Agradecemos menos, e a culpa é de um já clássico emoji que facilita a palavra. Quem quiser agradecer cara a cara… não o faz. Deixe uma mensagem — o “gosto” é mais fácil. Se for mesmo um grande favor, “obg” pode dar mais jeito.
Quase um quinto dos jovens com idades compreendidas entre os 13 e os 28 anos garantem sentir-se pouco à vontade para dizer um simples “obrigado”. Os dados são de um estudo da Nationwide divulgado pelo Daily Mail.
“Nenhum dos meus amigos diz “obrigado”, é estranho, desatualizado e parece forçado”, comenta mesmo a britânica Alyssa Simmons, de 24 anos.
Então, se um adolescente lhe quiser agradecer, como faz? “Prefiro enviar um emoji de like. É o que todos nós fazemos”, explica a jovem.
O “thumbs-up”, “like”, “fixe” ou “gosto” parece ter substituído de vez o típico “obrigado”. De facto, num grupo de adolescentes nas redes sociais, não é má educação servir-se de um simples “gosto” para agradecer o envio de uma fotografia, informação ou até de um elogio. É claro que tudo depende do tom e da sua cultura cibernética.
Há também outra forma de agradecer: o típico “obg“, abreviatura cibernética para “obrigado”. Poupa tempo, carateres (no caso da rede social X, por exemplo, são preciosos), e, aparentemente, o embaraço de dizer um pomposo “obrigado”.
Em Portugal, temos ainda outras formas de tornar um “obrigado” menos “cringe”: um “thank you”, por exemplo, muda tudo e aligeira o ambiente.
36% dos inquiridos do estudo afirmam ainda que não consideram um “obrigado” importante, mas mais de metade admitem que cada vez menos recebem um agradecimento por alguma coisa.
A obrigação de agradecer
A geração Z deixou de ser obrigada a dizer obrigada: há outras formas de exprimir agradecimento, e até o emoji de mãos a rezar pode servir para o efeito. Mas, afinal, de onde vem esta rara e cada vez mais exótica forma de reconhecer uma boa atitude do outro? Antes de se tornar moribunda, já por cá andava há muito tempo.
Como explica o linguista Marco Neves no Observatório da Língua Portuguesa, a palavra “obrigado” tem origem no particípio passado do verbo latino “obligō”. Na verdade, a palavra vem mesmo de uma espécie de sentido de obrigação ou servilismo, tendo surgido de expressões antigas como “muito venerador” e “obrigado a Vossa Mercê”.
Mas, como aponta o especialista, a fórmula em si, “obrigado” propriamente dito, é até de certa forma recente. “Só no século XIX começamos a ver surgir nos nossos textos o ‘obrigado’ com o sentido de agradecimento que lhe damos hoje. Imagino que, na oralidade, o uso seja um pouco mais antigo. Mas tudo indica que Camões não dizia ‘obrigado!‘”, aponta.
É por isso que ainda hoje, se não gostarmos de likes, rezas ou abreviaturas, podemos fugir na mesma ao habitual — da próxima vez que lhe estenderem o sal, experimente dizer, à moda de Camões, “agradecido”, “grato”, ou um bonito “bem-haja”.