso bem-estar seja comprometido.

ZAP //

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