Os morcegos são a peça que faltava para compreender os diabetes

Stowers Institute for Medical Research

Uma equipa de cientistas registou níveis elevados de açúcar no sangue de alguns morcegos.

Estes animais apresentam concentrações elevadas de açúcar no sangue, uma descoberta que sugere que os morcegos desenvolveram estratégias para sobreviver, e até mesmo prosperar, com essa caraterística.

Segundo o SciTechDaily, há 30 milhões de anos, o morcego-nariz-de-folha (Hipposideros griffini) sobrevivia apenas apenas de insetos. Desde então, estes morcegos diversificaram-se em muitas espécies diferentes, alterando a sua alimentação

Num novo estudo, publicado esta quarta-feira na Nature Ecology & Evolution, os investigadores efetuaram testes de açúcar no sangue a cerca de 200 morcegos selvagens de 29 espécies, depois de os alimentarem com açúcares associados a uma dieta de insetos, frutos ou néctar.

A equipa viajou para as selvas da América Central, América do Sul e Caraíbas. Estas viagens centraram-se na realização de testes de tolerância à glicose, medindo a concentração de açúcar no sangue.

“O nosso estudo relata níveis de açúcar no sangue que são os mais elevados que alguma vez vimos na natureza, o que seriam níveis letais e indutores de coma para os mamíferos, mas não para os morcegos”, explica a primeira autora do estudo, Jasmin Camacho.

Os morcegos revelaram um espetro de adaptações à homeostase da glicose, que vão desde mudanças na anatomia intestinal a alterações genéticas das proteínas que transportam o açúcar do sangue para as células.

“Estes animais aperfeiçoaram a sua via de sinalização da insulina para baixar o açúcar no sangue. No outro extremo, os morcegos do néctar podem tolerar níveis elevados de glicose no sangue, semelhantes aos observados em pessoas com diabetes não controlada, que parece não depender da insulina”, diz Camacho.

Além disto, os investigadores observaram que os morcegos com dietas ricas em açúcar têm porções mais longas dos seus intestinos e têm células intestinais com maiores áreas de superfície para absorver os nutrientes dos alimentos, em comparação com os morcegos que praticam outras dietas.

Por sua vez, os morcegos do néctar, ao contrário dos morcegos da fruta, têm uma expressão contínua de um gene responsável pelo transporte de açúcar.

Estes dados não só fornecem caraterísticas metabólicas de várias espécies de morcegos com diferentes dietas, mas também a sua morfologia intestinal e regiões genómicas candidata, bem como diferenças estruturais de proteínas que podem estar a conduzir a adaptações alimentares.

Soraia Ferreira, ZAP //

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