Os capacetes “Viking” afinal pertenceram a uma civilização diferente

Wikimedia

Os capacetes, de acordo com os arqueólogos, eram usados pelos líderes da Idade do Bronze, como um símbolo de poder.

Dois capacetes de bronze decorados com chifres curvos em forma de touro podem ter dado a ideia de que, mais de 1.500 anos mais tarde, os Vikings os utilizavam, embora não haja provas de que alguma vez o tenham feito.

De acordo com a Live Science, os dois capacetes provavelmente simbolizavam o poder crescente dos líderes da Escandinávia, na Idade do Bronze.

Os capacetes foram descobertos em 1942, num pântano perto da cidade de Viksø, na Dinamarca, a poucos quilómetros a noroeste de Copenhaga.

A figura dos capacetes sugeriu a alguns arqueólogos que os artefactos eram originários da Idade do Bronze, aproximadamente de 1750 a.C. a 500 a.C., mas até agora não tinha sido determinada nenhuma data específica.

Os investigadores do novo estudo utilizaram o método de datação por radiocarbono, que usa o radioisótopo para determinar a idade de materiais carbonáceos.

“Durante muitos anos na cultura popular, as pessoas associaram os capacetes Viksø aos Vikings”, afirmou Helle Vandkilde, arqueóloga da Universidade de Aarhus, na Dinamarca. “Mas na verdade, é um disparate. O tema dos cornos é da Idade do Bronze e arrasta-se até ao Antigo Oriente Próximo”.

A nova pesquisa de Vandkilde e outros investigadores confirma que os capacetes foram depositados no pântano por volta de 900 a.C., há quase 3.000 anos, e muitos séculos antes de os Vikings dominarem a região.

Os capacetes, de acordo com o estudo publicado em dezembro, surgiram no final da Idade do Bronze, época marcada pelo comércio de metais e outros artigos que se tinham tornado comuns em toda a Europa, com as ideias estrangeiras a influenciar as culturas indígenas.

Capacetes de bronze com chifres

Quando os fragmentos do capacete foram descobertos pela primeira vez, o homem que os encontrou num poço colocou-os de lado, por não entender o que eram.

Mais tarde, outro homem reparou nos fragmentos e guardou-os para serem investigados. Os arqueólogos do Museu Nacional da Dinamarca realizaram alguns exames e verificaram que os fragmentos de “resíduos enterrados” eram na realidade partes de dois capacetes de bronze decorados com chifres curvos.

Ao escavar o poço, os investigadores também encontraram os restos de uma laje de madeira no qual um dos capacetes parecia estar encaixado, o que sugeria que tinham sido deliberadamente depositados no pântano.

Mas o metal não pode ser datado de forma fiável, e outras investigações sugeriram que a placa de madeira poderia ter sido colocada no pântano antes dos capacetes.

Só em 2019 é que um dos colegas de Vandkilde observou matéria orgânica num dos chifres, quando se preparava para tirar novas fotografias dos capacetes no Museu Nacional da Dinamarca.

“Ela notou que havia matéria orgânica primária nos chifres e falou com um colega no Museu Nacional responsável pela coleção, e eles concordaram em enviar uma amostra para datação absoluta”, sublinhou Vandkilde.

Antigamente, a informação sobre os capacetes era baseada na sua tipologia. O estilo do material de que eram feitos e quaisquer símbolos com os quais eram decorados.

Mas a nova data baseia-se no deterioramento radioativo do isótopo carbono 14, que pode determinar quando é que a matéria orgânica teve origem. Este método permite aos arqueólogos identificar quando é que os capacetes foram criados e teorizar a sua finalidade, explicou a arqueóloga.

“A tipologia é muitas vezes um bom primeiro passo, cronologicamente falando, mas é muito importante conseguirmos ter datas absolutas, como podemos fazer com o carbono 14″, disse Vandkilde.

“Sabemos agora, com esta nova data, que os capacetes foram depositados no pântano, talvez por alguém de pé numa plataforma de madeira, por volta de 900 a.C.”, acrescentou a investigadora.

Além dos seus chifres proeminentes, os capacetes Viksø são adornados com símbolos que se assemelham aos olhos e ao bico de uma ave de rapina.

A plumagem que, desde então, sofreu erosão, foi provavelmente enfiada nas extremidades dos chifres. Os capacete também podem ter sido usados com uma crina de cavalo.

Tanto os chifres dos touros como a ave de rapina eram símbolos representativos do sol, uma vez que foi encontrada iconografia semelhante noutras partes da Europa, como na ilha mediterrânica da Sardenha e no sudoeste da Península Ibérica.

“Não é certamente coincidência —deve ter havido ali algum tipo de ligação”, realçou Helle Vandkilde.

É possível que a simbologia do culto do sol tenha chegado à Escandinávia por via de uma rota marítima, a partir do Mediterrâneo e ao longo da costa atlântica, que foi utilizada pelos fenícios marinheiros para o comércio 1000 a.C., “independentemente da florescente rota comercial transalpina”, escreveram os investigadores.

Não há qualquer sinal de que os capacetes Viksø tenham sido alguma vez utilizados para a guerra, que acontecia, supõe-se, com apenas capacetes rudimentares ou sem nenhum capacete. “Nunca foram usados para a batalha“, notou a arqueóloga.

Em vez disso, os líderes provavelmente usavam os capacetes como símbolos de autoridade, numa altura em que a região se estava a tornar cada vez mais politizada e centralizada, acrescentou Vandkilde.

“Há muitos sinais disto, e a nossa nova datação dos capacetes Viksø adequa-se muito bem a este quadro de centralização, com a importância da liderança política. E esses líderes devem ter usado crenças religiosas e traços inovadores, como os chifres, para promover o seu poder“, conclui a investigadora.

ACL, ZAP //

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