O Lago Natron é um lago de soda no norte da Tanzânia com uma geologia vulcânica que mantém o pH da água em torno de 10,5 — quase tão cáustico quanto a amónia. Ainda assim, algumas formas de vida conseguem prosperar no inóspito local.
Na Tanzânia há um lago cáustico, vermelho-sangue, que transforma animais em ‘pedra’: o Lago Natron, que tem uma composição química tão agressiva que é inabitável para a maioria das criaturas.
É um lago “de soda”, o que significa que tem altos níveis de sódio e carbonato dissolvidos, explica o Live Science.
Devido a esta alta concentração de sais e minerais, o pH do lago pode atingir 10.5, quase tão cáustico quanto uma solução de amónia — e como resultado, os animais que morrem nas margens do Lago Natron acabam por ficar preservados como múmias calcificadas.
O Lago Natron situa-se ao longo do Rift Africano Oriental, uma fronteira de placas tectónicas divergentes que está a rasgar a Placa Africana e a dividir o continente em dois desde o Miocénico, há 2 a 25 milhões de anos.
A sua geologia especial leva a que o lago seja moldado por processos vulcânicos, que produzem grandes quantidades de carbonato de sódio e carbonato de cálcio.
Estes sais e outros minerais escorrem para o lago das colinas circundantes e entram na água por baixo através de fontes termais, mas o lago não drena para nenhum rio ou mar, pelo que a concentração química permanece elevada todo o ano.
Poucos animais conseguem sobreviver a um nível de sal e pH tão elevados como os do Lago Natron, e a água pode queimar gravemente a pele e os olhos das criaturas que tentam beber ou mergulhar.
Mas os animais que conseguiram adaptar-se a estas condições hostis, incluindo o flamingo-pequeno da África subsariana (Phoeniconaias minor), prosperam no lago e à sua volta. Lago Natron é mesmo o local de reprodução mais importante do mundo para os flamingos-pequenos.
As pernas dos flamingos-pequenos têm pele e escamas resistentes que evitam queimaduras da água. Estas aves constroem ninhos em ilhas que se formam no lago durante a estação seca, e as suas crias estão seguras da maioria dos predadores graças às condições mortais.
Além de ser extremamente alcalino, o Lago Natron é tão raso que a temperatura da água pode atingir 60°C durante as épocas mais quentes do ano.
Tem 0,5 metros de profundidade e 15 quilómetros de largura, mas encolhe e expande dependendo do clima, com menos chuva e entrada de rios durante a estação seca levando-o a contrair (e vice-versa).
Quando o lago encolhe, os microrganismos que se alimentam dos seus sais multiplicam-se, como é o cada das haloarchaea (organismos que gostam de sal e não têm núcleo) e cianobactérias (algas azul-esverdeadas), que podem colorir o lago em diferentes tons de vermelho graças aos pigmentos nas suas células.
São estes mesmos pigmentos que dão a sua tonalidade rosa aos flamingos-pequenos, que se alimentam quase exclusivamente de algas azul-esverdeadas.
O Natron ganhou notoriedade em 2013, quando o fotógrafo Nick Brandt publicou imagens de animais “de pedra” nas margens do lago, no seu livro “Across the Ravaged Land”.
As imagens mostravam carcaças de aves e morcegos que tinham morrido nas margens do lago e estavam preservadas pelo carbonato de sódio. Brandt posicionou-os em ramos e na água para parecerem “vivos de novo na morte”, contou o fotógrafo.
“Inesperadamente, encontrei as criaturas, todo o tipo de pássaros e morcegos, espalhadas ao longo da costa do Lago Natron”, escreve Nick Brandt no seu livro. “Ninguém sabe ao certo como é que elas morrem”.