Registos magnéticos do evento Carrington de 1859, agora redescobertos, revelam quão extrema foi, de facto, a maior tempestade solar alguma vez observada na história.
Nos dias 1 e 2 de setembro de 1859, a mais poderosa tempestade geomagnética alguma vez registada atingiu a atmosfera terrestre, desencadeando uma tempestade geomagnética poderosa que produziu auroras deslumbrantes.
A tempestade foi desencadeada por uma gigantesca erupção solar que tinha ocorrido 17 horas antes.
Embora nenhum ser vivo tenha sido afetado diretamente, o evento provocou uma série de problemas e falhas globais — numa altura em que o Mundo não dependia como atualmente de sistemas eletrónicos.
Se um evento de magnitude semelhante ocorresse hoje, poderia provocar o caos, inutilizando satélites, sistemas de comunicação e redes elétricas.
Considerada a maior tempestade solar registada na história, o chamado Evento Carrington poderá na realidade ter sido ainda mais raro e extremo do que se pensava anteriormente, segundo dados magnéticos recolhidos na altura e agora redescobertos por uma equipa de investigadores do British Geological Survey liderada pelo geofísico Ciaran Beggan.
Grande parte do nosso conhecimento sobre o evento baseia-se em descrições contemporâneas de astrónomos, como o inglês Richard Carrington, ou em registos magnéticos então obtidos num observatório na Índia.
Contudo, nenhuma destas fontes contém dados numéricos detalhados que descrevam a intensidade magnética da tempestade, tornando difícil avaliar a sua potência em comparação com eventos modernos.
No decorrer do seu estudo, recentemente publicado na revista Space Weather, Beggan e os colegas digitalizaram registos em papel do campo magnético da Terra recolhidos durante o Evento Carrington em observatórios localizados em Londres, Kew e Greenwich, no Reino Unido.
Os investigadores concluíram que a intensidade e a rapidez das alterações no campo magnético durante a tempestade indicam que este foi, no mínimo, um evento que ocorre com uma frequência de 1 a cada 100 anos, e possivelmente tão extremo como um evento de 1 em 1000 anos.
Esta estimativa coloca a força da tempestade mais perto dos cálculos originais, apresentados num artigo científico de 1861, estimativas essas que mais tarde foram revistas em baixa por físicos que questionaram a precisão dos registos originais.
“A taxa de variação da intensidade do campo magnético, calculada a partir dos magnetogramas da altura, terá sido de pelo menos 500 nanoteslas por minuto, o que corrobora o sugerido pelos documentos originais de 1861,” diz Beggan, citado pela New Scientist.
Esta taxa é quase o dobro do tamanho esperado para um evento com um período de 100 anos, estimado em cerca de 350 nanoteslas. “Os nossos cálculos reafirmam que o Evento Carrington foi, de facto, um evento extremo“, conclui o geofísico.
Mas se esta lhe parece uma má notícia, saiba que há pior. O Evento Carrington é “apenas” a maior tempestade de que há registo na história da Terra.
Em 2012, Fusa Miyake, investigadora da Universidade de Nagoya, no Japão, descobriu um pico de 12% nos níveis de carbono-14 num cedro com 1900 anos, que aponta para um evento cósmico global ocorrido entre 774-775 d.C., que terá sido vinte vezes maior do que as ocorrências cósmicas normais.
Assim, segundo se pode inferir a partir das evidências apresentadas pelo estudo da investigadora japonesa, um Evento Miyake seria muito, muito pior do que o Evento Carrington.