Evolução demográfica do país, conhecido por ter a população mais idosa do mundo, é apontada como um dos fatores para o abandono das residências.
Nas últimas semanas, o debate em torno da habitação tem dominado o espaço mediático português, com o Governo de António Costa a apresentar um pacote de medidas que visam responder à crise que se vive no setor. No Japão, a situação é distinta, já que milhões de akiya – ou seja, casas abandonadas – se acumulam pelo país, sem perspetivas de ocupação futura.
Muitas vezes chamadas de “casas das bruxas”, estes edifícios têm frequentemente um aspeto desconfortável e estranho. Localizam-se também em zonas rurais, já que a maioria da população japonesa escolhe os grandes centros urbanos para viver, o que contribui para o abandono destas residências.
“Tantas casas vazias acabam acabam por dissuadir as pessoas de viverem em aldeias rodeadas de “habitações fantasma”, explicou Chris McMorran, professor no departamento de estudos japoneses da Universidade Nacional de Singapura, à revista Insider. O especialista também acrescentou que “a falta de acessibilidade a serviços básicos como hospitais e lojas de conveniência também afasta as pessoas”.
Os dados mais recentes, que remontam há cinco anos e foram recolhidos pelo governo japonês, dão conta de quase 8,5 casas abandonadas no país. O fenómeno, no entanto, têm maior expressão dependendo dos contextos. Nos rurais, uma em cada cinco casas estão abandonadas.
Ainda assim, este não é um problema novo, já que ganhou dimensão no pós-guerra, sobretudo na década de 1950, quando a processo de urbanização e industrialização disparou no Japão. Como resultado, as novas casas começaram a ser vistas pela população do país como sendo temporárias, com uma duração prevista de apenas algumas décadas, no máximo.
Um facto largamente conhecido é que as casas não mantêm o seu valor original, com a tendência a ser de queda. A população mais jovem também tende a preferir uma casa recém-construída, em vez de uma com 10 ou 15 anos. “No Japão, uma casa nova é como um carro novo, que perde valor assim que sai do stand de vendas”, descreve Richard Lloyd Parry, editor da versão asiática do jornal The Times. “Há ruas em que quase todas as casas foram abandonadas”, aponta.
Outro fator que contribui para o fenómeno das casas abandonadas é o envelhecimento da população japonesa, considerada a mais velha do mundo. Há medida que os indivíduos envelhecem, muitos optam por trocar as suas casas familiares por outras mais pequenas, mas acessíveis. A baixa taxa de natalidade, uma tendência que se regista pelo menos da década 70, dá sinais de que o problema não se vai resolver tão cedo.
Perspetiva-se que o número de edifícios abandonados vá aumentar graças a alterações legislativas no que respeita aos direitos de propriedade. O Nomura Research Institute, citado pelo IFL Science, estima mesmo que em 2038 cerca de um terço das casas do país estejam desabitadas.