O Taj Mahal está a desmoronar-se. A negligência deixa andar, o extremismo religioso aplaude

Gualtiero Boffi / Canva

Taj Mahal, Índia

O icónico Taj Mahal, Património Mundial da UNESCO e reconhecido mundialmente como um emblema da Índia, está a sofrer uma grave deterioração. Entre alegações de negligência governamental, há quem sugira que a influência do nacionalismo hindu pode estar a agravar o declínio do monumento.

Fissuras na fachada de mármore e danos visíveis na estrutura do Taj Mahal estão a alimentar acusações de que o governo indiano está a optar por olhar para o outro lado à medida que o tão apreciado monumento se desmorona.

O Taj Mahal é Património Mundial da Unesco e símbolo internacional da Índia. Mas o mausoléu de mármore em Uttar Pradesh “há muito que é uma fonte de pontos de vista políticos”, diz o The Times, e há sugestões de que o nacionalismo hindu pode estar a contribuir para o seu declínio.

O monumento, considerado uma das 7 Maravilhas do Mundo, é o edifício mais famoso da Índia, atraindo cerca de oito milhões de visitantes por ano.

Foi construído no século XVII pelo imperador Shah Jahan, como mausoléu para a sua rainha favorita, Mumtaz Mahal, que morreu ao dar à luz o seu 14º filho. O imperador usou mármore do Rajastão, que se acreditava ter uma qualidade única — aparece cor-de-rosa de manhã, branco à tarde e leitoso à noite.

Rabindranath Tagore, um famoso poeta indiano, descreveu o Taj Mahal como “uma lágrima de mármore… na face do tempo“, nota a The Week.

No entanto, fotografias recentes divulgadas nas redes sociais “alimentaram as preocupações” de que o monumento está a “desmoronar-se“, diz o The Times. As imagens incluem uma cúpula com fugas, fendas nas paredes e uma árvore a brotar de um pilar.

“As pedras semipreciosas incrustadas nas paredes também estão a lutar contra a devastação do tempo”, diz Shakeel Chauhan, secretário-geral nacional da Federação de Guias Turísticos da Índia, ao The Times of India.

Os danos causados pela poluição atmosférica são também uma preocupação de longa data, como mostra a BBC numa extensa reportagem publicada em 2018.

Os ambientalistas estão “particularmente preocupados” com o facto de uma grande refinaria de petróleo a cerca de 48km de distância do Taj Mahal emitir dióxido de enxofre e outros poluentes que, combinados com a humidade da atmosfera, provocam chuvas corrosivas.

A árvore avistada a emergir de um pilar no Taj Mahal é uma variedade de figueira considerada sagrada pelos hindus — simbólica, para os que apontam o dedo ao declínio do monumento,devido à crescente influência dos extremistas hindus.

Há uma “influência generalizada” do nacionalismo hindu nos “mais altos escalões” da política indiana, diz o La Croix, e “uma intenção de estabelecer uma hegemonia hindu à custa das minorias religiosas”, uma política conhecida como Hindutva.

Alguns grupos extremistas hindus têm na mira o Taj Mahal, que acreditam ter sido construído no local de um santuário para a divindade hindu Shiva. “Foi destruído pelos invasores mongóis para que ali fosse construída uma mesquita”, explica Sanjay Jat, porta-voz da organização Hindu Mahasabha, à France24.

Mas esta afirmação é contestada por Audrey Truschke, professora associada de história do Sul da Ásia na Universidade de Rutgers.

A teoria é “tão razoável como as propostas de que a Terra é plana“, dia Truschke, que considera haver um “frenético e frágil orgulho nacionalista que não permite que nada que não seja hindu seja indiano — e que exige que se apaguem partes muçulmanas da herança indiana”.

Embora a responsabilidade pelo monumento seja do Serviço Arqueológico da Índia, os opositores políticos do BJP, partido nacionalista hindu do primeiro-ministro Narendra Modi, acusam o partido de fechar os olhos à negligência.

Segundo o Serviço Arqueológico, no entanto, não existem problemas estruturais graves no local.

E, no entanto, o Taj Mahal está a desmoronar-se.

ZAP //

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