O único mamífero de sangue frio que se conhece era uma cabrinha — e vivia numa ilha

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Quagga Sculpture

Reconstituição de um Myotragus balearicus pelo artista e modelista biológico Quagga

Todos os mamíferos conhecidos são endotérmicos. Mas uma espécie extinta de cabra anã com olhos frontais que vivia nas Baleares fugiu à regra.

Sabemos todos desde a escolinha que os mamíferos são todos, sem exceção, endotérmicos — isto é, de sangue quente.

Este conhecimento é tão certo, que quando em 2016 a BBC Earth foi ao Facebook perguntar se havia mamíferos de sangue frio, os utilizadores reagiram com dureza. “Uma pergunta imbecil”, que “insulta a minha inteligência”.

No entanto, conta o IFLS, num desvio notável das normas no reino animal, houve na realidade um mamífero ectotérmico, o único que se conhece até agora: o Myotragus balearicus, uma espécie extinta de cabra anã.

Esta espécie habitava as Ilhas Baleares, particularmente na região de Maiorca, em Espanha, e apresentava características únicas que lhe permitiam adaptar-se ao seu ambiente em situação de escassez de recursos.

Com apenas 45 centímetros, estas cabras diminutas sofreram mudanças morfológicas significativas: evoluíram para ter membros, cérebro e órgãos sensoriais com tamanho mais reduzido — tendo-se tornado, na prática, uma espécie anã.

A espécie apresentava porém uma característica notável, não encontrada em outros mamíferos: a sua estrutura óssea é era semelhante à dos répteis, que são conhecidos pelo seu ritmo de crescimento lento e adaptável — uma característica evidenciada por padrões específicos nos seus ossos.

O Myotragus balearicus tinha nos seus ossos tecidos lamelares  semelhantes aos encontrados até agora apenas em répteis ectotérmicos, e um ritmo de envelhecimento flexível, que podia desacelerar ou parar — uma característica que partilhavam também com espécies como os crocodilos.

Esta capacidade de adaptação contrasta fortemente com o desenvolvimento mamífero típico, já que estas cabras atingiam a maturidade cerca dos 12 anos, muito depois das cabras comuns, que amadurecem em menos de 9 meses.

O seu estilo de vida também diferia significativamente do de outras espécies de cabras. Em vez do comportamento ativo e ágil característico das cabras, o Myotragus balearicus levava uma vida mais lenta, mais parecida com a dos répteis (e alguns humanos): dedicava-se a apanhar sol e movia-se o menos possível.

Num estudo de 2009 publicado na PNAS, os investigadores Meike Köhler e Salvador Moyà-Solà sugerem que estas cabras terão adaptado as suas taxas de crescimento e necessidades metabólicas em função da disponibilidade de recursos, tal como os répteis ectotérmicos.

Esta adaptação foi crucial para a sua sobrevivência na ilha de Maiorca, com recursos limitados, onde prosperaram durante mais de 5,2 milhões de anos — significativamente mais do que as espécies do continente.

A fascinante cabra anã, que ao contrário das restantes cabras tinha olhos frontais, conseguiu sobreviver durante um prolongado período num ambiente isolado e sem predadores, mas com escassez de recursos.

Será que em tempos de crise, o que temos que fazer também é apanhar sol e mexermo-nos o mínimo possível?

ZAP //

3 Comments

  1. Raça extinta??? Hummmm….
    Procurem bem no BE… no meio de tantas deve haver alguma com sangue mais frio, até gelado… penso eu d q …

  2. Eu bem disse que não se podia retirar do Governo… não foi por falta de aviso!!!
    É preciso sangue frio para fazer o que fez aquele badameco!!!
    Agora, não há mais Cabritas de Sangue Frio, apenas de Sangue a ferver por estas palavras… kkkkk

  3. Os grandes homens, cientistas, investigadores têm sempre grandes duvidas e poucas certezas, daí descobrirem o que o assegurado cidadão comum não questiona. Esta noticia é um bom exemplo das certezas, num planeta em constante evolução.

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