Se os humanos tivessem olhos tão grandes como os destes minúsculos vermes, pesariam mais uns 100 quilos. Mas provavelmente teriam menos sucesso a acasalar.
Os corpos dos vermes podem parecer muito pouco interessantes — além de poder provocar alguma repulsa em certas pessoas.
No entanto, um olhar mais atento revela detalhes curiosos sobre algumas espécies de vermes.
Por exemplo, há uns estranhos vermes marinhos que projetam os seus rabos com cérebro para acalasar.
Num novo estudo, os cientistas descobriram agora que uma espécie de verme de cerdas, designada Vanadis, está equipado com um sistema de visão complexo, dominado por dois olhos muito, muito grandes. São descomunais! Se os humanos tivessem olhos assim tão grandes, pesariam mais uns 100 quilos.
No decorrer do estudo, uma equipa de investigadores da Universidade de Copenhaga, na Dinamarca, da Universidade de Lund, na Suécia, e da Universidade de Tuscia, em Itália, examinou três espécies de vermes de cerdas recolhidos à mão em águas pouco profundas.
As suas descobertas foram apresentadas num artigo publicado esta semana na revista Current Biology.
Os olhos da Vanadis conseguem usar luz ultravioleta para comunicar e encontrar parceiros ou comida — um comportamento que ainda não foi apropriadamente documentado ou estudado na natureza.
Estes vermes podem ser também dos poucos animais bioluminescentes conhecidos que usam luz UV para brilhar. A biolominescência dos nossos conhecidos pirilampos, por exemplo, tem origem em reações químicas no abdómen do inseto.
Os Vanadis estudados encontravam-se na costa da ilha de Ponza, no Mar Mediterrâneo, a oeste de Nápoles, em Itália. Pertencem a uma família de vermes de cerdas de olhos grandes chamada polychaeta.
Têm cerca de 15 centímetros de comprimento e alimentam-se principalmente de plâncton, algas e pedaços de matéria orgânica de organismos mortos. O par de olhos destes vermes pesa cerca de 20 vezes mais do que o resto da sua cabeça, e parecem dois globos vermelhos gigantes presos ao corpo.
Os autores do estudo analisaram os vermes em laboratório, e descobriram que a visão dos Vanadis é melhor e mais avançada do que se pensava anteriormente. Os seus olhos conseguem ver objetos muito pequenos e seguir os seus movimentos, apesar de terem um sistema nervoso mais simples.
A equipa ainda está a tentar perceber como é que estas criaturas desenvolveram uma visão tão apurada. Os seus corpos são transparentes, exceto os olhos, que precisam de registar a luz para funcionar corretamente.
Segundo os investigadores, algum aspeto de ter um corpo transparente com olhos visíveis deve ter tido benefícios evolutivos que superam as consequências.
“Nunca ninguém viu estes vermes durante o dia, por isso não sabemos onde se esconde. Por isso, não podemos excluir que os seus olhos também sejam utilizados durante o dia”, diz Anders Garm, neurologista da Universidade de Copenhaga, em comunicado publicado no EurekAlert.
“O que sabemos é que as atividades mais importantes dos Vanadis, como encontrar comida e acasalar, ocorrem à noite. Acreditamos que parte da explicação está no facto de estes vermes conseguirem ver comprimentos de onda de luz diferentes dos dos humanos”, explica Garm.
“Tal como muitas aves, renas e outros organismos mais complexos, os olhos dos Vanadis conseguem ver luz UV que é invisível ao olho humano. Isto pode indicar que o objetivo dos olhos é ver sinais bioluminescentes no mar escuro como breu da noite”, acrescenta o investigador.
“Pensamos que os próprios vermes são bioluminescentes e comunicam uns com os outros através da luz. Se utilizarmos a luz azul ou verde normal como bioluminescência, corremos o risco de atrair predadores“, explica Garm.
“Mas se, em vez disso, o verme usar luz UV para comunicar, fica invisível para outros animais que não os da sua própria espécie. Por isso, a nossa hipótese é que desenvolveram uma visão UV nítida para terem uma linguagem secreta relacionada com o acasalamento“.
Está explicado. Ao fim do dia, o importante é assegurar a continuação da espécie.