A venda de livros em língua inglesa está a crescer em Portugal. As editoras estão a começar a ficar preocupadas. O grande culpado pode ser o TikTok.
A venda de livros em inglês está a aumentar em Portugal e a culpa é do TikTok.
De acordo com um artigo publicado na última terça-feira na Publishers Weekly, no âmbito da Feira do Livro Infantil de Bolonha, as vendas de livros em língua inglesa estão a aumentar em toda a Europa.
Este valor é corroborado pelo presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), Pedro Sobral, que, baseando-se nos dados da consultora Gfk, especificou à agência Lusa que o livro importado (constituído quase exclusivamente por livros em inglês) representou 3% do valor de mercado, o que significa um crescimento de cerca de 25% face a 2022.
Só no primeiro trimestre deste ano a venda de livros em inglês já representa um crescimento de cerca de 33% face ao mesmo período do ano passado, salientou Pedro Sobral.
Todavia, o painel Gfk não mede as vendas de livros em canais online e em lojas como a Amazon, que têm um peso bastante significativo, além de que apenas cobre cerca de 87% do mercado de livrarias, pelo que muitas vendas ficam de fora desta contabilização.
Tendo este fator em consideração, os cálculos extrapolados pela APEL apontam para que o livro em inglês valha neste momento qualquer coisa entre 5% e 8% do valor total do mercado português.
Efeito TikTok
Segundo Pedro Sobral, o efeito TikTok é um dos principais impulsionadores do fenómeno – “porque traz e dá uma visibilidade muito grande aos títulos internacionais e muitas vezes até antes do seu lançamento”.
O acesso direto online, potenciando a compra imediata após a descoberta do livro, tem também “um papel muito importante”, porque “a dimensão do livro em inglês vendido fora do painel Gfk é bastante significativa”, observou o responsável.
Outro fator a considerar é o preço, já que, por norma, os livros editados no Reino Unido ou Estados Unidos “têm tiragens infinitamente superiores, porque cobrem mercados internos gigantescos, mas também contam com este efeito de exportação para outros países”.
Isto “cria uma enorme economia de escala, permitindo preços mais baixos e que, pela vastidão do mercado global que cobrem, são logo lançados em vários formatos, com preços diferentes, sempre significantemente mais baixos do que as edições portuguesas” – explica.
Além disso, o tempo que vai da edição original à edição portuguesa – que considera os tempos de tradução, revisão e distribuição – é o suficiente para que alguns leitores prefiram comprar o original, em vez de esperarem pela edição em português.
Afronta para a literatura portuguesa
Perante este cenário, “os editores portugueses estão bastante preocupados”, verificando-se já muitos títulos em que a edição portuguesa tem menores vendas do que a mesma edição em inglês, o que põe em risco “a viabilidade de muitos projetos editoriais”, alertou o presidente da APEL.
A situação assume um caráter ainda mais preocupante, se se atender ao facto de que, “na sua esmagadora maioria”, os leitores portugueses preferem a edição portuguesa à original, se estiver disponível com o mesmo imediatismo e com preços parecidos, acrescentou.
No entanto, relativamente ao preço, Pedro Sobral explicou que “os editores portugueses não têm muito como combater”, porque se trata de uma economia de escala com a qual é completamente impossível concorrer ou igualar a do mercado em língua inglesa.
“Naturalmente que os editores têm trabalhado afincadamente no encurtamento entre a versão original e a portuguesa para fechar este gap [lacuna] e assim perder o menor número de leitores possíveis, mas é preciso muito mais, dado este quadro bastante preocupante”, afirmou.
Acresce a isto que “players [atores] globais como a Amazon não cumprem a Lei do Preço Fixo, concorrendo deslealmente com os livreiros portugueses, e, dada a reduzida dimensão do mercado, é preciso tomar medidas até na Lei do Preço Fixo como aconteceu já em países como a França”, acrescentou.
Inglês vs. Português
Apesar de reconhecer que é “muito positivo” haver em Portugal novas gerações com um tão absoluto domínio da língua inglesa, Pedro Sobral alertou para a possibilidade de o português estar perante “um desafio muito importante no seu futuro” e defendeu que a defesa da língua portuguesa deve ser prioridade, apoiando os escritores, editores e livreiros portugueses.
“Se naturalmente há que continuar a apostar no inglês quer na escola, quer no ensino superior, quer na existência de livros em inglês, também é verdade que é preciso criar políticas públicas de defesa e promoção da língua portuguesa, apoio aos escritores, editores e livreiros portugueses e, acima de tudo, ao livro em português”, defendeu.
ZAP // Lusa
Se é prioridade defender a Língua Portuguesa, comece-se por revogar o Acordo Ortográfico de 1990. Com a tamanha deturpação e mutilação que a nossa Língua sofreu por causa disto, não admira que se comprem mais livros em Inglês.
Ainda bem que o português tem discernimento para preferir ler em inglês do que em brasileiro.
E acho que o problema estará por aí.
Ter livros em brasileiro no mercado é o mesmo que ter livros de baixa qualidade, e mais vale a versão em inglês.
E sei bem do que falo.