O rapper iraniano Tataloo defendia a linha dura do país. Agora vai ser executado

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Pixoos / Wikipedia

O rapper Tataloo (Amir Hossein Maghsoudloo)

O rapper iraniano Tataloo, uma estrela com tatuagens no rosto cujo nome completo é Amir Hossein Maghsoudloo, enfrenta uma sentença de morte após ser condenado por acusações de “insultar santidades islâmicas”.

É uma situação aparentemente inesperada para quem já apoiou um candidato da linha dura nas eleições presidenciais do país, nota o The Washington Post.

A música de Tataloo tornou-se popular entre a juventude da República Islâmica, pois desafiava a teocracia do Irão numa altura em que a oposição ao governo do país estava fragmentada e largamente sem liderança.

As letras do rapper tatuado foram-se tornando cada vez mais políticas após a morte de Mahsa Amini em 2022 e a subsequente onda de protestos por todo o país. Tataloo apareceu também em vídeos musicais que criticavam as autoridades.

“Quando mostras o teu rosto num vídeo musical, estás a dizer: Ei, estou aqui, e não me importo com as vossas restrições. Isso foi corajoso“, disse Ali Hamedani, ex-jornalista da BBC que entrevistou o rapper em 2005.

A coragem de Tataloo acabou por ter um preço elevado. No mês passado, o Supremo Tribunal iraniano confirmou a sua sentença de morte. “Esta decisão foi agora confirmada e está pronta para execução”, disse aos jornalistas o porta-voz do tribunal, Asghar Jahangir, numa conferência de imprensa.

Tataloo iniciou a carreira musical em 2003, com um género underground de música iraniana que combina estilos ocidentais de rap, rhythm-and-blues e rock com letras em farsi.

O seu primeiro álbum, lançado em 2011, polarizou os iranianos, embora nunca tenha atuado em público no Irão, onde o Ministério da Cultura e Orientação Islâmica controla todos os concertos.

Em 2015, Tataloo apareceu num music-video a apoiar a Guarda Revolucionária paramilitar do Irão e o programa nuclear de Teerão, que é há muito alvo do Ocidente devido a receios de que o país possa desenvolver uma bomba atómica.

Embora nunca tenha revelado a sua motivação para assumir essa posição, parecia que o rapper esperava ganhar o favor da teocracia iraniana — ou talvez conseguir que uma proibição de viagem contra ele fosse levantada.

Em “Energy Hasteei” (“Energia Nuclear”), Tataloo canta uma balada de poder em frente a guardas armados com espingardas, e a bordo da fragata iraniana Damavand – que se afundou posteriormente durante uma tempestade em 2018. “Este é o nosso direito absoluto: ter um Golfo Pérsico armado“, canta o rapper.

Tataloo chegou a apoiar Ebrahim Raisi na sua campanha presidencial de 2017, que o clérigo ultra-conservador perdeu para o moderado Hassan Rouhani. Raisi acabaria por vencer as presidenciais em 2021, mas viria a morrer num acidente de helicóptero em 2024.

Em 2018, Tataloo, que enfrentava problemas legais no Irão, foi autorizado a deixar o país e radicou-se na Turquia, onde muitos cantores e artistas persas realizam concertos lucrativos.

O rapper iraniano, que ganhou fama nas redes sociais, tornou-se conhecido pelas tatuagens que cobrem o rosto e corpo, entre as quais uma bandeira iraniana e uma imagem da mãe ao lado de uma chave e um coração.

O Instagram desativou a sua conta em 2020, depois de ter apelado a raparigas menores de idade que se juntassem à sua “equipa” para sexo.

“Apesar de ser controverso, Tataloo tem uma base de fãs considerável no Irão, conhecidos como ‘Tatalities'”, diz Holly Dagres, investigadora no Washington Institute for Near-East Policy. “Ao longo dos anos, inundaram as redes sociais com mensagens de solidariedade e até fizeram campanha pela libertação do rapper“.

A música rebelde de Tataloo sensibilizou em particular os jovens desfavorecidos do Irão, que lutam para encontrar trabalho, casar e iniciar a vida adulta.

Nas suas letras, o rapper começou nos últimos anos a desafiar cada vez mais a teocracia do Irão, particularmente após a morte de Mahsa Amini, quando estava detida por não usar o hijab da forma pretendida pelas autoridades.

A sua colaboração “Enghelab Solh” (“Revolução da Paz” em farsi) menciona pelo nome o Líder Supremo do Irão, Ayatollah Ali Khamenei. “Não queremos gás lacrimogéneo, porque há lágrimas nos olhos de todos“, canta Tataloo.

A carreira de Tataloo terminou em 2013, no momento em que o seu passaporte expirou. O músico foi deportado da Turquia e imediatamente detido à chegada ao Irão.

O rapper, que já enfrentava dez anos de prisão por uma série de condenações separadas, incluindo promoção da prostituição e corrupção moral, foi inicialmente condenado por blasfémia pelo Tribunal Criminal de Teerão, que o sentenciou a mais 5 anos de prisão.

No entanto, o Supremo Tribunal iraniano anulou a decisão e enviou o seu caso para outro tribunal — que em janeiro acabaria por condená-lo à morte.

Num dos julgamentos, Tataloo expressou o seu arrependimento. “Certamente cometi erros, e muitas das minhas ações foram erradas. Peço desculpa pelos erros que cometi”, disse o músico, citado pelo jornal estatal Jam-e Jam.

Segundo alguns relatos, Tataloo, que entretanto se casou quando já estava no corredor da morte, terá tentado suicidar-se, mas sobreviveu.

A sua sentença de morte surge num momento politicamente tenso para o Irão, que está “mais isolado do que nunca”, diz Abbas Milani, especialista em Irão na Universidade de Stanford.

Segundo o analista, a República Islâmica, que recentemente deu um inesperado sinal de moderação ao suspender a lei que obriga as mulheres a usar hijab, está “desesperadamente a tentar ver se chega a um acordo com os EUA sobre o seu programa nuclear e conseguir que as sanções sejam levantadas“.

Assim, “atrair a ira dos fãs de Tataloo é uma dor de cabeça de que não precisam”, conclui Milani.

ZAP //

1 Comment

  1. Vamos falar dos feitos heroicos do Maomé dá pena de morte…. Simples. Como trazer a tona que casou com uma criança de 6 anos…. ou teve vários “namorados”, gostava de vestir a roupa das mulheres e partilhava as mulheres com outros homens…

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