Os romanos comiam fast food. O prato preferido eram McTordos

Nachopicture / Wikimedia Commons

Os restos de tordos encontrados numa fossa de um estabelecimento de fast food do século I a.C. na antiga cidade romana de Pollentia, na ilha de Maiorca, foram analisados por arqueólogos que descobriram algo interessante.

No estudo publicado no International Journal of Osteoarchaeology os arqueologistas analisaram os restos de tordo e concluíram que estas pequenas aves canoras não eram um alimento exclusivo de banquetes de luxo, como se pensava, mas sim um “fast food” de rua muito popular entre a população urbana.

Segundo o LBV, os arqueólogos descobriram uma fossa ou latrina que estava ligada a uma taberna que vendia comida e bebida na rua. Entre os restos de lixo acumulados encontravam-se ossos de porco, conchas e peixes, e até 165 ossos de tordo-canoro (Turdus philomelos).

Estes restos não estavam misturados com outros resíduos domésticos, mas encontravam-se num contexto claramente comercial. A fossa estava associada a um local que tinha ânforas embutidas no balcão, como as encontradas em Pompeia, explica o estudo, pelo que o mais provável é que os tordos fossem vendidos para consumo imediato, algo como “fast food”.

Até agora, as fontes históricas romanas, como os livros de receitas de Apício ou os textos de Plínio, o Velho, falavam dos tordos como uma iguaria cara, criada em quintas especiais e servida em festas e banquetes de elite. Até o Édito sobre os Preços Máximos do ano 301 d.C. menciona-os como um produto de luxo.

Mas os ossos de Pollentia contam uma história diferente: os restos mortais apareceram num estabelecimento humilde, não numa vila aristocrática e, além disso, faltam os fémures e os úmeros, o que indica que as aves foram esfoladas e cozinhadas inteiras, possivelmente fritas em óleo, para serem vendidas e consumidas no local.

A presença destas aves num contexto não elitista sugere que eram amplamente consumidas, fazendo parte da dieta quotidiana e da economia urbana, observam os investigadores. Além disso, os tordos, que migravam para Maiorca no inverno, eram um recurso abundante e barato nessa altura.

A análise dos ossos revelou que quase todos os esternos, ou ossos do peito, foram partidos intencionalmente. Quando os esternos foram retirados, foram quebrados durante a preparação, observa o estudo, algo que se alinha com as técnicas culinárias mediterrânicas ainda hoje utilizadas: achatar a ave para a cozinhar inteira, tal como se faz, por exemplo, com a codorniz.

Além disso, a ausência de marcas de corte ou de queimaduras sugere que não foram assados, mas sim fritos em óleo, um método rápido e ideal para a venda ambulante. Tratava-se de um prato normalizado e otimizado para o serviço comercial, conclui a investigação.

Olaf Tausch / Wikimedia Commons

Ruínas da cidade romana de Pollentia em Maiorca

Porque é que eram considerados um luxo?

As fontes romanas falavam de tordos engordados com figos ou servidos com molhos elaborados, algo que só os ricos podiam pagar. Mas a investigação em Pollentia mostra que, no inverno, quando chegavam os bandos migratórios, os caçadores apanhavam-nos com redes ou com uma espécie de cola (técnica ainda utilizada em alguns locais) para os venderem nas bancas de rua.

A diferença estava na época e no tratamento: os “pobres” comiam tordos selvagens, sazonais, fritos e vendidos na rua, enquanto os “ricos” os consumiam criados em cativeiro, engordados e servidos no verão, ou seja, fora de época, tal como Plutarco descreve num banquete de Luculo.

Pollentia não é um caso isolado; noutros locais, como Pompeia, foram encontrados ossos de aves perto de um thermopolium (bar de comida), e em algumas vilas rurais do Reino Unido apareceram também restos semelhantes.

Praticamente todas as cidades romanas tinham os seus estabelecimentos de “fast food”, tabernae como a de Pollentia, que vendiam não só vinho, mas também pratos rápidos para trabalhadores, comerciantes ou viajantes.

O estudo conclui finalmente que tordos, embora minoritários na dieta romana em comparação com a carne de porco, representam uma faceta importante do consumo urbano. A evidência de Pollentia desafia a ideia de que eram apenas um marcador de estatuto de elite. É curioso como algumas coisas mudaram pouco se pensarmos nas asas de frango de hoje em dia.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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