Papa reduz poder da Opus Dei

Criada pelo sacerdote espanhol Josemaria Escrivá, cujo papel na ditadura de Francisco Franco continua envolto em controvérsia, a Opus Dei tinha conquistado um estatuto único na Igreja Católica durante o papado de João Paulo II.

Um decreto assinado pelo papa Francisco que entrou em vigor esta semana reduz o poder e a independência da organização católica conservadora Opus Dei.

A organização evangelizadora, cujo nome significa Obra de Deus, está presente em particular na Europa e na América Latina, e tinha conquistado estatuto significativo na Igreja Católica sob o papa João Paulo II.

No seu pontificado, a Opus Dei tornou-se uma espécie de superdiocese, única do tipo, que operava independente de fronteiras e respondia diretamente ao Papa.

A organização é acusada de fazer jogos secretos de poder nos bastidores, o que sempre negou.

As reformas, anunciadas pelo papa Francisco no documento Motu Proprio publicado a 22 de julho, fazem parte de mudanças mais amplas implementadas pelo atual pontífice para tentar modernizar e aumentar a transparência na Igreja Católica.

Quais são as mudanças

O decreto estabelece que o líder da Opus Dei – o prelado – deixa de ser nomeado bispo, e que a organização reportará ao Dicastério para o Clero, deixando de reportar ao Papa.

Além disso, a Opus Dei terá que apresentar a este órgão um relatório anual das suas atividades. Anteriormente, o relatório era apresentado de cinco em cinco anos.

“É preciso uma forma de governo baseada mais no carisma do que na autoridade hierárquica”, escreveu o papa Francisco no seu decreto.

Quarenta anos após o reconhecimento da Opus Dei por João Paulo II, em 1982, “Francisco procura acabar com uma estrutura excessivamente hierárquica“, afirmou Jesus Bastante, da publicação especializada Religion Digital, à agência AFP.

Fundada em 1928

Em carta aberta, o atual prelado da Opus Dei, Fernando Ocáriz, diz aceitar as mudanças e exortou os membros a seguir o apelo do papa “para difundir pelo mundo a chamada à santidade”.

Ao contrário dos seus dois antecessores, Ocáriz já não tinha sido ordenado bispo quando assumiu o posto, em 2017, durante o pontificado de Francisco.

O porta-voz do Opus Dei, Manuel Sanchez, afirmou que “alguns interpretaram as disposições da Santa Sé como  perda de poder. Não estamos interessados nesse tipo de raciocínio, porque para um católico não vale a pena usar categorias de poder ou categorias mundanas.”

A Opus Dei foi fundada em 1928 por Josemaria Escrivá de Balaguer. O sacerdote espanhol morreu em Roma em 1975 e foi canonizado em 2002 por João Paulo II. O seu papel na ditadura de Francisco Franco na Espanha continua envolto em controvérsia.

A Opus Dei diz ter atualmente cerca de 90 mil membros em todo o mundo, 98% dos quais são leigos, homens e mulheres, e os restantes 2% são sacerdotes. Os membros são encorajados a professar a fé em todas as partes das suas vidas, particularmente através do trabalho.