O Homo sapiens apareceu no norte da Europa há 45 mil anos (e teve um encontro inesperado)

ZAP // Dall-E-2

Uma análise genética inédita a ossos descobertos no Norte da Europa nas últimas décadas revelou que quando o Homo sapiens chegou à região esta já era habitada pelos Neandertais, alterando significativamente a nossa compreensão da história humana primitiva.

O novo estudo, conduzido por uma equipa da Universidade da Califórnia, nos EUA, em colaboração com o Instituto Max Planck, centrou-se em fragmentos de ossos encontrados no local da gruta de Ilsenhöhle, próximo de Ranis, Alemanha.

Os resultados do estudo, publicados esta sexta-feira na revista Nature, fazem recuar a cronologia da presença do Homo sapiens na Europa para entre 47.500 e 45.000 anos atrás, desafiando as suposições anteriores sobre o fabrico de ferramentas de pedra e as interações entre o Homo sapiens e os Neandertais.

O estudo centrou-se na análise do ADN mitocondrial (mtADN) de fragmentos de ossos encontrados num período de tempo alargado— alguns dos quais há quase 100 anos, outros há menos de 2.

A análise revelou que os indivíduos determinadas ferramentas de pedra em forma de folha, que era previamente atribuídas aos Neandertais, foram na realidade fabricadas por Homo sapiens.

As evidências de ADN sugerem que estes primeiros europeus poderiam ter sido parte de uma única família ou mesmo de um único indivíduo, indicando uma dispersão muito mais precoce do Homo sapiens pelas latitudes mais altas da Europa do que se pensava anteriormente.

Estes resultados são reforçados pela descoberta de ferramentas de pedra semelhantes na Polónia, na Alemanha e no Reino Unido, atribuídas à cultura Lincombian–Ranisian–Jerzmanowician (LRJ).

A datação precisa destas ferramentas e ossos, através de datação por radiocarbono e técnicas especializadas de sequenciação de ADN, confirma que os humanos modernos foram os criadores e utilizadores destas ferramentas, refutando a teoria de que os Neandertais eram os únicos habitantes da Europa durante este período.

Além disso, explicam os autores do estudo numa nota de imprensa publicada no site do Intituto Max Planck, a pesquisa estabelece potenciais ligações entre o ADN dos habitantes da gruta de Ilsenhöhle e o de um crânio encontrado em Zlatý kůň, na República Checa, datado de cerca de 43.000 anos atrás.

Esta ligação sugere que poderá ter havido uma única população ou linhagem familiar abrangendo milhares de anos e centenas de quilómetros pela Europa.

As implicações desta pesquisa são profundas, sugerindo que o Homo sapiens se estabeleceu no Norte da Europa muito antes do que se acreditava anteriormente, e que coexistiu na altura com os Neandertais, partilhando tecnologias e práticas culturais.

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