Passos Coelho: “Ilusões sobre milagre da dívida podem estar a chegar ao fim”

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Manuel de Almeida / Lusa

Pedro Passos Coelho

O ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho alerta que “a ilusão” da consolidação orçamental dos últimos anos poderá estar a chegar ao fim e que a elevada carga fiscal indireta pode ser um travão à recuperação económica.

“Parece que as ilusões sobre o milagre da dívida e da consolidação dos últimos anos poderão estar a chegar ao fim”, advertiu o anterior chefe do executivo português num texto de 40 páginas inserido no livro “Portugal – Alemanha Convergência e Divergências”, a que a agência Lusa teve acesso, e que estará em breve nas livrarias.

Passos Coelho contestou também a ideia “que vem sendo propalada” em Portugal de que a dívida europeia não terá custos para os países periféricos, considerando-a “manifestamente enganadora”.

Apesar de dissertar maioritariamente sobre as políticas europeias, o antigo primeiro-ministro deicou vários recados para Portugal, criticando sobretudo os impostos elevados que considera ser o sustentáculo da consolidação orçamental.

“A carga fiscal indireta elevada que ajuda à ilusão de ter ‘contas certas’ sem políticas restritivas acaba por ser um travão à recuperação quando as crises batem à porta” e “ainda mais em ambientes recessivos“, advertiu.

O ex-líder do PSD considera que “os esforços de redução orçamental em países como Portugal continuaram a depender sobretudo do sacrifício do investimento e na concentração da ‘austeridade’ orçamental em torno de uma carga fiscal crescentemente elevada, centrada na tributação indireta”.

“Como o tempo dos juros baixos está a ficar ultrapassado com o ressurgimento da inflação, a política monetária não só não ajudará a pagar os custos de financiamento daqui para a frente, como constituirá uma fonte de pressão para que os governos também imponham políticas mais restritivas para ajudar ao controlo da inflação”, referiu igualmente.

O ex-chefe do executivo PSD-CDS insistiu que “toda a dívida tem de ser paga, e esta dívida contraída nos mercados internacionais pela Comissão Europeia deverá contar com recursos próprios, que virão dos bolsos dos contribuintes de toda a União, para ser amortizada”.

“Se, por qualquer razão (relacionada por exemplo com a dificuldade de os governos virem a aceitar esses recursos próprios tal como desenhados pela Comissão Europeia, ou dificuldade simplesmente de os parlamentos nacionais os virem a ratificar) esses custos tiverem de recair diretamente sobre os meios a serem garantidos pelos Estados, então ficará claro que, independentemente de serem contribuintes ou beneficiários líquidos dos fundos europeus, serão os países a diretamente a suportar os custos do financiamento, e verificar-se-á mais uma vez a máxima económica de que ‘não há almoços grátis'”, sublinhou.

Passos voltou então a deixar mais um recado para o executivo português: “No caso de Portugal e dos portugueses, portanto, esses fundos serão tudo menos oferecidos (já que sempre serão pagos, direta ou indiretamente) e a ilusão de que, sendo da União, ninguém tem de os pagar ou de que serão os contribuintes dos países excedentários a suportar em exclusivo esse financiamento é tudo menos realista”.

Recordando o período da pandemia em que “foram os Estados mais endividados aqueles que menos despenderam” em medidas de apoio aos setores afetados pela crise”, o ex-primeiro-ministro indica que Portugal esteve “entre os mais condicionados no conjunto da União Monetária”.

“Apesar da retórica mais despreocupada a propósito da dívida durante alguns anos, a verdade é que a memória dos tempos da crise do euro acabou por trazer algum travão na utilização de recursos públicos no apoio à recuperação económica”, disse.

Passos Coelho abordou também o passado para refutar a ideia de que a austeridade foi desnecessária.

“A ideia de que a crise trouxe uma ‘austeridade’ desnecessária e desumana por imposição dos credores e por falta de determinação dos devedores é outra caricatura demasiado irrealista (tanto no que respeita aos credores propriamente ditos, como relativamente a qualquer dos governos em Portugal – tanto o governo socialista que negociou o pedido de ajuda, quanto o governo que chefiei e que ajustou o memorando recebido e negociado anteriormente”, argumentou.

Quanto à posição da Alemanha nesse período, o ex-líder do executivo português escreveu: “Um aliado interessado em ajudar-nos a ultrapassar as dificuldades e a vencer a crise”.

No final do texto e depois de prever o fim das ilusões do “milagre da dívida”, mostra-se expectante quanto a uma inversão de políticas ao nível europeu.

“Veremos em breve se estamos perto de um virar de página no projeto europeu, ou se simplesmente viveremos com o fim das ilusões e prosseguiremos o equilíbrio instável em que nos temos habituado a viver”, conclui.

Lusa //

24 Comments

  1. Percebemos que ele tem de começar a aparecer para voltar ao poder. No entanto, não nos esquecemos que foi este o senhor que quis fazer mais (e pior) do que a troika, sem perceber as consequências da sua infantilidade ultra-liberal. Com a sua falta de sabedoria, conseguiu que a dívida já grande que tínhamos em 2010 (100% do PIB) tivesse subido para 134% do PIB. Se tivéssemos feito como a Espanha (que era aliás, a estratégia preferida da Alemanha e da França), o FMI não tinha entrado na equação e que mais de 200 mil portuueses qualificados emigrassem. E, como todos bem sabemos, o FMI acabou por declarar mais tarde que tinha errado na apreciação do problema económico-financeiro poortuguês. Caro Passos, deixe-se estar na reforma que não vai conseguir nada nas eleições presidenciais. O almirante consegue mais.

      • Estas a falar de certeza da geringonça psd\cds… Foi um circo com direito a birras. Já se sabe onde passou as luvas dos submarinos e do BES?

    • Ó Luís… só compreendo este comentário porque reparei que o mesmo foi feito depois do almoço.

      Diz o amigo; “Com a sua falta de sabedoria, conseguiu que a dívida já grande que tínhamos em 2010 (100% do PIB) tivesse subido para 134% do PIB.”
      Tem a noção que quando esse governo entrou em funções o Estado não tinha dinheiro nenhum?!!! Nem para pagar salários?!!!!! O amigo estava cá nessa altura?!! E o problema que se punha não era só não ter dinheiro. Também não tinha quem lhe emprestasse!!!!! Esteve em coma durante esse período, não percebeu o que se passou?!!! Foi precisamente por isso que o 44 assinou o acordo com a Troika que depois foi implementado pelo governo do psd cds. Só nos emprestaram dinheiro porque o país assinou um acordo com um vasto conjunto de reformas. Caso contrário, não nos emprestavam dinheiro!!! Esse aumento que refere, foi necessário para tapar o buraco deixado pelo 44 e restante gangue. É o dinheiro da Troika!!!!!
      O amigo devia abster-se de comentar depois do almoço. Sempre se poupava a certas figuras.

  2. Ficará para a História como o responsável pela destruição da economia, do trabalho, e da sociedade em Portugal, que já de si eram débeis, assim como o primeiro a dar início ao maior ataque jamais feito à Classe-Média Portuguesa. Os Governos do Sr. Primeiro-Ministro António Costa seguem o mesmo programa.

    • Ficará para História como o melhor primeiro-ministro de toda a nossa democracia, como um homem que fez o que tinha que ser feito mesmo que isso lhe custasse, como custou, as eleições.

      • 4 anos que não fez nada da cabeça dele. Apenas seguiu ordens e no fim foi buscar o famoso pac 4 do Sócrates LOOL O melhor com palas nos olhos e sem as birras do Portas ele tinha ainda sido pior.

      • Tem toda a razao. Só os tacanhos não vêm isso…O PS quando voltou ao Poder em 2015, pode aliviar o cinto, fazer nacionalizações, como a tap, etc., em virtude da austeridade imposta pelo PSD,

      • Um indivíduo medíocre, sem perfil para Primeiro-Ministro, lacaio dos liberais/maçonaria, que ao invés de fazer as reformas que o país precisava nada fez, intencionalmente, para manter o corrupto e anti-democrático regime liberal/maçónico. Foi o responsável pela destruição da economia, do trabalho, e da sociedade em Portugal, que já de si eram débeis, assim como o primeiro a dar início ao maior ataque jamais feito à Classe-Média Portuguesa. Os Governos do Sr. Primeiro-Ministro António Costa seguem o mesmo programa.

      • A diferença entre o ex-Primeiro-Ministro José Sousa e o ex-Primeiro-Ministro Pedro Coelho, é nenhuma.

  3. Voltamos ao tempo do terror que só ele consegue resolver…. Não consegue outra retórica aquele cérebro génio que precisou anos e anos para conseguir acabar a universidade com uma media mínima. Ou já toma comprimidos para memoria para não se esquecer de pagar os impostos…. Coitado não sabia.

  4. Mais um político português que traz às costas uma pesada mochila. Tecnoformas e outras macacadas afins cujo ministério público deveria ter investigado a fundo.
    Quanto ao seu papel enquanto Primeiro-Ministro, cumpriu. Foi de resto um dos melhores PMs que Portugal já teve. Talvez porque apenas tinha de executar o que a Troika decidiu. Mas, é mais um político português com uma mochila às costas.

  5. Todos sabemos que os reformados não têm poder reinvidicativo. Mesmo que tenham trabalhado toda a vida. Eu descontei desde os 12 anos de idade (era permitido crianças trabalharem e descontarem em 1966). Mas nunca me passou pela cabeça que um primeiro ministro me retirasse quase 1/3 da reforma. Só um ladrão egoísta e cego faz uma coisa dessas. Nunca roguei pragas a ninguém, mas vão pagando pelo que fazem.

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