O inóspito Vénus pode ter sido preenchido por oceanos no passado

Paul K. Byrne / NASA / USGS

Cientistas querem saber como e porque é que Vénus chegou ao estado em que se encontra atualmente, sobretudo devido às suas aparentes semelhanças com a Terra.

Apesar de ser um do vizinho da Terra, Vénus não poderia ser mais diferente em termos físicos, com a sobrevivência humana a ser impossível devido a fatores tóxicos.

Ainda assim, Vénus partilha algumas semelhanças com a Terra. Ambos os planetas têm aproximadamente o mesmo tamanho, massa e densidade, e têm composições muito semelhantes. O que dá pertinência à seguinte questão: poderá Vénus ter sido alguma vez habitável?

Com esta premissa, um novo estudo descobriu que se Vénus alguma vez teve condições habitáveis, e água líquida na sua superfície, foi há muito tempo e por um breve período.

Os cientistas Alexandra Warren e Edwin Kite da Universidade de Chicago modelaram a história da atmosfera de Vénus para determinar a taxa e os mecanismos da perda de oxigénio — o que por sua vez revelou que se o planeta alguma vez teve água líquida (algo que suscita muitas dúvidas aos cientistas), foi há mais de 3 mil milhões de anos.

Atualmente, Vénus é extremamente seca e com baixos níveis de oxigénio. A sua atmosfera é 96% de dióxido de carbono, 3% de azoto e com vestígios de outros gases, tais como o dióxido de enxofre. A sua atmosfera é também extremamente espessa, com uma pressão 90 vezes superior à da Terra, embalada por ventos fortes e ácidos.

Devido à espessura, o calor não tem como escapar, apesar de Vénus ter a superfície mais quente de qualquer planeta do Sistema Solar e uma temperatura ambiente média de 464 graus Celsius.

Ainda assim, há a possibilidade de no início do Sistema Solar, quando o Sol era menos poderoso, Vénus poderia ter sido mais ameno, inclusive com lagos e oceanos de água líquida.

Como tal, os cientistas querem saber como e porque é que Vénus chegou ao estado em que se encontra atualmente, sobretudo devido às suas aparentes semelhanças com a Terra. Explorar a sua história poderia ajudar-nos a descobrir a probabilidade do nosso planeta seguir o mesmo caminho.

A falta de oxigénio na atmosfera de Vénus é algo confuso. Se este planeta alguma vez tivesse tido um oceano líquido, essa água teria evaporado para a atmosfera à medida que Vénus aqueceu, separando-se em hidrogénio e oxigénio através da fotodissociação, uma reação química desencadeada pela luz solar. O hidrogénio teria escapado para o espaço, mas o oxigénio deveria ter permanecido.

Warren e Kite pretendiam saber para onde esse oxigénio pode ter ido, por isso construíram um modelo baseado numa Vénus habitável. Colocaram oceanos de água na superfície, adicionaram mecanismos que poderiam ter contribuído para a perda de oxigénio, ajustaram parâmetros tais como a quantidade de água e o período de tempo em que poderia ter estado presente.

Um cenário a que chegaram apontava para a possibilidade de o oxigénio de Vénus ter estabelecido uma ligação com o carbono emitido pelos vulcões para formar dióxido de carbono, mas tal parece bastante improvável.

Pelo contrário, o oxigénio pode ter tido dois destinos: escapar para o espaço ou ficar sequestrado no magma oxidável, na superfície do planeta. Quanto aos oceanos, precisam de ter secado pelo menos há 3 mil milhões de anos.

Mas a magnitude da atividade vulcânica passada de Vénus pode ser limitada pela quantidade de argónio radioativo, o qual ainda está presente na atmosfera do planeta. Ao determinar o quão ativo era o vulcanismo de Vénus no passado, os investigadores conseguiram de estimar a quantidade de água que o planeta poderia ter tido.

A resposta não é muito concreta, destaca o Science Alert. Os oceanos de Vénus não poderiam ter tido mais de 300 metros de profundidade, ou seja, menos de 10% da média de 3.688 metros de profundidade dos oceanos da Terra.

Assim, os resultados conciliam a falta de oxigénio na atmosfera atual de Vénus com potenciais condições de habitabilidade precoce, mas a lacuna, dizem os investigadores, é estreita.

Esse frecha torna-se ainda mais estreita quando se considera o registo de árgon. Menos de 0,4% das corridas foram bem sucedidas quando se tem em conta todo o âmbito da atmosfera atual de Vénus.

As futuras missões poderiam tentar medir a composição da superfície de Vénus para ajudar a determinar se o planeta caiu de facto nesta frecha muito estreita.

Ana Rita Moutinho, ZAP //

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