É perigoso tomar banho durante a digestão. Mito ou verdade?

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Uma recomendação da Direção-Geral da Saúde (DGS), publicada no início de agosto no Twitter, aconselhava a população a aguardar “duas a três horas” após uma refeição “antes de entrar na água”. Após gerar polémica, a mensagem parece ter sido apagada. Mas a afirmação é um mito ou uma verdade?

Na publicação da DGS – que foi também partilhada na conta oficial do Serviço Nacional de Saúde (SNS) – os utilizadores acusaram a entidade de fazer uma recomendação com base num “mito”.

Ao Público, o médico gastrenterologista Guilherme Macedo, presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, explicou que “depende de várias circunstâncias”

“Aquilo que costuma afetar mais gravemente o que pode causar uma perturbação grave cardiovascular – como uma arritmia ou paragem cardíaca – tem que ver, por um lado, com uma reação térmica, ou seja, se houver um choque térmico diante aquilo que é a temperatura corporal e a água do mar”, explicou.

Esse choque térmico “provoca uma reação neurológica especial mediada pelo nervo vago que consiste em fazer um abrandamento significativo do batimento cardíaco”. Isto “pode provocar uma arritmia, que, nalgumas circunstâncias, leva a perturbações transitórias do nível de consciência, o que não é bom quando se está mergulhado dentro de água”, podendo mesmo gerar “uma paragem súbita do batimento cardíaco”.

“Se o nosso tubo digestivo estiver num processo ativo digestivo – por exemplo, após uma refeição copiosa em que vários estímulos digestivos estão presentes – esse choque térmico ou esse contraste mediado pelo nervo vago é um contraste ainda maior porque todo o sistema digestivo em funcionamento é também por si só mediado por esse nervo vago do sistema parassimpático [responsável por fazer com que o organismo se acalme após uma situação de stress]​”, esclareceu.

Portanto, “há aqui um conflito de interesses entre o nosso organismo que quer fazer a digestão e um estímulo cutâneo que pode desencadear uma reação excessiva do tal nervo vago”, completou o especialista.

Segundo o médico, “as refeições copiosas antes de um banho frio podem ser muito perturbadoras e podem causar algum enjoo, náusea e indisposição justamente porque existe esta estimulação vagal”.

Contudo, se fizermos “uma refeição muito ligeira e tivermos uma habituação progressiva àquilo que é a temperatura da água não ocorre nenhuma interferência porque o organismo vai-se adaptando”.

“Mas essa adaptação progressiva é muito mais difícil se houver um estímulo permanente e grande da área digestiva que entre em conflito com o estímulo cutâneo”, avisou ainda.

O médico concluiu que se trata de um mito se for generalizada a definição de tomar banho. Mas alertou: “Não é mito e há uma base científica ou há uma razão biológica para justificar que após uma refeição copiosa se seja muito prudente na acessibilidade à água não só por causa do choque térmico mas por causa do próprio processo digestivo”.

ZAP //

4 Comments

  1. Aqui a questão é que é muito difícil sabermos se estamos ou não em condições de podermos ir para o banho depois de uma refeição. Lembro-me de quando era criança haver a regra das três horas que eram respeitadas. Ao minuto! Claro que aí entrava uma espécie de jogo ou brincadeira dos meus pais, em que fazíamos exatamente as três horas de espera. Ao segundo. Olharmos para o relógio… 5, 4, 3, 2, 1… Vamos! 🙂

    Como não se sabe ao certo se podemos ou não, mais vale prevenir e considerar como regra geral.

    • Também eu sou desse tempo. Mas aligeirávamos no caso de uma refeição leve.
      O mais importante é mesmo evitar grandes choques térmicos repentinos. Parece-me o mais prudente.

  2. Também quando era mais jovem levei com esta sabedoria popular dos meus pais. Não me importei nada pois mais vale pecar pela segurança. Agora em adulto só me preocupo com o choque térmico e mais nada. Aliás, em casa nunca deixei de tomar um “douche” só porque acabei de fazer uma refeição, leve ou pesada. A água está quentinha e nunca me fez diferença nenhuma.

  3. Num banho de água quente não há qualquer problema. Num banho de água fria ou muito quente aí sim, temos um problema de conflito no hardware e um crash por causa de um dos nossos defeitos do projectista 🙂

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