Pentágono conclui que imagens mostraram crianças na área do ataque com drone que matou civis em Cabul

soldiersmediacenter / Flickr

Soldado norte-americano no Afeganistão

O Departamento de Defesa dos Estados Unidos reconhece que havia imagens que provavam a presença de civis, mas considera que o ataque com drone de Agosto em Cabul não violou a lei internacional.

Segundo o Pentágono, o ataque com drone que matou 10 civis afegãos em Agosto, em Cabul, não violou a lei internacional e foi um “erro honesto”.

O ataque em questão surgiu depois da explosão nas imediações do aeroporto da capital afegã levada a cabo pelo ISIS-K — o braço do Estado Islâmico no Afeganistão —, onde na altura milhares de pessoas estavam a tentar fugir do país depois da saída das tropas da NATO e da reconquista do país por parte dos talibãs. Mais de 170 pessoas morreram.

Os EUA responderam com um ataque com drone contra uma carrinha onde alegaram estar terroristas que estavam a preparar um novo ataque contra o aeroporto. Os serviços de inteligência norte-americanos tinham a informação de que um membro do ISIS-K ia usar um Toyota Corolla branco para cometer um segundo atentado no aeroporto. O ataque com drone avançou quando a equipa detectou um veículo parecido nas imediações de um conhecido local de reunião dos terroristas e uma mala de transporte de computadores – o mesmo objecto usado pelo militante do ISIS-K no aeroporto.

“Como se viria a constatar, e podemos afirmar agora, tratava-se apenas uma mala de computador. Não começámos a perseguir o Toyota Corolla que devíamos ter perseguido”, afirmou o tenente-coronel Sami Said, que é também inspector-geral da Força Aérea norte-americana.

No entanto, os relatos da imprensa local e uma investigação do The New York Times concluíram que, na verdade, as 10 vítimas foram todas civis, incluindo sete crianças.

Depois da imprensa ter denunciado o caso, o Pentágono voltou atrás e confessou que os mortos não eram terroristas, mas sim civis, com o General Frank McKenzie a falar num “erro trágico“.

Agora, a investigação do Departamento de Defesa dos EUA concluiu que as imagens de vídeo mostravam que pelo menos uma criança estava presente na área do ataque dois minutos antes deste ser lançado, segundo o tenente-coronel Sami Said, que é também inspector-geral da Força Aérea norte-americana.

O relatório apontou também vários erros de execução, uma interpretação irresponsável sobre os factos e falhas da comunicação que levaram ao ataque, isto depois da CNN ter avançado que a CIA terá alertado para a presença de civis na área antes do drone ter avançado.

“A avaliação dos indivíduos na área do alvo antes do ataque era errada”, lê-se num documento divulgado na quarta-feira.

Apesar destas falhas, Said reitera que o ataque “não foi uma acção criminosa, nem resultou de negligência” e que os “indivíduos envolvidos no ataque acreditaram na altura que estavam a neutralizar uma ameaça iminente”. “Não ficamos indiferentes à severidade do resultado e ao facto de termos matado 10 civis afegãos”, sublinhou.

Said também não recomendou sanções para os responsáveis, mas os comandantes, que receberam o relatório na totalidade na segunda-feira, têm a opção de decidir sobre qualquer acção disciplinar que queiram adoptar. O relatório na totalidade não foi divulgado publicamente.

“Apesar desta investigação ter tido a vantagem de ter tempo considerável para avaliar a informação disponível durante o ataque, aqueles que o executaram não a tiveram. O que é claro agora é que compreensivelmente menos óbvio no momento”, lembrou o inspector-geral da Força Aérea.

O relatório também deixa recomendações sobre o que fazer para prevenir erros no futuro em ataques de drone de “auto-defesa” semelhantes, em circunstâncias em que as provas recolhidas exigem uma decisão rápida, de forma a evitar-se interpretações precipitadas, aumentar-se a consciência situacional entre a equipa que coordena o drone e outras equipas e também revisões aos procedimentos usados para se verificar a presença de civis.

Adriana Peixoto, ZAP //

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