A gema de ovo evitava rugas, amarelecimento e problemas de humidade na pintura. Pintores como Da Vinci usavam-na para fabricar as suas tintas.
Os pintores do Renascimento, como Leonardo da Vinci ou Sandro Botticelli, fabricavam as suas tintas utilizando principalmente materiais naturais e processos artesanais.
A maioria das tintas eram feitas a partir de pigmentos em pó, que eram misturados com um aglutinante. É aqui que entra o ovo, que era um aglutinante usado para criar uma pasta que pudesse ser aplicada no quadro.
A adição de gema pode evitar rugas, amarelecimento e problemas de humidade na pintura, descobriram os autores de um novo estudo. O uso de ovo tem um longo historial, aparecendo em obras como os murais do Palácio de Nestor em Pylos, datadas de 1.200 aC.
Tudo começou a mudar no século XV. Os pintores europeus começaram a favorecer o uso de óleo como aglutinante. A abordagem foi fundamentalmente impulsionada pelos primeiros pintores holandeses, como Jan van Eyck.
Ainda assim, pintores como Leonardo da Vinci ou Sandro Botticelli continuaram a usar ovo nas tintas das suas obras, escreve o The Guardian.
“Ovo é usado para modificação e ajuste das propriedades da tinta”, disse Patrick Dietemann, do Doerner Institut, em declarações ao jornal britânico.
Para perceber melhor o fenómeno, a equipa de investigadores criou três tipos de tinta. A primeira era feita com óleo de linhaça; a segunda usou a mesma mistura, mas adicionou umas gotas de gema de ovo; e a terceira usou uma solução de gema de ovo diluída, que depois de seca foi moída e dispersa em óleo.
A primeira foi feita a partir de pigmento moído com óleo de linhaça, a segunda utilizou a mesma mistura mas com a adição de algumas gotas de gema de ovo, e a terceira foi criada misturando um pigmento com uma solução de gema de ovo diluída – depois de seca, foi moída e misturada com óleo.
Os resultados, publicados na revista Nature Communications, revelam como a gema pode influenciar a rigidez da tinta, dependendo de como é adicionada e do pigmento utilizado.
Essencialmente, tintas muito espessas podiam ser feitas ao adicionar algumas gotas de gema de ovo. Esta tinta seria particularmente útil no impasto, uma técnica onde a tinta é espalhada numa área da tela, ou mesmo em toda a tela, de forma tão espessa que as marcas dos objetos utilizados para pintar são visíveis na pintura.
Adicionar gema de ovo também evitava que a superfície da tinta rachasse ou enrugasse durante a secagem, de acordo com o autor do estudo, Norbert Willenbacher, do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe.