O contacto com a natureza reduz (significativamente) a solidão

De acordo com uma equipa de cientistas britânicos, o contacto com a natureza nas cidades reduz significativamente os sentimentos de solidão.

A solidão é uma grande preocupação para a saúde pública, e pode aumentar em 45% o risco de morte de uma pessoa — mais do que a poluição do ar, obesidade ou alcoolismo.

Um novo estudo, publicado em dezembro na Scientific Reports, foi o primeiro a avaliar de que forma o ambiente pode afetar a solidão, utilizando dados em tempo real, recolhidos através de uma aplicação de telemóvel, em vez de confiar na memória das pessoas sobre a forma como se sentiam.

Segundo o The Guardian, o estudo permitiu concluir que a solidão aumenta em média 39%, quando as pessoas estão inseridas em ambientes muito povoados.

Mas quando são capazes de ter contacto com a natureza — como ver árvores, ver o céu ou ouvir passarinhos — os sentimentos de solidão diminuem em 28%.

A inclusão social também reduz a solidão em 21%, e quando ao mesmo tempo existe contacto com a natureza, os efeitos benéficos foram potenciados em ainda mais 18%.

Segundo os investigadores, devem ser feitas intervenções para reduzir a solidão. “Devem ser implementadas medidas específicas que aumente, a inclusão social e o contacto com a natureza, em especial nas cidades densamente povoadas”, consideram os autores do estudo, citados pelo jornal britânico.

Sabe-se que o tempo passado na natureza aumenta o bem-estar. No Reino Unido, estima-se, por exemplo, que os passeios florestais poupem ao país pelos menos 185 milhões de libras, em custos para a saúde mental, por ano.

“Pode haver aspetos, tais como elementos da natureza e inclusão social que podem de facto diminuir a solidão”, diz o professor Andrea Mechelli, um dos elementos da equipa de investigação e especialista em intervenção precoce em saúde mental no King’s College London, no Reino Unido, desafiando assim, a tradicional visão de que as cidades são lugares menos favoráveis para a saúde mental e para a solidão.

O especialista em arquitetura civil e paisagística Michael Smythe, que fez parte da equipa do estudo, diz que a saúde ambiental e a saúde pública são uma só e que para pessoas que trabalham com espaço público “validar o conhecimento que obtemos no terreno com dados é incrivelmente valioso para comunicar o valor destes espaços”.

Os investigadores recolheram dados de cidadãos urbanos de todos o mundo, utilizaram a aplicação de investigação Urban Mind. As pessoas foram solicitadas a responder a perguntas simples, três vezes ao dia, durante 15 dias e durante o acordar, sobre solidão, superpovoamento, inclusão social e contacto com a natureza.

“Sente-se confortável entre as pessoas à sua volta”, “consegue ver árvores neste momento?” foram duas das perguntas respondidas por mais de 750 pessoas obtendo 16.600 avaliações.

Os participantes voluntariaram-se para o estudo e por isso a amostra não era representativa das populações mais vastas. Mas quando os investigadores tiveram em consideração a idade, etnia, educação e ocupação, os benefícios do contacto com a natureza e os sentimentos de inclusão social sobre solidão permaneceram significativos.

Cristopher Gidlow, professor de investigação aplicada na área da saúde, na Universidade de Staffordshire no Reino Unido, que não estave envolvido na investigação, afirmou que o estudo acrescenta peso às provas já existentes da ligação com os ambientes naturais e aos potenciais benefícios para o bem-estar social.

“Há muito que se reconhece que o acesso a ambientes naturais pode fomentar interações sociais”, acrescentou o investigador. “A familiaridade com os ambientes não foi medida, mas é provável que esteja em jogo, uma vez que as pessoas tendem a visitar os mesmos ambientes naturais, criando ligações que possam gerar possíveis benefícios para a saúde mental”.

“As cidades são provavelmente o único habitat que está a aumentar a um ritmo elevado. Portanto deveríamos estar a criar espaços urbanos onde as pessoas possam viver. A natureza é uma parte crucial“, disse por seu turno a arquiteta paisagista Johanna Gibbons, elemento da equipa de investigação.

Inês Costa Macedo, ZAP //

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