Papa Leão XIV foi acusado de reagir tarde a queixas de abusos sexuais de crianças

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Ettore Ferrari / EPA

O recém-eleito Papa Leão XIV, cardeal Robert Francis Prevost, dos EUA, abençoa os fiéis da varanda central da Basílica de São Pedro, na Cidade do Vaticano, em 8 de maio de 2025, após a sua eleição no segundo dia do conclave.

Em 2023, o recém-eleito Papa Leão XIV esteve envolvido numa grande polémica – quando três mulheres vítimas de pedofilia o acusaram de ter demorado a reagir às denuncias em relação a dois padres.

Em março, bem antes de se saber que Robert Francis Prevost viria a ser Papa, a Rede de Sobreviventes de Abuso por Padres (SNAP) enviou uma carta à liderança do Vaticano, detalhando a conduta do cardeal norte-americano, em dois incidentes separados de abuso sexual por padres. A associação exigia uma investigação.

Segundo a Will County Gazette, a carta detalhava acusações de “inação” durante o seu tempo como provincial agostiniano nos EUA e como bispo de Chiclayo, no Peru, onde Prevost esteve de 2014 a 2023.

A carta alegava que Prevost não investigou denúncias graves de abusos sexuais a crianças – incluindo num caso de três menores peruanas que disseram que as suas denúncias foram ignoradas e mal tratadas.

À Will County Gazette, Eduardo Lopez de Casas, sobrevivente de abuso clerical e vice-presidente nacional da SNAP, com sede em Chicago, conta a história do ex-presidente e padre da Providence Catholic H.S., Richard McGrath, que diz ter tido luz verde de Prevost para permanecer naquela escola, mesmo a meio de um escândalo de abuso sexual que datava da década de 1990.

O antigo presidente e diretor da Providence Catholic H.S., McGrath, que trabalhou na escola de 1985 até 2017, foi finalmente demitido em 22017, depois de um aluno ter relatado ter visto uma imagem de um menino nu no seu telemóvel.

No entanto, Lopez de Casas afirma que Prevost encobriu McGrath, “permitindo que abusasse de alunos por mais de uma década antes de sua demissão em 2017”.

O outro caso relatado é do padre James Ray, acusado de abuso sexual em Waukegan e Wauconda (EUA), que Prevost, alegadamente, permitiu viver na zona onde terá levado a cabo os crimes sexuais.

“Prevost foi cúmplice”

“Com Prevost, definitivamente não queremos entrar noutra situação em que um cardeal que tem coisas más no armário se torne Papa”, disse Lopez de Casas, ao jornal ainda antes da eleição.

“Porque isso é como um a facada nas costas de cada vítima. Os sobreviventes em todo o mundo não deveriam ter de ver homens responsáveis por encobrimentos chegarem ao topo da Igreja Católica“. “Se um padre sabia dos abusos e não disse nada — se viu e ficou calado — não é um bom padre. Foi cúmplice“, acrescentou.

“Um padre não precisa de tocar numa criança para ser mau”

A SNAP lançou recentemente uma iniciativa chamada Conclave Watch para denunciar os candidatos a Papa que, segundo a organização, encobriram abusos sexuais. Entre eles estava Prevost.

“Em qualquer outra organização, se alguém está envolvido num encobrimento, é afastado. Mas na Igreja Católica, essas pessoas continuam a subir na hierarquia. E isso é único. É parte do motivo pelo qual a Igreja está em declínio. E as pessoas estão a começar a aperceber-se”, considerou Lopez de Casas.

Um relatório de 2025 do Centro de Investigação Aplicada no Apostolado (CARA) da Universidade de Georgetown documenta 16.276 queixas de abusos sexuais na Igreja Católica nos EUA até 2023. A maioria envolvia abusos que começaram antes de 1980.

Miguel Esteves, ZAP //

1 Comment

  1. Lamenta-se uma omissão tão grave nestes casos será que foi eleito para abafar e não ressarcir as vitimas, vamos esperar para ver para não emitirmos juízos de valor que poderão estar a influenciar opiniões mas a omissão face a outras comédias e tragédias mundiais provocará eventualmente um cisma com consequências devastadoras
    O corpo também se pronúncia e ontem viu-se um homem com expressões muito rígidas e complicadas de interpretar enfim, vamos-lhe dar o benefício da dúvida face ao medo, à ignorância e à miséria dos desprotegidos

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