Bruce Omori / Paradise Helicopters / EPA

O vulcão havaiano Kilauea
Um novo estudo das rochas vulcânicas havaianas revela que o núcleo da Terra contém vastas reservas ocultas de ruténio, que ficou preso no núcleo da Terra juntamente com ouro e outros metais preciosos quando o nosso planeta se formou, há 4,5 mil milhões de anos.
As maiores reservas de ouro da Terra não estão guardadas em Fort Knox, o Depósito de Lingotes dos Estados Unidos. Na verdade, estão escondidas muito mais profundamente no solo do que se poderia esperar.
Mais de 99,999% das reservas de ouro e outros metais preciosos da Terra encontram-se enterradas sob 3.000 km de rocha sólida, trancadas dentro do núcleo metálico da Terra e muito além do alcance da humanidade, explica o Phys.org.
Num novo estudo, investigadores da Universidade de Göttingen encontraram agora vestígios do metal precioso ruténio (Ru) em rochas vulcânicas nas ilhas do Havai — cuja origem é, em última análise, o núcleo da Terra.
As descobertas foram apresentadas num artigo publicado na semana passada na revista Nature.
Comparado com o manto rochoso da Terra, o núcleo metálico contém uma abundância ligeiramente maior de um isótopo particular de Ru: ¹⁰⁰Ru.
Esta abundância deve-se ao facto de parte do Ru, que ficou preso no núcleo da Terra juntamente com ouro e outros metais preciosos quando se formou há 4,5 mil milhões de anos, ter vindo de uma fonte diferente da quantidade escassa de Ru que está contida no manto atualmente. Estas diferenças no ¹⁰⁰Ru são tão pequenas que era impossível detetá-las no passado.
Agora, novos procedimentos desenvolvidos pelos investigadores da Universidade de Göttingen tornam possível identificá-las. O sinal invulgarmente alto de ¹⁰⁰Ru que encontraram em lavas na superfície da Terra só pode significar que estas rochas se originaram, em última análise, da fronteira núcleo-manto.
“Quando os primeiros resultados chegaram, percebemos que tínhamos literalmente encontrado ouro. Os nossos dados confirmaram que material do núcleo, incluindo ouro e outros metais preciosos, está a infiltrar-se para o manto da Terra acima“, explica o geoquímico Nils Messling, investigador da Universidade de Göttingen e primeiro autor do estudo.
“As nossas descobertas não só mostram que o núcleo da Terra não está tão isolado como se presumia anteriormente”, diz por seu turno Matthias Willbold, também geoquímico da U.Göttingen e coautor do estudo.
“Agora também podemos provar que enormes volumes de material do manto superaquecido — várias centenas de quadriliões de toneladas métricas de rocha — originam-se na fronteira núcleo-manto e sobem até à superfície da Terra para formar ilhas oceânicas como o Havai”, acrescenta o investigador.
Isto significa que pelo menos alguns dos fornecimentos precários de ouro e outros metais preciosos de que dependemos pelo seu valor e importância em tantos setores, como o das energias renováveis, podem ter vindo do núcleo da Terra.
“Se estes processos que observamos hoje também operaram no passado, ainda está por provar. As nossas descobertas abrem uma perspetiva inteiramente nova sobre a evolução da dinâmica interna do nosso planeta natal”, conclui Messling.