O pigmento da pintura desvaneceu-se ao longo de muitos anos, e é por isso que hoje as flores são azuis brilhantes. Mas já foram “ultra-violeta”.
No dia 9 de maio de 1889, Vincent van Gogh escreveu uma carta ao seu irmão Theo. Era o primeiro dia que passava no hospital psiquiátrico Saint-Rémy-de-Provence, em França.
“Pouco a pouco, posso vir a considerar a loucura como uma doença como qualquer outra”, escrevia, acrescentando que estava a trabalhar em duas obras: “lírios violeta e um arbusto de lilases… Dois temas tirados do jardim”. Daí resultou o quadro Irises ou, em português, Lírios.
Como aponta a Smithsonian Magazine, existia pelo menos um outro relato do século XIX que garantia que os lírios de van Gogh eram, afinal, roxos: Em setembro de 1889, o crítico de arte Félix Fénéon escreveu sobre as capacidades de van Gogh como colorista, exemplificadas pelas “manchas violetas” das flores em Irises, segundo Martin Bailey do Art Newspaper.
Para além disso, os lírios que se encontram no jardim do Hospital Saint-Rémy-de-Provence têm cor roxa.
Foi após considerarem essa possibilidade com base na carta do próprio autor que os conservadores do museu Getty, em Los Angeles, EUA, examinaram a pintura com um microscópio estéreo para observar pormenores. Depois, analisaram Irises com espetroscopia de fluorescência de raios X, uma ferramenta não invasiva que lhes permitiu determinar a composição elementar dos objetos.
No quadro, os investigadores aperceberam-se da presença de um pigmento vermelho bastante comum nos quadros de van Gogh: o lago de gerânio.
Mas, como explica a Smithsonian, ainda que o artista tenha misturado essa componente com azul ara criar a cor originalmente púrpura de Irises, essa substância é muito sensível à luz, e é por isso que se desvaneceu com o tempo, tendo restado apenas o azul.
“É por isso que, atualmente, os lírios parecem azuis, porque a componente vermelha se desvaneceu”, diz Devi Ormond, conservadora do museu, à Hyperallergic.
Agora, o Getty organizou uma exposição que conta a história do quadro. Catherine Patterson, química do Getty Conservation Institute, diz que “a reconstrução resultante desta investigação permite-nos agora ver Iris sob uma nova luz e apreciar melhor a intenção do artista”.