As “Pedras Parideiras” em Portugal são únicas no mundo (e fascinam os cientistas)

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Cssantos / Wikimedia

Pedras Parideiras da Serra da Freita

No norte de Portugal, um fenómeno geológico tem intrigado os cientistas há décadas: as raras Pedras Parideiras, ou “Pedras do Nascimento”, que parecem gerar milagrosamente rochas bebés.

No Arouca Unesco Global Geopark, um museu geológico ao ar livre que há muito que atrai a comunidade científica devido ao grande número de maravilhas geológicas que contém, há 41 geossítios distintos no total.

Estes incluem alguns dos maiores fósseis de trilobites do mundo – artrópodes que viveram há mais de 500 milhões de anos –, bem como falhas geológicas e formações rochosas sobrenaturais esculpidas pela água ao longo de milhões de anos.

Mas uma das suas principais atrações é um fenómeno geológico único.  A pequena aldeia de Castanheira, aninhada na encosta da Serra da Freita, abriga as Pedras Parideiras — rochas com 300 milhões de anos que parecem “dar à luz” pedras “bebé” menores. Elas são diferentes de qualquer outra rocha do planeta.

Em 2012, foi até construído um Centro de Interpretação dedicado ao estudo deste misterioso granito e dos seus “bebés” para ajudar os visitantes a compreender melhor o que viam. Grandes pedras enchem o pátio coberto, cada uma pontilhada com pequenos círculos pretos como se estivessem a usar um vestido de bolinhas.

Dentro havia mais dessas rochas. Olhando mais de perto, os pontos pretos não são apenas marcas planas; são pedras tridimensionais dentro da rocha maior.

“Estimamos que tanto estas rochas como as pedras mais pequenas dentro delas tenham sido criadas há cerca de 320 a 310 milhões de anos”, disse Alexandra Paz, geóloga do Arouca Geopark.

“As grandes rochas ‘mãe’ de granito parecem empurrar para fora estes nódulos ‘bebés’ feitos de biotite [um mineral comum na formação de rochas] dentro deles. Essas são as pedras negras menores que podemos ver”, explicou Paz, apontando os nódulos, “daí o nome ‘Pedras Parideiras‘.”

As pedras-mãe entram depois em “trabalho de parto“, com as rochas pequenas de biotita a desprenderem-se e tornar-se rochas inteiramente novas, algumas com formas ovais e achatadas, semelhantes a amêndoas gigantes negras.

Esses nódulos são mais resistentes aos intemperismos do que a rocha maior de granito e, depois de serem agredidos pelos ventos e pela chuva, contraindo e expandindo com o calor no verão e as geadas no inverno, são finalmente forçados a sair.

Em algum momento no futuro distante, todas as pequenas pedras serão empurradas para fora e a rocha-mãe será como qualquer outra laje de granito. E enquanto milhares dessas pedras bebés podem ser vistas perto da superfície das rochas, ninguém sabe exatamente quantas mais estão localizadas no fundo da pedra mãe, à espera de “nascer” daqui a centenas de anos.

Fenómeno único no mundo

O fenómeno é incrivelmente raro. Enquanto o granito orbicular (rocha granítica com formas esféricas no interior), como as Pedras Parideiras, se encontra num punhado de países, é apenas em Arouca que a rocha parece “dar à luz” estes discos únicos de forma biconvexa.

Isto deve-se às condições exatas que surgiram para criar estas rochas. O geoparque está localizado no topo de um sistema de falhas e, na época em que as Pedras Parideiras foram criadas, a paisagem era volátil.

As placas tectónicas colidiram umas com as outras, forçando a Terra para cima na criação das poderosas Montanhas Mágicas. Os terramotos causaram fissuras na terra e a pressão acumulada fez com que a lava fosse expelida para a superfície e o magma fluísse profundamente no subsolo.

Embora os geólogos ainda não entendam completamente por que esses nódulos menores são produzidos, Artur Agostinho de Abreu e Sá, coordenador científico do Arouca Geopark e professor associado de geodinâmica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, disse que o fenómeno está associado à composição química do magma e à sua interação com a rocha, bem como ao movimento tectónico que existia quando se formou.

As teorias atuais observam que a rocha derretida envolveu estas pedras menores antes de finalmente endurecer oito milhões de anos depois; ou que a pressão – “semelhante à de abanar uma garrafa de champanhe fechada”, disse Sá – causou pequenas fraturas semelhantes a bolhas na rocha, que se tornaram as pedras bebé.

Estes nódulos bebês são únicos porque foram ligeiramente achatados devido à pressão das placas tectónicas da Terra. “Ao olhar para um afloramento das Pedras Parideiras, é como se estivéssemos a admirar uma espécie de fotografia que conta a história da rocha. Isto ocorre porque durante o processo de cristalização da rocha, ela preservou a direção das forças tectónicas que estavam a mexer-se quando foi criada”, disse Sá.

Lendas locais

As rochas, que se estendem numa área equivalente a 10 campos de futebol, são também o centro de muitas lendas locais.

Muitos moradores acreditam que as Pedras Parideiras têm o poder de ajudar casais com problemas de fertilidade. De acordo com o mito urbano, dormir com uma pedra debaixo da almofada ajuda a engravidar.

A teoria espalhou-se de tal forma que, na década de 1990, as rochas-mãe da Castanheira ficaram quase completamente desprovidas de nódulos bebés ao nível da superfície, pois as pessoas de todo o país e até do estrangeiro viajaram na esperança de obter a tão desejada “pedra da fertilidade“.

“Embora obviamente não haja nenhuma comprovação científica de que estas pedras ajudem os casais a engravidar, é curioso notar vários casos de sucesso de quem conseguiu esses nódulos e os colocou debaixo da almofada à noite”, disse Sá, acrescentando que já foi contactado por uma brasileira que teria engravidado após levar uma pedra de Arouca.

O parque recomenda agora aos visitantes que não levem as pedras do local, já que ests são importantes para a pesquisa científica. No entanto, há um programa experimental que permite aos casais “alugar uma Pedra Parideira” durante um tempo determinado.

Os casais interessados ​​podem contactar o Geoparque para consulta. Embora a principal razão por trás disso seja impedir que as pessoas roubem as pedras, sua introdução perpetuou o mito dos seus poderes de fertilidade.

ZAP // BBC

2 Comments

  1. As velhinhas da Castanheira tem os bolsos cheios delas há espera de vender a quem visita a aldeia. E se forem fazer um pouco do PR depois de uma chuvada, encontram dezenas dessas pedras.

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