As seleções que vão disputar o Mundial do Qatar não são conhecidas apenas pelas suas conquistas em campo. No coração das claques, ganham alcunhas variadas, com origens em histórias curiosas, trágicas — e que até se misturam com a do próprio país que defendem.
Quando as seleções de (quase) todos os países entram em campo para disputar uma partida, os seus nomes transformam-se — em cores, nomes de animais selvagens, pássaros e personagens celestiais. E das 32 seleções que disputam o Mundial do Qatar, 31 têm alcunhas.
Só uma seleção vai entrar em campo sem ter qualquer alcunha.
Leões no Grupo A
O Qatar é o país-sede do Mundial, e a sua seleção é conhecida como The Marron. Mas como é que uma seleção que tem uma bandeira branca e vermelho-escuro é chamada de “castanha”?
A razão é histórica. O Qatar é conhecido como o primeiro produtor de corante de marisco, e em especial de um corante roxo durante o domínio da Dinastia Sassânida que reinou na Pérsia entre 224 e 651.
Segundo a lenda, a bandeira original do Qatar seria vermelho-púrpura, exatamente para destacar esse papel de produtor de corantes. Mas a tinta usada era de baixa qualidade e, sob o sol, assumia a cor castanha.
Em 2015, finalmente, foi definido o tom exato da bandeira: a cor Pantone 1955. Apesar do seu tom vermelho muito escuro, localmente a cor é chamada de Castanho Qatar.
A seleção do Equador é conhecida como La Tri, A Tricolor. A explicação é simples: a bandeira tem as cores amarelo, azul e vermelho.
Os Leões de Teranga é o apelido da seleção de Senegal. O felino é um dos símbolos da população senegalesa, e Teranga é uma palavra proveniente da língua wolof, uma das mais faladas no país. Ela significa hospitalidade e acolhimento.
A Holanda completa o Grupo A e o apelido de Laranja Mecânica tem várias interpretações. A primeira, e mais óbvia, é a cor do uniforme.
Mas há quem diga que a alcunha surgiu no Mundial de 74, devido ao seu sistema tático inovador, conhecido como carrossel — e como homenagem ao filme “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick, lançado em 1971.
Leões e dragões no Grupo B
Os ingleses são muito criativos quando se trata de alcunhas para a sua seleção. A equipa de Inglaterra é chamada The Three Lions (Os Três Leões), em referência ao símbolo da camisola, mas também de The Rose Team (A Equipa da Rosa) – a rosa é símbolo da casa real britânica. Os três leões também estão presentes no brasão do exército inglês e no escudo da federação de futebol do país.
A seleção iraniana adota apelidos variados também. No Irão, todas as seleções de qualquer desporto são Team Melli, que em persa significa Equipa do Povo.
Mas em 2006 a seleção ficou conhecida como Estrelas Persas. No Campeonato Asiático de 2011, também foram chamados de Os Leões da Pérsia, Corações de Leão e Príncipes da Pérsia. O país tem parte do território no que era a antiga Pérsia, e a região é um dos últimos redutos do leão asiático.
Os Estados Unidos adotam dois apelidos para sua seleção. É conhecida como The Star and Stripes (equipa das Estrelas e Riscas) — numa homenagem à bandeira do país — mas também usa o apelido Yankees, como forma de lembrar dos vencedores da Guerra da Secessão.
De uniforme predominantemente vermelho, a seleção do País de Gales é conhecida como The Dragons. Esta é a cor dos dragões da bandeira nacional e do escudo da Federação Galesa de Futebol.
Falcões e águias no Grupo C
A Argentina tem um apelido fácil de perceber: Seleção Albiceleste, devido à cor das suas camisolas, com riscas verticais em branco e azul-celeste.
A Arábia Saudita é conhecida como Al Akhdar, a Verde, cor predominante de sua bandeira. A seleção também carrega o apelido de Os Falcões Verdes, pois os falcões são uma ave popular entre os sauditas, que têm na falcoaria um desporto nobre, considerado até mesmo uma forma de arte, e que movimenta milhões de dólares.
O México é outra seleção conhecida como La Tri, a Tricolor. A bandeira tem as cores verde, vermelho e branco.
Também é a bandeira que determina o apelido da seleção da Polónia: Bialo-czerwoni, ou Vermelha e Branca. Mas os polacos também são conhecidos como Biale Orly, ou Águias Brancas, em homenagem ao símbolo do país.
Mais águias (e cangurus) no Grupo D
A seleção da França até já foi também chamada de Le Tricolore (A Tricolor), por causa das três cores da bandeira. Mas o apelido Les Bleus (Os Azuis) é o que predomina há muitos anos, devido à cor das camisolas da seleção.
O apelido da seleção da Dinamarca tem uma origem na história do desporto. Surgiu no Mundial de 1982. Após um bom desempenho na fase de apuramento, os dinamarqueses venceram Escócia, Uruguai e Alemanha nas três primeiras jornadas do Mundial — a ganharam a alcunha de Dinamáquina.
A seleção da Tunísia tem um apelido baseado na história do país. A equipa é chamada de Eagles of Carthage (Águias de Cartago). A águia é um dos símbolos da federação da Tunísia e Cartago era o centro comercial mais importante do Mediterrâneo Antigo.
A seleção da Austrália tem um apelido curioso, sem tradução imediata. A seleção é conhecida como Socceroos, uma união das palavras soccer (futebol) e kangaroos (cangurus), animal nativo da Austrália. Mas a seleção é também conhecida como Aussies e simplesmente Cangurus .
Samurais no Grupo E
A história da Espanha também serve de influência para um dos apelidos da seleção da Espanha. Em 1576, durante a Guerra dos 80 anos com os Países Baixos, um ataque espanhol a Antuérpia fez sete mil mortos em apenas 3 dias. A crueldade do episódio ficou conhecida como a Fúria Espanhola, e a seleção espanhola ganhou o apelido La Fúria.
Mas, devido a uma das cores da bandeira vermelha e amarela do país e das camisolas da seleção, é chamada de La Roja (A Vermelha).
A Costa Rica adota um apelido carinhoso para a sua seleção. Ao contrário dos restantes países de língua espanhola, na Costa Rica os diminutivos usam o sufixo “ico” e não “ito”. Por isso, desde 1856, quem nasce na Costa Rica é chamado de Tico, e essa alcunha foi herdada pela sua seleção: Los Ticos.
A poderosac seleção da Alemanha, até ao passado dia 29 de julho, tinha um apelido forte: Die Mannschaft (A Equipa).
No entanto, para surpresa do mundo do futebol, a Federação Alemã aboliu o apelido, alegando de que desde sempre dividiu a opinião dos adeptos, que viam também o apelido como um símbolo de comercialização da equipa. A Alemanha, portanto, é a única seleção que não tem um apelido oficial.
A bandeira do Japão é das mais conhecidas do mundo: toda branca, com um disco vermelho ao centro. No entanto, a seleção é conhecida como Os Samurais Azuis.
A origem do apelido remonta ao Mundial de 1954, quando o Japão disputou pela primeira vez um jogo internacional. A única equipa de futebol que existia na altura era da Universidade de Tóquio, que vestia de azul. O equipamento foi adotado pela seleção e deu origem ao apelido, que também celebra a tradição dos guerreiros do Japão feudal.
Diabos vermelhos e leões no Grupo F
Um dos apelidos mais antigos adotados pelas seleções do Mundial é a da Bélgica. Die Roten Teufel (Os Diabos Vermelhos) surgiu em 1906, quando a seleção da Bélgica venceu a da Holanda por 3 a 2 em Roterdão. O nome também é uma referência à cor principal das camisolas.
A fauna marca presença na seleção de Marrocos. A equipa é conhecida como The Atlas Lions (Os Leões do Atlas), em homenagem aos leões do país, cuja espécie leão berbere, ou leão do Atlas, se extinguiu no século XX. O Atlas é uma referência à Cordilheira do Atlas.
Uma Equipa em Chamas. Assim é conhecida a seleção da Croácia, ou a Vatreni, que significa Ardente. A inspiração para o apelido vem da paixão dos croatas pelo país e pelo futebol. A seleção também é chamada de Kockasti (Xadrez), devido às suas camisolas axadrezadas.
Os Vermelhos é o apelido da seleção do Canadá. The Reds e Les Rouges são outros apelidos, além The Canucks (Os Canadianos).
Águias brancas e leões no Grupo G
A tão famosa Seleção Canarinha, cinco vezes campeã do mundo, só ganhou esse apelido após uma “tragédia desportiva”: o célebre Maracanaço, no Mundial de 1950, em casa, na derrota para o Uruguai na final —após um golo do que ainda hoje é provavelmente o homem mais odiado no Brasil.
As camisolas brancas até então usadas pela seleção do Brasil foram reformadas e, após uma consulta popular, a camisa amarela saiu vencedora. O apelido foi inventado pelo radialista Geraldo José de Almeida.
Uma águia branca de duas cabeças, no brasão da bandeira da Sérvia, é a origem do apelido da sua seleção: Águias Brancas. A ave refere-se à dinastia Nemânica, a mais importante da Sérvia na Idade Média.
A Suíça é pouco criativa quando falamos de apelidos. A Nati, diminutivo de Schweizer Nationalmannschaft (Equipa Nacional), em alemão, também é conhecida como La Nati e Sqaudra Nazionale, que têm os mesmos significados em francês e italiano, respectivamente.
O leão é o símbolo nacional dos Camarões. E o apelido da seleção faz essa referência: Leões Indomáveis.
Tigres no Grupo H
O principal apelido da seleção do Uruguai tem origem desportiva. Também conhecida como Charrúa, em homenagem a um povo indígena que foi massacrado por tropas uruguaias em 1831, a equipa é chamada de Celeste Olímpica, não só pelo azul das suas camisolas, mas também pela conquista de duas medalhas de ouro olímpicas, conquistadas em 1924 (Paris) e em 1928 (Amsterdão).
A estrela negra de cinco pontas, que representa a liberdade da África, no centro da bandeira de Gana é a inspiração para o apelido da seleção de futebol do país: Os Estrelas Negras.
A origem do apelido da seleção da Coreia do Sul é económica. Entre as décadas de 1960 e 1990, quatro territórios do sudeste asiático registaram um crescimento económico explosivo: Hong Kong, Singapura e Taiwan, além dos coreanos. Estes quatro países ficaram conhecidos como Tigres Asiáticos — alcunha que foi adotada pela seleção sul coreana.
E para terminar, a Seleção de Portugal, conhecida como Seleção das Quinas. O apelido tem origem na bandeira portuguesa, que, além das cores verde e vermelho, apresenta no centro o escudo português sobre uma esfera armilar, instrumento usado pelos navegadores portugueses durante os Descobrimentos.
No interior do escudo português encontramos cinco quinas, que simbolizam os cinco reis mouros que D. Afonso Henriques venceu na batalha de Ourique, no século 12.
Ocasionalmente, a seleção nacional adota alcunhas específicas para as suas campanhas em grandes competições. Foi o caso dos Magriços, no Mundial de 1966, os Patrícios, no Euro 84, os Infantes (Mundial 86), os Lusitanos (Euro 96), os Tugas (Mundial 2002), os Viriatos (2008) e os Navegadores (Mundial 2010).
Esperemos agora que a Seleção das Quinas faça um bom Mundial e regresse do Qatar com o caneco na mão e uma nova alcunha: os Vencedores.
ZAP // Agência Brasil