O coração da nossa galáxia bate misteriosamente

Judy Schmidt / ESA / Hubble & NASA

Os astrónomos descobriram que o coração da Via Láctea bate misteriosamente e desencadearam uma investigação para perceberem porquê.

Comparativamente a algumas galáxias, o buraco negro supermassivo no centro da Via Láctea não é particularmente ativo. Não está a consumir grandes quantidades de material, nem está a disparar jatos gigantes de plasma para o espaço.

Segundo o Science Alert, mesmo um buraco negro supermassivo, relativamente pacífico, pode ser “selvagem” e “feroz”.

O nosso — chamado Sagitário A* — tem sido registado a fazer coisas bastante estranhas e, mais do que isso… os astrofísicos Gustavo Magallanes-Guijón e Sergio Mendoza, da Universidade Nacional Autónoma do México, registaram algo como: pulsos.

A cada 76 minutos, como um relógio, o fluxo de raios gama do Sagitário A* flutua. Segundo os investigadores, isto é semelhante, em periodicidade, às mudanças na emissão de rádio e raios X do buraco negro também.

Ora, isto sugere um movimento orbital de algo a girar descontroladamente à volta do buraco negro.

Os buracos negros em si não emitem radiação que possa ser detetada. São sombras mais escuras que o escuro, invisíveis aos telescópios com os quais se vê a luz que percorre o Universo.

Mas, o espaço à volta deles é uma questão diferente. No regime gravitacional extremo, fora do horizonte de eventos de um buraco negro, muita coisa pode acontecer.

Da região do Sagitário A*, a luz é emitida numa multiplicidade de comprimentos de onda e a intensidade dessa luz varia significativamente ao longo do tempo. E, em pelo menos alguns comprimentos de onda, os astrónomos observaram um padrão.

Segundo um artigo publicado em 2022, as ondas rádio flutuam numa escala de tempo de cerca de 70 minutos.

Por sua vez, um artigo publicado em 2017 mostrou a periodicidade de 149 minutos subjacente às explosões de raios X do buraco negro. Isto é cerca do dobro da periodicidade do rádio e, agora, das flutuações de raios gama.

Foi apenas em 2021 que a radiação gama foi vinculada ao Sagitário A* com alguma confiança.

Magallanes-Guijón e Mendoza pensaram que poderia haver alguns segredos escondidos nos dados de raios gama, então começaram a analisá-los.

Os astrónomos usaram dados publicamente disponíveis, registados pelo Fermi Gamma-ray Space Telescope, entre junho e dezembro de 2022. Processaram-nos e efetuaram uma pesquisa por padrões periódicos.

Encontraram um padrão. Segundo os seus resultados, a cada 76,32 minutos, o Sagitário A* emite um clarão de radiação gama, ou seja, a faixa de comprimento de onda mais energética da luz no Universo.

A semelhança com a periodicidade das explosões de rádio e raios X sugere uma causa comum subjacente. A explosão de rádio, segundo o investigadores, tem uma periodicidade idêntica da explosão dos raios gama.

A explosão de raios X, com 149 minutos, tem o dobro da periodicidade. Os cientistas acreditam que provavelmente isto não é uma coincidência.

O mecanismo físico é, provavelmente, algo que orbita o buraco negro.

Assim, o artigo publicado em 2022, concluiu que esse “algo” provavelmente é um aglomerado de gás quente, mantido unido por um campo magnético poderoso que sujeita partículas à aceleração de síncrotron, emitindo radiação no processo.

Este aglomerado tem uma distância orbital do Sagitário A* semelhante à de Mercúrio ao redor do Sol, mas com um período orbital de 70 a 80 minutos, viajando a cerca de 30% da velocidade da luz.

Magallanes-Guijón e Mendoza dizem que os seus resultados são consistentes com essa interpretação dos dados de rádio, sugerindo que o aglomerado de gás está a emitir em vários comprimentos de onda.

À medida que orbita, a teoria sugere que o aglomerado emite explosões energéticas. Conforme esfria, brilha mais intensamente na luz de rádio. A descoberta de explosões de raios gama apoia este modelo.

Ainda há alguns detalhes a serem esclarecidos. Os buracos negros são notoriamente difíceis de estudar e o Sagitário A* não é exceção.

Observações adicionais, em vários comprimentos de onda, poderiam ajudar a descobrir mais sobre o coração escuro e misterioso da Via Láctea.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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