Oito pessoas morreram, esta quarta-feira, numa aldeia na Guiné-Bissau, depois de terem sido forçadas a ingerir uma “poção” por alegadas práticas de feitiçaria e envolvimento em mortes de crianças. O objetivo era “despistar feiticeiros”.
Oito idosos morreram na aldeia de Culadje, norte da Guiné-Bissau, após ingerirem uma substância alegadamente tóxica que lhes foi dada para determinar se eram feiticeiros.
O administrador local, a mais alta autoridade do Estado guineense, Bacar Sadjo adiantou à Lusa que os os cinco homens e três mulheres morreram na quarta-feira, depois de terem sido obrigados a ingerir uma substância que se acredita ser tóxica.
A ação, prosseguiu Sadjo, foi conduzida por um grupo de pessoas, supostamente recrutadas por aldeões de Culadje, em vilas vizinhas da parte senegalesa, para “despistar feiticeiros” na vila.
“Essas pessoas que acabaram por morrer foram obrigadas a ingerir uma substância que os aldeões acreditam que tem poderes para revelar quem é feiticeiro. Infelizmente, por serem pessoas idosas, muitas não resistiram e morreram”, explicou o administrador de São Domingos.
Bacar Sadjo lamenta o que considera ser “uma verdadeira tragédia”.
Mortes misteriosas de crianças em causa
A população de Culadje acredita que as mortes recentes de crianças ainda por explicar, naquela comunidade, estariam a ser causadas por feiticeiros.
“Pensamos que não houve mais mortes nessa prática de ingestão de bebidas supostamente tóxicas porque trouxemos muitos aldeões para o hospital de São Domingos. São pessoas idosas, fracas, logo ao beberem essa substância não iam aguentar”, observou o administrador.
Neste momento, estão internados cerca de trinta idosos da aldeia de Culadje, em tratamento médico, no hospital de São Domingos.
Estão ainda detidas cerca dez pessoas, consideradas responsáveis pela contratação dos ‘videntes’ para detetar os feiticeiros.
Um dos detidos é o Comité (autoridade tradicional) de Culadje, que também foi obrigado a ingerir a substância por ser um idoso na aldeia, explicou Bacar Sadjo.
“O Comité estava detido e a passar mal na cela, foi retirado e levado ao hospital”, disse Sadjo.
Acusações sobre práticas de feitiçarias são recorrentes entre elementos das comunidades guineenses, sobretudo nas zonas rurais.
ZAP // Lusa