O nosso desejo de aventura e desafio tem origens antigas

(dr) Luo Pin Xi / WPA

Porque é que algumas pessoas são atraídas para a exploração e o desafio — mesmo até ao ponto de perigo extremo? Um novo livro desvenda as razões.

Alex Hutchinson, jornalista, autor e atleta escreveu um livro — The Explorer’s Gene: Why we seek big challenges, new flavors, and the blank spots on the map (Porque é que procuramos grandes desafios, novos sabores e os pontos em branco no mapa) — onde coloca a questão e apresenta respostas.

Segundo o New Scientist, o escritor diz que, em relativamente pouco tempo, os humanos chegaram a mais ou menos “todos os cantos habitáveis do Planeta. Ainda hoje, testámo-nos, aceitamos desafios ambiciosos e procuramos novos caminhos, quer seja numa caminhada arriscada ou numa migração perigosa”.

A questão que Hutchinson coloca no seu livro é “porquê?”. Não é tão simples como dizer que os seres humanos estão programados para a aventura, quando muitos são pessoas muito felizes e caseiras.

A exploração implica esforço, recompensa incerta e o risco de fracasso, se não mesmo um perigo real. “Porque é que nos havíamos de sujeitar a isso?”

Hutchinson traz a sua experiência profissional e pessoal para responder a esta questão. Físico de formação, foi um corredor de meia distância (incluindo na equipa nacional do Canadá) antes de se dedicar ao jornalismo.

O seu livro Endure foi um bestseller do New York Times e tornou-o no “homem da ciência da resistência humana” antes de voltar a procurar novos horizontes.

The Explorer’s Gene tem muita investigação, citando uma vasta gama de estudos — alguns publicados no ano passado — que esclarecem a razão pela qual algumas pessoas são levadas a procurar a aventura enquanto outras se contentam com a sua zona de conforto.

Não há dúvidas quanto ao campo a que Hutchinson pertence. O livro começa com o autor a fazer uma árdua caminhada de vários dias pela natureza selvagem da Terra Nova e utiliza histórias do seu passado de viajante para fundamentar a sua discussão.

Para dar sentido a esse impulso de pesquisa, Hutchinson recorre a disciplinas tão diversas como a robótica, a economia, a ciência do desporto e a mitologia, e mesmo os conceitos abstratos são comunicados e relevantes.

The Explorer’s Gene reflete uma profunda curiosidade e o desejo de dar sentido àquilo que poderia ser visto como uma aventura imprudente ou mesmo sem sentido como a exploração polar ou as travessias transatlânticas.

O título refere-se ao geneDRD4 que codifica um recetor de dopamina no cérebro e está associado ao comportamento de procura de novidades e à PHDA.

Parece revelador, escreve Hutchinson, que a variante do gene da procura de novidade seja mais prevalente nas populações nómadas e tenha surgido pela primeira vez há cerca de 45.000 anos — “precisamente quando os humanos começaram a conquistar o globo”.

Mas a genética é apenas uma parte da história. A exploração foi moldada por fatores externos, como a tecnologia (que a tornou mais possível e, muitas vezes, menos arriscada) e o clima (que impulsionou a agitação populacional a nível global). Depois, há as recompensas, como a possibilidade de uma nova vida ou glória de ser o primeiro.

Esta sede de novidade e do desconhecido pode manifestar-se também de outras formas. Embora poucos de nós se voluntariassem para uma viagem só de ida a Marte ou se aventurassem na natureza, como reconhece Hutchinson, isso não significa permanecer na nossa zona de conforto para sempre.

Como o autor descobre através da sua experiência de orientação, os benefícios da neuroplasticidade e do envolvimento simultâneo do corpo e do cérebro apoiam a ideia de nos estendermos. A brincadeira, por exemplo, é muitas vezes negligenciada na idade adulta, mas pode ajudar-nos a desenvolver uma tolerância ao risco ou uma perspetiva que compensa noutras situações.

Nos últimos capítulos do seu livro, Hutchinson argumenta que as muitas formas como a vida atual nos levam a ser passivos — como seguir cegamente as indicações do nosso telemóvel — estão a sabotar a profundidade e a qualidade da nossa experiência.

Embora não exista uma explicação única para a exploração humana, a procura de novidades e a perseguição de desafios, o esforço físico e cognitivo envolvido é satisfatório e o risco de fracasso torna os nossos sucessos tão gratificantes.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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