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Peritos denunciam falhas na comunicação do Governo

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José Sena Goulão / Lusa

A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas (E), e o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales (D)

Os especialistas que aconselham o Executivo admitem que houve falhas na comunicação do Governo e preveem que a perceção pública de ameaça baixa no verão.

Os peritos que aconselham o Governo relativamente à comunicação nesta pandemia de covid-19 preveem que “a perceção pública da ameaça baixe em julho e agosto, um padrão que já se verificou no ano passado”.

“Nesta fase mais estabilizada de contenção da pandemia, a comunicação de risco torna-se ainda mais fulcral”, sublinha Marta Pinto, psicóloga especialista em comunicação de crise incluída no grupo de peritos, admitindo que “há erros com os quais podemos aprender”.

Como há menos “medidas externas de condicionamento da nossa vida social”, a perceção pública de ameaça do novo coronavírus diminui, embora até agora se tenha mostrado “adequada”.

“Há indicadores que aparentam mostrar que o estado do tempo pode influenciar estas perceções. É diferente estar em casa com frio ou sair à rua para apanhar sol numa esplanada, e isso pode ajudar as pessoas a esquecer momentaneamente os aspetos negativos [da pandemia]”, disse Rui Gaspar, especialista em comunicação em saúde e coordenador da ferramenta de “Comunicação de Crise e Perceção de Riscos” da DGS, em declarações ao Expresso.

“É um sinal de alerta, porque pode levar a menos prudência e vigilância, o que não será positivo”, atirou.

Desde 26 de abril que o nível da ameaça se tem mantido abaixo de 5, numa escala de 0 a 10. A possibilidade de agendamento da vacinação para maiores de 65 anos “poderá ter ajudado a baixar a perceção de ameaça”, admitiu Rui Gaspar.

O especialista prevê ainda que a perceção do risco vai voltar a subir no final de agosto e início de setembro, com o regresso às aulas.

“Nas últimas semanas houve um certo vazio que pode ter sido favorável a contradições. O atual plano de desconfinamento esgotou-se e ficamos sem saber o que vem depois, um bocado na terra de ninguém. Correu tudo um pouco mais rápido do que se estava à espera, e isso contribuiu para um vazio temporal. Foi uma etapa que não foi tão bem pensada”, disse, por sua vez, Óscar Felgueiras, matemático da Universidade do Porto que faz parte do grupo de peritos.

Quanto à final da Liga dos Campeões no Porto e a abertura do país ao turismo, o perito sugere que “o executivo foi pressionado pelas circunstâncias”, tendo sido decisões “tomadas um pouco à pressão”.

Susana Silva, epidemiologista social da Instituto de Saúde Pública do Porto, diz que a sensação de injustiça social pode comprometer o combate à pandemia, dado que haver “pesos diferenciados” fere a “confiança pública”.

ZAP //

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