Um novo estudo pode ajudar a desvendar um mistério sobre a forma como a nossa memória funciona no quotidiano. Tal como um filme é dividido em cenas, o nosso cérebro também organiza as memórias de cada dia em segmentos.
Um novo estudo, publicado recentemente na Current Biology, sugere que o nosso cérebro tem mais controlo sobre a segmentação de memórias do que se pensava anteriormente.
O grupo de investigadores da Universidade de Columbia (EUA) investigou a forma como o cérebro decide quando forma “fronteiras” entre eventos diários, semelhantes à separação das cenas de um filme.
Como escreve e a Live Science, até agora, acreditava-se que essas fronteiras eram criadas por mudanças significativas no ambiente, como quando se entra num espaço diferente, passando do exterior para o interior.
No entanto, a nova hipótese sugere que as fronteiras podem ser influenciadas por experiências passadas e sentimentos pessoais, permitindo ao cérebro controlar como interpreta e organiza os acontecimentos.
Os autores do estudo quiseram, então, perceber o que leva o cérebro a formar essas fronteiras em torno dos acontecimentos diários, mudando de uma “cena” para outra.
Para testar esta teoria, a equipa de investigação criou 16 narrativas áudio. Cada narrativa envolvia quatro locais: um restaurante, uma sala de conferências, uma mercearia e um restaurante. Incluíam também quatro situações sociais: um negócio, um “encontro amoroso”, uma proposta e uma separação.
Como detalha a Lice Science, os voluntários ouviram estas narrativas, enquanto os cientistas utilizavam a ressonância magnética funcional (fMRI) para analisar o cérebro dos participantes. As alterações na atividade cerebral foram seguidas, especialmente no córtex pré-frontal medial (mPFC) – parte do cérebro que percebe e interpreta as informações do momento a momento que nos rodeiam.
Os investigadores conseguiram registar quando um participante formava uma nova fronteira durante a narrativa.
Descobriu-se que a atividade no mPFC aumentava quando ocorriam mudanças sociais importantes nas histórias, como o pedido de casamento foi aceite ou quando o negócio foi fechado.
No entanto, quando os participantes foram instruídos a focar-se nos detalhes dos locais, como sentar-se num restaurante e pedir comida, a sua segmentação dos eventos mudou, assim como a atividade cerebral.
O estudo revelou também que os voluntários se lembravam menos dos pormenores das partes da história a que não prestaram atenção. Isto comprova que a nossa memória é flexível e ativa, sendo moldada pela forma como focamos a nossa atenção nos eventos.
Essas descobertas têm implicações para o tratamento de condições como o transtorno de stress pós-traumático e a demência, sugerindo que se deve dar ênfase aos momentos-chave numa narrativa para melhorar a retenção de memórias a longo prazo.
A equipa espera agora explorar como a atenção consciente pode influenciar a memória e a forma como enquadramos as nossas experiências diárias.