A média de altura dos holandeses é 9% maior atualmente do que há 200 anos, mas as crianças holandesas de hoje são mais baixas do que os seus pais — e não se sabe ao certo o que provocou o encolhimento dos gigantes do mundo moderno.
Estudar a história da saúde física de um país ou região é um desafio, uma vez que é difícil obter indicadores de saúde recolhidos de forma consistente.
Um estudo recente, conduzido por dois investigadores holandeses e disponível no repositório da Radboud University, em Nijmegen, nos Países Baixos, analisou agora a ligação clara entre a saúde de uma população e uma informação simples e amplamente registada — a altura do corpo.
Durante a maior parte da história da humanidade, a altura média da população manteve-se relativamente estável. Até 1800, a altura média na Europa situava-se entre os 165 cm e os 170 cm.
Mas, nos últimos 200 anos, aconteceu algo de notável: as alturas, a nível global mas particularmente na Europa, aumentaram drasticamente. Segundo um estudo conduzido em 2022 por uma equipa de investigadores da Universidade do Porto, os portugueses estão mais altos do que os pais.
Muitos países europeus registaram aumentos na altura média superiores a 15 cm, o que foi especialmente evidente nos Países Baixos: o holandês médio cresceu de 166 cm em 1810 para 184 cm atualmente, um aumento de 18 cm em apenas dois séculos. Os homens holandeses são atualmente os mais altos do mundo.
Embora a genética desempenhe, sem dúvida, um papel preponderante na determinação da altura dos indivíduos, esta tremenda mudança numa população inteira não pode ser explicada apenas pela evolução.
Se fosse esse o caso, a mudança na altura média das populações teria ocorrido numa escala de tempo muito mais longa, explicam os dois autores do recente estudo, Kristina Thompson e Björn Quanjer, num artigo no The Conversation.
E na realidade, nunca foi apenas genética. Segundo um estudo conduzido na Noruega em 2020, fatores como a nutrição e até a atração sexual também influenciaram a altura que o ser humano tem hoje.
Altura, saúde, desenvolvimento
A altura do corpo e a saúde são determinadas por fatores semelhantes durante o desenvolvimento, sendo o mais importante a nutrição. Para crescer e ser saudável, as pessoas precisam de abastecer o seu corpo com alimentos.
No entanto, o efeito da nutrição pode ser minado por outros fatores, que o desviam do crescimento. Fatores como doenças, stress ou trabalho manual pesado podem resultar em populações mais baixas, dizem os investigadores
Um estudo de 2023 mostrou que as doenças recorrentes ou de longa duração estavam associadas a alturas adultas mais baixas nos Países Baixos, no século XIX, enquanto períodos mais curtos e pontuais de doença podem ter sido úteis para o crescimento — provavelmente ao facto de porque doenças menos graves reforçam a imunidade contra futuras infeções.
A morte dos pais, em particular das mães, também se tem revelado um fator de diminuição da altura.
No caso das crianças muito pequenas, essa diminuição deve-se essencialmente à sua dependência das mães para a alimentação, mas também se verificou no caso das crianças mais velhas, o que indica o profundo stress causado pela perda de um prestador de cuidados primários.
Curiosamente, embora a perda da mãe estivesse associada a menor altura das crianças, quer nos Países Baixos quer noutros países, tal não é o caso da perda de um pai — eventualmente devido à natureza de género dos cuidados parentais neste período.
No seu conjunto, a altura pode assim ser reflexo da qualidade e quantidade de alimentos que um indivíduo consume durante o seu desenvolvimento, e da ausência de fatores de stress que desviem a energia deles derivada — desde o nascimento até ao final da puberdade.
Altura e saúde na idade adulta
Em termos de medição da saúde nos adultos, a altura é uma questão mais complexa. Atualmente, as pessoas com uma altura acima da média, em particular os homens, tendem a ter um risco globalmente menor de morte.
No entanto, as pessoas extremamente altas (190 cm ou mais) tendem a ter um risco de morte ligeiramente superior, principalmente porque têm um risco acrescido de mortalidade relacionada com o cancro.
Pensa-se que isto é uma questão de massa corporal: os corpos mais altos têm mais células e mais divisões celulares, o que significa uma maior probabilidade de desenvolver cancro. As pessoas mais altas também tendem a ingerir mais calorias, o que também pode ter um papel importante.
Quando se analisam dados históricos de populações, as conclusões são ainda mais complexas: as pessoas mais altas, tanto homens como mulheres, tendem a morrer em idades mais jovens, mesmo aquelas que seriam consideradas relativamente baixas atualmente (como as mulheres com 155 cm).
O aumento das taxas de mortalidade deve-se provavelmente ao facto de as pessoas mais baixas necessitarem de menos calorias do que as mais altas. Em períodos de escassez de alimentos, que eram mais comuns no passado, as pessoas mais baixas corriam, portanto, um risco menor de desnutrição.
Nas populações históricas, as mortes por doenças infecciosas também eram mais comuns do que hoje em dia, e a combinação destes dois fatores significava um maior risco de morte para as pessoas mais altas.
Assim, apesar de os holandeses serem os mais altos do Mundo, as crianças dos Países Baixos são atualmente mais baixas do que os seus pais — mas não se sabe ao certo o que provocou o encolhimento dos gigantes do mundo moderno.
Isto levanta uma série de questões sérias: Terá a qualidade da alimentação diminuído? A obesidade infantil está a impedir o crescimento?
Descobrir por que razão as populações crescem — ou diminuem — pode ajudar-nos a compreender a saúde a nível nacional e não a nível individual.
Porque não apontam a causa mais óbvia: a imigração?
Se as etnias imigrantes têm uma estatura mais baixa, à medida que o seu número aumenta, a estatutura média do país baixa.