Uma peça de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) considerada perdida durante mais de 200 anos foi tocada pela primeira vez desde a sua redescoberta.
A música foi escrita pelo compositor austríaco em parceria com o italiano Antonio Salieri, considerado seu rival, e um compositor desconhecido, Cornetti.
A cantata de quatro minutos foi encontrada nos arquivos do Museu da Música, em Praga (República Checa), em novembro de 2015.
A obra foi tocada por Lukas Vendl num cravo, para uma pequena plateia, esta terça-feira. Sarka Dockalova, porta-voz do museu, afirma tratar-se de “uma obra realmente valiosa”.
A partitura, escrita em 1785, foi adquirida pelo museu numa coleção de material, em meados do século XX, mas os compositores estavam identificados através de um código que apenas recentemente foi decifrado.
O musicólogo e compositor alemão Timo Jouko Herrmann reconheceu o nome da composição ao pesquisar os catálogos online do museu.
Para ele, o trabalho é “chave para um novo entendimento da relação entre Mozart e Salieri”.
Inveja mortal?
Os rumores sobre o envenenamento de Mozart por Salieri, motivado pela inveja, foram descartados há muito tempo pelos historiadores, apesar de popularizados por peças teatrais e o filme vencedor do Óscar “Amadeus” (1984).
“Conhecemos a história do filme Amadeus, e é falsa. Salieri não envenenou Mozart, mas ambos trabalharam em Viena e eram rivais”, diz Ulrich Leisinger, do Instituto Mozart de Salzburgo.
A cantata, “Per la ricuperata salute di Ophelia” (“Pela saúde restaurada de Ofélia”), foi escrita para celebrar a recuperação da soprano inglesa Nancy Storace após uma enfermidade.
O texto que acompanha a composição foi escrito pelo poeta da corte de Viena Lorenzo Da Ponte, que trabalhava muitas vezes com Salieri.
Para Leisinger, a composição não é genial, mas esclarece aspectos do quotidiano de Mozart com compositor de ópera.
“É claramente uma peça original, e não há razão para duvidar de sua autenticidade, mas não sabemos quando outra peça será descoberta. Pode ser brevemente, ou daqui a mais 100 anos”, explica.
Várias peças de Mozart foram redescobertas recentemente – muitas das quais teriam sido escritas quando era muito jovem.
ZAP / BBC