Os combustíveis fósseis usados para produção de energia são considerados um grande poluente pelo público, mas a gasolina e o gasóleo poderão ser mais inofensivos do que certas químicos e objetos usados no dia-a-dia.
A natureza da poluição do ar está a mudar drasticamente à medida que os automóveis se tornam menos poluentes. Isso faz com que produtos de cuidados pessoais, tintas, produtos de limpeza e outros agentes que contêm substâncias químicas se tornem cada vez mais dominantes no que diz respeito a poluição.
“À medida que as emissões de poluentes atmosféricos diminuem, as fontes de poluição do ar estão a tornar-se cada vez mais diversas, explica Brian McDonald, investigador da universidade do Colorado e principal autor do estudo, publicado na semana passada na Science.
O estudo centrou-se numa classe de produtos químicos que emitem “compostos orgânicos voláteis”, os COVs – substâncias odoríferas à base de petróleo que, no ar exterior, podem contribuir para a formação de ozono, ou mesmo poluição perigosa em pequenas partículas.
A contribuição destes produtos que usamos no nosso dia-a-dia foi significante para a carga de COVs, até agora subestimada. Embora possamos encontrar estes compostos voláteis em árvores ou automóveis, o estudo cita particularmente os “pesticidas, revestimentos, tintas, adesivos, produtos de limpeza e produtos de higiene pessoal“.
Apesar de serem usados em quantidades 15 vezes inferiores à gasolina e gasóleo, estes produtos correspondem a metade da poluição atmosférica registada nas cidades.
O que estes produtos têm em comum, referem os cientistas, é o cheiro. “Quando alguém está a usar perfume, esse cheiro dissipa-se, havendo troca com o ar exterior”, explica McDonald, citado pelo Science Alert.
As descobertas não significam que estas substâncias são perigosas para se respirar em ambientes fechados – o estudo não analisa essa questão – mas sim que, ao ar livre, as substâncias interagem com a luz solar e outro tipo de substâncias, passando por reações químicas que contribuem para a poluição do ar exterior.
“O nosso objetivo com este estudo é aumentar a consciencialização”, disse uma das autoras do estudo, a investigadora Jessica Gilman.
O estudo baseou-se em abordagens diversas: inventários de produção industrial de produtos contendo COVs, amostragens de dados de ar ao ar livre e modelos em execução de como as partículas se movem de ambientes internos para ambientes externos e vice versa.
Em relação a poluição, temos tendência para nos concentrarmos em emissões industriais ao ar livre. No entanto, este estudo prova que os produtos químicos voláteis são agora uma fonte de emissão relativamente mais importante.