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Pela ciência, o cérebro de um filósofo chinês foi congelado. Os chineses estão chocados

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O proeminente filósofo chinês Li Zehou

Os familiares do proeminente filósofo chinês Li Zehou, que faleceu há dois anos, cumpriram na altura o seu último desejo de ter o cérebro congelado como uma contribuição para a investigação científica. A revelação causou agitação nos meios académicos chineses.

O cérebro do falecido filósofo chinês Li Zehou, que morreu em 2021, nos Estados Unidos, foi preservado criogenicamente em nome da investigação científica, dando cumprindo os seus últimos desejos.

A revelação, recentemente divulgada à imprensa chinesa por Ma Qunlin,  amigo de Li e editor dos seus livros, provocou um aceso debate entre os intelectuais chineses, reporta o South China Morning Post.

Segundo Ma, o cérebro do filósofo chinês encontra-se conservado criogenicamente no Arizona, nas instalações da Alcor Life Extension Foundation, fundação especializada na conservação de restos humanos.

Li Zehou, figura proeminente na estética e filosofia chinesas, teve um impacto significativo nos meios académicos do país nos anos 80, e ficou conhecido pela sua posição crítica durante as manifestações pró-democracia de 1989 em Pequim. Como resultado, os seus livros foram desde então banidos na China.

Depois de se mudar para os EUA nos anos 1990, Li continuou a contribuir, até à sua reforma, com ensaios no campo da filosofia.

A decisão de Li de ter o seu cérebro preservado enquadra-se no seu desejo de longa data de testar a sua teoria estética “ji dian”, que defende que a exposição à história e cultura pode deixar marcas físicas no cérebro.

O filósofo esperava que futuros avanços na ciência cerebral pudessem validar a sua teoria, identificando vestígios da cultura chinesa no seu cérebro.

Em 2010, Li divulgou publicamente os seus desejos numa entrevista à revista Southern People Weekly, de Guangzhou. “Não quero um epitáfio. Mas quero o meu cérebro congelado. Descongelem-no daqui a uns 300 ou 500 anos”, disse então o filósofo.

Li reiterou esta vontade em 2020, pouco antes do seu 90º aniversário, e contribuiu mesmo com cerca de 75 mil euros para suportar os custos da preservação criogénica do seu cérebro.

A notícia, agora trazida a público, não caiu propriamente bem entre os académicos chineses e a opinião pública do país. O ato de preservar criogenicamente o cérebro contradiz as normas culturais chinesas tradicionais relativas ao tratamento dos falecidos, que promove a preservação dos corpos.

Apesar das suas próprias dúvidas e da natureza não convencional do seu pedido, a família de Li deu seguimento à vontade do filósofo, e avançou com a preservação do seu cérebro —  num exemplo raro de conflito entre a ciência e a filosofia de uma forma profundamente pessoal.

O legado de Li estende-se para além das suas contribuições filosóficas, desafiando tanto as fronteiras científicas como culturais com o seu último ato.

Resta saber se, daqui a uns 300 ou 500 anos, os cientistas serão capazes de identificar no cérebro do filósofo as marcas físicas da sua exposição à cultura e história que vivenciou.

Infelizmente, não estaremos cá para saber — exceto, claro, se por acaso conseguirmos que o nosso corpo seja também preservado criogenicamente por uns quantos séculos… e sobreviva ao profundo sono gelado.

ZAP //

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