O presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia defende que “tem de haver maior informação clareza e transparência” e a integração de “peritos externos” nas comissão dos medicamentos.
Para o presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia deve haver maior informação, clareza e transparência por parte das autoridades que avaliam os medicamentos e que estas comissões de avaliação devem ter peritos externos.
Em declarações à Lusa no dia em que começa o 16.º Congresso Nacional de Oncologia, que decorre até sábado no Centro de Congressos do Estoril, Paulo Cortes frisa que a inovação é “absolutamente necessária”, reconhece que os constrangimentos para aprovação de novos medicamentos não são apenas financeiros e defende que o problema “deve ser olhado de forma mais global”
“A inovação é absolutamente necessária. Vivemos num período em que há constrangimentos em termos de aprovação de novos fármacos, mas os constrangimentos não são só a nível financeiro. Temos que olhar o problema do ponto de vista global, em todo o percurso do doente, pois ainda há muitos problemas a resolver no acesso atempado do doente a meios de diagnóstico e a cirurgias”, afirma.
Para o responsável da SPO, “tem de haver maior informação clareza e transparência por parte das autoridades que fazem a avaliação dos medicamentos”, que deveriam ter maior celeridade, e “era desejável que estas comissões de avaliação integrassem peritos externos”.
“Não estamos a falar de substituir, mas de integrar peritos externos e envolver mais as associações de doentes (…) Eles também têm uma palavra a dizer em relação à utilização destes novos medicamentos”, refere.
Paulo Cortes diz que a proposta para que as comissões integrem peritos externos já foi apresentada e que foi bem acolhida: “Vamos ver se será bem implementada”. “A avaliação é feita por uma entidade que está muito ligada à parte governamental. Deveria ter uma maior abertura e transparência e participação de peritos externos, sejam da Sociedade ou da Ordem dos Médicos.”
Paulo Cortes admite que o doente de hoje é mais informado, mas defende que a literacia em saúde “ainda não atingiu o patamar desejado”. “Tal como em todas as áreas, muitas vezes a informação não é conhecimento (…) Há muita informação, mas muitas vezes não se traduz em conhecimento pois há também muita desinformação”, defende.
A este respeito, apontou o projeto SNS Digital, que a SPO assinou com o SNS, para alimentar a plataforma digital do SNS com conteúdos científicos da responsabilidade da Sociedade de Oncologia, dirigidos a toda a população. “Há muita gente que não sabe onde procurar informação certa” e as mensagens claras e bem dirigidas “continuam a ser importantes”, acrescenta.
O responsável defendeu ainda que, na área da prevenção, as campanhas devem acompanhar a evolução da sociedade e modernizar-se “se querem chegar às pessoas”.
“Todos temos, mais do que falar em campanhas em que repetimos sempre as mesmas coisas, de ser mais criativos. A sociedade evoluiu, as formas de comunicar e de as pessoas receberem as mensagens mudaram e temos de nos adaptar a isso, fazendo campanhas de prevenção mais inovadoras, de forma a atingir o maior número de pessoas”, afirma.
O responsável destaca o Plano Estratégico a três anos desenvolvido na Sociedade Portuguesa de Oncologia e explicou que a estrutura a que preside definiu cinco áreas de atuação estratégica, que deram origem a cinco grupos de trabalho, envolvendo pessoas da SPO, externas e até não médicos.
“Dados em Oncologia” — pois “há falta de informação em relação à realidade das doenças oncológicas e capacidade instalada” — e “Prevenção” – “com projetos desenvolvidos com a Sociedade de Pneumologia em relação ao tabagismo e outras na calha para apoiar o rastreio do cancro do cólon” — são duas das duas áreas/grupos estratégicos. Os restantes grupos/áreas são os “Sobreviventes” – “que cada vez são mais e com desafios para abordar, não só na perspetiva médica, mas também política e social” -, “Cancro Hereditário” e “Cuidados de Suporte Paliativos”.
“A visão do nosso mandato na SPO foi abrir a Sociedade a cada vez mais parceiros, para ajudar cada vez mais os doentes oncológicos, numa lógica de achar que a oncologia é multidisciplinar, mas multiprofissional”, defende o presidente da SPO.
Ao longo de três dias, mais de 600 profissionais de saúde vão discutir no Congresso Nacional de Oncologia os avanços no diagnóstico e tratamento das doenças oncológicas, sob o mote “Uma visão sobre o futuro da Oncologia em Portugal – ciência, estrutura e decisão”.
// Lusa