Um novo estudo mostra que ser fisicamente forte pode estar associado a um maior número de parceiros sexuais e a uma maior probabilidade de relações duradouras.
No estudo publicado na revista Evolution and Human Behavior, os investigadores descobriram que os homem com tronco mais forte tinham mais probabilidades de ter relações de compromisso, enquanto que tanto os homens como as mulheres com tronco mais forte tendiam a ter mais parceiros sexuais ao longo da vida.
Os resultados acrescentam uma reviravolta surpreendente às ideias há muito defendidas sobre o papel da força física no comportamento do acasalamento humano.
Segundo o PsyPost, a equipa de investigação propôs-se testar ideias sobre a forma como a força física pode ter ajudado os nossos antepassados a atrair e manter parceiros.
As teorias evolucionistas há muito que propõem que os homens evoluíram para serem mais fortes porque a força física proporciona vantagens na competição masculina e na proteção das companheiras.
No entanto, a maioria dos estudos anteriores centrou-se nos homens e poucos examinaram se existem relações semelhantes nas mulheres.
Os investigadores queriam explorar se a força da parte superior do corpo também poderia estar relacionada com o comportamento de acasalamento nas mulheres e compreender como estes atributos físicos poderiam ter influenciado a formação de relações num passado distante.
“Estávamos a investigar a relação entre as diferenças entre os sexos na força física e as diferenças entre os sexos na depressão e apercebemo-nos de que o nosso conjunto de dados também poderia abordar a hipótese de longa data de que as diferenças entre os sexos na força evoluíram devido à seleção sexual. Os homens com maior força física eram mais capazes de competir fisicamente com outros homens pelo acesso às parceiras, conduzindo assim a um maior número de parceiras sexuais”, explicou Edward H. Hagen, professor de antropologia na Universidade Estatal de Washington.
Para investigar estas questões, os investigadores analisaram dados recolhidos numa amostra nacionalmente representativa de mais de 4300 adultos nos Estados Unidos.
Esta informação foi recolhida no âmbito de um inquérito nacional de saúde de longa duração levado a cabo pelos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças.
Os participantes no inquérito, com idades compreendidas entre os 18 e os 60 anos, forneceram informações sobre a sua saúde física, incluindo uma medida da força da parte superior do corpo.
Neste estudo, a equipa utilizou a força de preensão da mão como um indicador fácil de obter da força total da parte superior do corpo. A força de preensão manual de cada pessoa foi medida através de três leituras de cada mão com um dispositivo que quantifica a força com que se consegue apertar.
Para além das medições de força, os participantes responderam a um questionário informatizado que lhes perguntou sobre vários aspetos do seu comportamento sexual. Indicaram o número de parceiros sexuais que tinham tido ao longo das suas vidas e no último ano.
Também forneceram a idade em que tiveram relações sexuais pela primeira vez e descreveram o seu estado de relacionamento atual, indicando se eram casados ou se viviam com um parceiro.
Os investigadores incorporaram ainda uma vasta gama de outras informações, como a idade, o tamanho do corpo, a saúde declarada, o humor, o nível de educação, a raça e até aspetos da atividade física.
Ao incluir todos estes fatores nas suas análises, a equipa esperava separar o efeito da força da parte superior do corpo de outros fatores que também pudessem influenciar os resultados sexuais e das relações.
Os resultados mostraram uma ligação clara entre a força da parte superior do corpo e aspetos do sucesso no acasalamento. No caso dos homens, a força superior estava associada a uma maior probabilidade de ter uma relação duradoura.
Por outras palavras, os homens que eram mais fortes, comparativamente com os outros homens encontravam-se mais frequentemente em parcerias comprometidas.
Os dados também revelaram que, em média, os homens mais fortes relataram ter tido mais parceiros sexuais ao longo da vida do que os seus pares menos fortes.
“Descobrimos que uma maior força na parte superior do corpo estava, de facto, associada a mais parceiros sexuais, mas também a uma maior probabilidade de estar numa relação a longo prazo“, disse Hagen.
“Isto significa que uma maior força na parte superior do corpo pode ter evoluído, pelo menos, em parte, porque os homens mais fortes eram melhores para proporcionar benefícios às mulheres e as suas famílias, tais como mais comida e proteção, e não simplesmente porque eram mais capazes de competir fisicamente com outros homens”.
“As pessoas têm suposições sobre o comportamento sexual dos homens e como isto está relacionado com a evolução. Para além da aquisição de mais parceiros sexuais, é provável que o estabelecimento de relações duradouras também tenha sido importante para os homens na história evolutiva”, afirmou Caroline Smith, autora principal e recém-licenciada em doutoramento.
Um dos resultados mais surpreendentes do estudo foi o facto de as mulheres com maior força na parte superior do corpo terem mais parceiros sexuais ao longo da vida do que as suas homólogas menos fortes. “Isto é contrário à hipótese da seleção sexual baseada na competição entre sexos”, observou Hagen.
“Mas a força continua a estar mais fortemente associada a uma relação a longo prazo para os homens do que para as mulheres, o que é coerente com as teorias evolutivas da seleção sexual baseadas na escolha feminina”.
Os investigadores especulam que pode haver várias razões por detrás deste padrão. Por exemplo, é possível que as mulheres mais fortes sejam mais seletivas quanto aos homens que escolhem como parceiros a longo prazo, o que, por sua vez, pode estar relacionado com uma maior vontade de explorar uma variedade de oportunidades de acasalamento.
Por sua vez, as mulheres mais fortes podem ter mais probabilidades de se juntarem a homens que também são fisicamente fortes e, se esses homens tendem a ter mais parceiros, isto pode influenciar o número total de parceiros declarados por essas mulheres.
Outra possibilidade é que as mulheres que investem na manutenção de um nível mais elevado de força física possam também ter estilos de vida que promovam comportamentos sociais e sexuais ativos.
Uma análise mais aprofundada mostrou que a força não previu de forma consistente o número de parceiros sexuais que as pessoas relataram no ano anterior ou a idade em que tiveram relações sexuais pela primeira vez.
Parece que a relação entre a força e o comportamento de acasalamento pode estar mais relacionada com os padrões gerais ao longo da vida do que com a atividade sexual muito recente ou com o momento da iniciação sexual.
Os investigadores controlaram fatores como o índice de massa corporal, a educação, a raça, o estado de saúde, os níveis hormonais e o nível de atividade, entre outros. Mas o estudo ainda tinha algumas limitações a considerar.
Uma das questões é que, nas sociedades modernas industrializadas, o número de parceiros sexuais relatado por um individuo não reflete necessariamente o sucesso reprodutivo.
Com o uso generalizado de contracetivos, o número de parceiros que uma pessoa tem não está diretamente relacionado com o número de filhos que pode vir a ter.
Outra limitação prende-se com o facto de os dados incluírem um pequeno número de indivíduos que referem um número extremamente elevado de parceiros sexuais ao longo da vida.
A equipa decidiu excluir esses casos anómalos das análises principais para evitar que distorcessem os resultados.
Além disso, os investigadores observaram que o estudo não podia ter em conta alguns fatores biológicos que podem influenciar a força e o comportamento sexual, como os níveis hormonais durante o desenvolvimento inicial ou condições que afetam o equilíbrio hormonal mais tarde na vida.
Olhando para o futuro, um objetivo importante é conceber estudos que possam determinar se o aumento da força conduz realmente a um maior sucesso no estabelecimento de relações duradouras.
“O nosso estudo só conseguiu mostrar a correlação, não a causalidade“, afirmou Hagen. “Seria importante conceber estudos que pudessem testar se uma maior força causava um aumento no estabelecimento de relações duradouras. Também seria importante determinar se os padrões que encontrámos também se verificam em várias culturas, especialmente naquelas em que a força física dos homens é importante para pôr comida na mesa e proporcionar outros benefícios às suas famílias. Por fim, não temos uma boa explicação para o facto de as mulheres com maior força na parte superior do corpo terem mais parceiros sexuais ao longo da vida, pelo que essa seria outra questão a investigar em estudos futuros”.