Os hipopótamos de Escobar estão a lançar o caos nas florestas da Colômbia

Gena Steffens

Um hipopótamo no rio Magdalena, a maior via fluvial da Colômbia, onde os descendentes do grupo de Escobar estão a instalar-se cada vez mais, ameaçando a vida vegetal e animal

Os hipopótamos de Pablo Escobar estão a reproduzir-se de forma descontrolada e a aparecer em rios, lagos e pântanos da Colômbia rural.

A sua presença é cada vez mais presente devido ao legado improvável de Pablo Escobar, que gastou parte da sua fortuna numa coleção de animais exóticos, incluindo elefantes, girafas, zebras, avestruzes e cangurus, na sua fazenda nos arredores de Doradal.

Segundo a Smithsonian, ninguém sabe ao certo quantos hipopótamos habitam os rios e lagos da bacia do Magdalena.

No final de 2023, a contagem oficial do governo era de 169, mas o número pode chegar a 200. Em 2040, se nada for feito, prevê-se um aumento da população para 1400.

Estes animais matam cerca de 500 pessoas por ano, o que os coloca entre os animais mais perigosos para seres humanos. Embora, por enquanto, os encontros violentos na Colômbia tenham sido limitados, os ataques à agricultura e a destruição das colheitas estão a aumentar.

O impacto nos ecossistemas destes animais é bastante grande. Um único hipopótamo produz até 20 quilos de fezes por dia, o que aumenta os níveis tóxicos em charcos, matando a vida aquática que outrora beneficiava.

Para conter os animais, uma equipa de investigadores tentou isolar a fazenda de Escobar com arbustos, arame farpado e cercas elétricas, mas os animais continuavam a encontrar rotas de fuga.

“Os hipopótamos são difíceis de manter, são enormes, e a filtragem da água, necessária para ter em conta todo o cocó, é cara. A maior parte dos jardins zoológicos que querem um hipopótamo já têm um e, se não têm, não têm capacidade para o ter”, afirma Rebecca Lewison, ecologista da San Diego State University’ citada pela Smithsonian.

Os funcionários também tentaram castrar quimicamente os animais com dardos, um procedimento utilizado com sucesso em jardins zoológicos de todo o mundo. Mas os hipopótamos necessitam de várias injeções, com meses de intervalo ao longo de dois anos, e revelou-se impossível marcar e localizar os animais em liberdade que tinham recebido a primeira dose.

As autoridades colombianas reconhecem que a população de hipopótamos tem de ser gerida, seja através de abate, esterilização em larga escala, translocação seletiva ou qualquer outra combinação. Mas, mesmo nas melhores hipóteses, os colombianos vão ter de viver com uma população residual de hipopótamos.

Das cercas de 3500 espécies animais invasoras introduzidas pelo homem em novos ecossistemas, poucas foram erradicadas. E os hipopótamos não foram, aparentemente, uma delas.

Soraia Ferreira, ZAP //

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