
Os investigadores teorizam que a dieta dominante de cada cidade tem um papel na formação da composição do microbioma dos seus habitantes
As bactérias intestinais podem revelar mais sobre nós do que o nosso próprio sotaque. Um novo estudo conseguiu prever a localização de pessoas, com 94% de precisão, através do microbioma.
O ditado “somos os que comemos” acaba de ganhar uma nova força. Num estudo publicado recentemente na Frontiers in Microbiology, os investigadores conseguiram acertar acidade dos participantes através da análise do microbioma.
O estudo conduzido pela BGI Genomics, uma empresa chinesa centrada na medicina de precisão, concluiu que as nossas bactérias intestinais são específicas da região onde vivemos.
“O estudo desafia a crença de longa data de que as diferenças do microbiota intestinal só têm importância à escala dos continentes ou das regiões. Descobrimos que mesmo as pessoas que vivem em cidades vizinhas têm padrões microbianos distintos”, afirmou, à New Atlas, o autor do estudo, Li Tao, do Instituto de Investigação Médica Inteligente (IIMR) da BGI Genomics.
Os investigadores analisaram as fezes de 381 adultos chineses Han saudáveis de duas cidades da província de Hubei: Wuhan, situada no centro-leste da China, e Shiyan, situada no noroeste. As cidades distam entre si cerca de 500 km.
Os participantes não tinham doenças graves e não tinham tomado antibióticos nos três meses anteriores.
Foram identificadas 649 espécies bacterianas e 515 vias metabólicas, que foram comparadas entre indivíduos. Descobriu-se que as pessoas de Wuhan e Shiyan apresentavam diferenças estatisticamente significativas tanto na diversidade microbiana como na composição das espécies.
Os investigadores desenvolveram um modelo de aprendizagem automática que integrou 16 espécies bacterianas e 12 vias metabólicas específicas de cada cidade.
O modelo atingiu um elevado nível de exatidão – 94% – superando significativamente os modelos que utilizavam apenas espécies ou apenas vias.
Isto sugere que mesmo populações muito próximas, como Wuhan e Shiyan, podem ter “impressões digitais” distintas do microbioma.
Os investigadores teorizam que a dieta dominante de cada cidade tem um papel na formação da composição do microbioma dos seus habitantes.
Estas descobertas podem indicam a origem regional de uma pessoa pode ser facilmente identifica através das fezes, mesmo dentro da mesma província, o que pode ser útil para investigações forenses ou de pessoas desaparecidas.
Além disso, a aprendizagem automática combinada com a caraterização do microbioma pode ajudar a prever riscos de doença ou a monitorizar a saúde da população em regiões geográficas específicas.