O Mistério do Sol, resolvido: Como o vento solar atravessa o Sistema Solar

NASA/JPL

O Sol está atualmente a libertar um fluxo de partículas eletricamente carregadas — o vento solar. Como é que este fluxo pode atingir velocidades incríveis foi um mistério que perdurou durante décadas.

Foram necessárias duas naves espaciais e cooperação internacional para obter uma resposta: o campo magnético perto do Sol, por vezes, torna-se excêntrico.

O vento solar “rápido” move-se a cerca de 500 quilómetros por segundo. Mas essa não é a velocidade a que escapa da coroa solar — a atmosfera extremamente quente da nossa estrela.

O vento, tal como a coroa, tem uma temperatura de milhões de graus e espera-se que arrefeça à medida que se expande, como uma lata de spray que arrefece quando é usada. No entanto, segundo o IFL Science, no caso do vento solar, o arrefecimento é mais lento.

Há muito que se propunha que estas duas características peculiares e inexplicáveis estavam ligadas.

Não havia certezas claras, mas uma proposta intrigante era a possibilidade de as ondas Alfvén estarem por detrás da aceleração. Estas são oscilações em grande escala no campo magnético do Sol e, agora, há provas conclusivas de que é de facto esse o caso.

“O nosso estudo [publicado na revista Science] aborda uma enorme questão em aberto sobre a forma como o vento solar é energizado e ajuda-nos a compreender como o Sol afeta o seu ambiente e, em última análise, a Terra”, afirmou Yeimy Rivera, co-líder do estudo do Observatório Astrofísico Smithsonian.

“Se este processo acontece na nossa estrela local, é muito provável que este processo dê energia aos ventos de outras estrelas da Via Láctea e mais além e poderá ter implicações na habitabilidade dos exoplanetas“.

A descoberta foi possível graças aos esforços combinados de duas sondas incríveis: a Parker Solar Probe da NASA e o Soar Orbiter da Agência Espacial Europeia.

A primeira sonda passou mais perto do Sol do que qualquer outra sonda anterior. A segunda está a observar a estrela de uma forma completamente diferente. Em conjunto, estão a fornecer uma visão inovadora do ambiente solar.

“Inicialmente, não nos apercebemos que a Parker e a Solar Orbiter estavam a medir a mesma coisa. A Parker viu este plasma mais lento perto do Sol, cheio de ondas de retorno, e o Solar Orbiter registou um fluxo rápido que tinha recebido calor e com muita pouca atividade de ondas”, acrescentou Samuel Badman, astrofísico do Centro de Astrofísica e outro co-líder do estudo.

“Quando ligámos as duas coisas, foi um verdadeiro momento eureka“.

Parker mediu a energia da corrente e descobriu que cerca de 10% dela estava no campo magnético. Mas quando o vento, agora rápido, chegou ao Solar Orbiter, a energia do campo magnético era de apenas 1%.

A conclusão era óbvia. A energia magnética foi transferida para o vento solar. Os dados mostram que um fenómeno chamado switchbacks, um exemplo de ondas Alfvén, foi responsável por esta troca.

“Este novo trabalho reúne algumas peças importantes do puzzle solar. Cada vez mais, a combinação de dados recolhidos pela Solar Orbiter, Parker Solar Probe e outras missões mostra-nos que diferentes fenómenos solares trabalham em conjunto para construir este extraordinário ambiente magnético“, acrescentou Daniel Müller, cientista do projeto da ESA.

O trabalho das equipas de ambas as missões continua, à medida que exploram a ligação entre os campos magnéticos e o vento solar.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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