Os primeiros seres humanos caçavam camelos de 3 metros na Mongólia

A espécie Camelus knoblochi viveu os seus últimos dias na Mongólia — e pode ter sido uma presa para os nossos antepassados humanos.

Novas pesquisas de arqueólogos na Mongólia, Rússia, e Estados Unidos estão a revelar informações novas sobre os antigos camelos gigantes que outrora vagueavam pela Ásia Central, de acordo com o All That’s Interesting.

O estudo, publicado a 14 de março na Frontiers in Earth Science, analisa o Camelus knoblochi, uma espécie de camelo gigante que os investigadores acreditam agora que coexistiu com os primeiros seres humanos e outros camelos selvagens, que ainda hoje vivem na Ásia.

Embora já tenham sido encontrados restos de C. knoblochi em toda a Ásia, desde o Mar Cáspio à Sibéria, os autores do estudo acreditam que a Mongólia foi o último lar desta espécie gigante, antes da sua extinção.

“Aqui mostramos que o extinto camelo Camelus knoblochi persistiu na Mongólia até que as mudanças climáticas e ambientais o levassem à extinção, há cerca de 27.000 anos”, sublinha John W. Olsen, co-autor do estudo e professor de Antropologia na Universidade do Arizona.

Olsen et al

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O Camelus knoblochi percorreu a Ásia Central durante 250.000 anos. A espécie tinha quase 3 metros de altura e pesava mais de 997 kg, quase o dobro do tamanho dos camelos selvagens modernos.

Olsen, juntamente com os outros investigadores do estudo, explica que as alterações climáticas levaram extinção do camelo gigante no final da última Idade do Gelo.

No final da era do Pleistoceno — à cerca de 129.000 e 11.700 anos – o clima da Mongólia tornou-se cada vez mais árido, mudando lentamente para um deserto. Estas novas condições tornaram mais difícil a sobrevivência do enorme C. knoblochi.

“Aparentemente, o C. knoblochi estava mal adaptado aos biomas do deserto, principalmente porque tais paisagens não podiam suportar animais tão grandes, mas talvez houvesse também outras razões”, sublinham os autores do estudo.

“A disponibilidade de água doce e a capacidade dos camelos para armazenar água dentro do corpo, mecanismos de termoregulação mal adaptados e competição de outros membros da fauna que ocupavam o mesmo nicho trófico” são algumas das razões enumeradas pelos investigadores.

Esta é a primeira vez que foram encontrados restos fossilizados de C. knoblochi na Mongólia. Arqueólogos analisaram cinco ossos de pernas e pés de C. knoblochi descobertos na Caverna Tsagaan Agui, no sul da Mongólia, em 2021, bem como um que foi encontrado no deserto de Gobi.

Os ossos fossilizados foram encontrados juntamente com os restos de outros animais que vagueavam pela Ásia Central na altura, tais como lobos, hienas das cavernas, rinocerontes, cavalos, burros selvagens, e gazelas mongóis.

A grande variedade de ossos sugere que o C. knoblochi viveu num ambiente húmido, constituído por terras baixas e montanhas, em vez do deserto árido que hoje cobre grande parte da Mongólia.

“Concluímos que o C. knoblochi foi extinto na Mongólia e na Ásia como resultado das alterações climáticas que provocaram degradação do ecossistema e intensificaram o processo que tornou o local árido”, nota Alexey Klementiev, o autor principal do estudo e paleobiólogo do Ramo Siberiano da Academia de Ciências da Rússia.

No entanto, os autores não deixam de parte outras razões que possam ter contribuído para a extinção do camelo gigante — e uma delas é a interação humana.

O C. knoblochi viveu ao mesmo tempo que Neandertais e Denisovanos — duas espécies de humanos antigos. A caça dos humanos pode ter contribuído para o número já em declínio dos camelos, que acabaram por ser extintos.

Esta teoria deve-se a um dos ossos da perna dianteira de C. knoblochi que foi encontrado na Gruta de Tsagaan Agui.

O fóssil data de há entre 59.000 e 44.000 anos e mostra vestígios de carnificina de humanos, bem como sinais de que as hienas o roeram.

A interação entre os humanos e estes camelos selvagens não é conhecida, mas os investigadores não duvidam que foram cruciais para a existência do Homem.

Os camelos domésticos eram e ainda são utilizados para o transporte, mas os cientistas não acreditam que o C. knoblochi tenha servido o mesmo propósito.

O Camelus knoblochi é um parente próximo do Camelus ferus, a mesma espécie de camelo selvagem que ainda hoje percorre partes do noroeste da China e do sudoeste da Mongólia.

“Não temos provas materiais suficientes relativamente à interação entre humanos e C. ferus no Pleistoceno, mas provavelmente não diferiu das relações humanas com o C. knoblochicomo presa, mas não como alvo de domesticação“, explica Arina M. Khatsenovich, co-autora e investigadora no Instituto de Arqueologia e Etnografia da Academia de Ciências Russa.

As duas espécies selvagens provavelmente davam carne aos seres humanos, e os caçadores colhido o seu couro, peles e ossos para ferramentas e vestuário.

Atualmente, a espécie C. ferus está criticamente ameaçada. Idealmente, esta nova investigação sobre a extinção de C. knoblochi ajudará os cientistas a descobrir formas de impedir os seus primos mais pequenos de seguirem o mesmo caminho.

Alice Carqueja, ZAP //

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