Durante muito tempo e em muitos lugares, não existia o canal 37 na televisão. Ao fazer zapping pelos canais dos Estados Unidos, Canadá, México e várias partes da Europa ou Ásia, encontraria sempre uma lacuna entre o 36 e o 38 preenchida inteiramente com estática.
Em 1952, quando a Comissão Federal de Comunicações dos Estados Unidos abriu sinais de ultra-alta frequência para uso por estações de televisão, muitas empresas clamaram pela sua própria largura de banda.
Segundo conta o IFL Science, foram criados 2.002 novos canais em 1.274 cidades nos Estados Unidos, mas o número 37 permaneceu intocado.
Não era uma superstição: o número foi mantido intacto para ajudar os astrónomos a estudar os céus.
Em 1931, o engenheiro de rádio Karl Jansky estava responsável de descobrir as fontes de estática que interferiam nas transmissões telefónicas transatlânticas.
Usando um equipamento que ele próprio criou para a tarefa, identificou três tipos de estática interferente: tempestades locais, tempestades à distância e uma terceira fonte à qual se referia como “composta de estática de assobio muito constante, cuja origem ainda não é conhecida”.
Janksy suspeitava que o sinal não vinha da Terra, mas sim do centro da nossa galáxia, a Via Láctea. Era a primeira deteção de um sinal de origem extraterrestre.
De acordo com o Tedium, a radioastronomia demorar décadas a começar. Só depois da guerra é que o campo começou a ter mais atenção com a criação de um radiotelescópio de 121 metros de largura em Danville, Illinois.
Este telescópio conseguia usar a faixa de 608-614 megahertz.
“Por razões de engenharia, só poderíamos construir um [telescópio] realmente grande se tivéssemos uma frequência em torno de 600 megahertz”, lembrou George C. McVittie matemático e cosmólogo britânico, numa entrevista ao Instituto Americano de Física.
Assim, os astrónomos tinham um alcance, mas tinha de ter a certeza que se manteria livre de interferência humana. O problema era que o alcance estava onde o canal 37 iria aparecer – e as estações de televisão não o queriam ceder.
“Naturalmente, a Comissão Federal de Comunicações [FCC] continuou a dizer: ‘Não, não, mil vezes não, é uma ideia ridícula. Não podemos remover um canal de televisão do serviço de televisão por causa de vocês, radioastrónomos. Vá embora.'”, contou McVittie. “Mas não iríamos embora.”
Os cientistas persistiram em vão até que, de repente, um dia, a FCC fez do canal 37 uma zona silenciosa reservada para investigações científicas – sem explicação.
McVittie tem uma teoria para o que aconteceu: uma falta de compreensão da radiotelescopia pode ter salvado a radiotelescopia.
“Houve rumores de que, durante aquele verão ou primavera, de alguma forma, espalharam-se notícias de que aqui era uma nova forma de ouvir homenzinhos verdes em Marte”, disse McVittie. “Isso é o que a radioastronomia parecia para o público comum.”
“E a FCC estava a impedir que isto fosse desenvolvido nos Estados Unidos. Ouvimos boatos (…) de que, gradualmente, chegou um grande número de cartas à FCC, protestando contra esse não-apoio a essa nova ciência, fosse ela qual fosse. E que isso finalmente convenceu a FCC de que é melhor ceder. Ninguém sabe”.
O canal 37 ficou completamente sem uso durante a era analógica em grande parte da América do Norte, bem como na maioria dos outros países. Hoje, o canal 37 tecnicamente pode aparecer como um canal digital over-the-air, mas geralmente é o chamado “canal virtual”, permitindo que uma rede seja lá posicionada independentemente da sua posição no espectro.