O bocejo contagioso já tem explicação — e pode ajudá-lo a educar os seus filhos

 

(dr) Envato Elements

Os neurónios-espelho estão localizados em quatro regiões cerebrais que comunicam entre si.

Já alguma vez se perguntou o porquê de bocejar quase imediatamente depois de ver outra pessoa fazer o mesmo? Ou como os recém-nascidos imitam as expressões que lhes são ensinadas? Tudo tem a ver com um tipo particular de neurónio, o chamado “neurónios-espelho”.

O que são os neurónios-espelho?

Os neurónios-espelho participam em processos importantes como a aprendizagem, a empatia e a imitação. Foram descobertos por acaso pelo neurobiólogo italiano Giacomo Rizzolatti em 1996.

Ao analisar o cérebro de um macaco, Rizzolatti e a sua equipa registaram neurónios que foram ativados não só quando o animal realizou uma ação, mas também quando observou outro animal a fazer a mesma atividade. Além disso, em ambos os casos, o córtex pré-motor foi ativado de forma idêntica.

Rapidamente se concluiu que acontece exatamente o mesmo processo nos seres humanos. Por exemplo, quando observamos alguém subir escadas, os neurónios motores que correspondem a esses movimentos são ativados sem darmos um único passo.

Quando observamos outro indivíduo a executar uma ação, sem sequer falar, os nossos neurónios-espelho podem colocar-nos na mesma situação, simulando mentalmente a ação como se estivesse a acontecer a nós.

Este tipo de célula nervosa permite também compreender a intenção com que uma ação é levada a cabo.

Outra das propriedades dos neurónios-espelho é que são ativados pelo som associado a uma ação. Por exemplo, quando ouvem o papel a ser rasgado, imitam mentalmente essa ação — mesmo que não a vejamos realmente a ter lugar.

Onde é que eles estão?

Os neurónios-espelho estão localizados em quatro regiões cerebrais que comunicam entre si: a área pré-motora, o giro frontal inferior, o lóbulo parietal e o sulco temporal superior. Cada um deles é responsável por uma função diferente.

A área pré-motora gere os movimentos e controla os músculos; o giro frontal inferior está envolvido em processos de controlo executivo, na gestão de comportamentos sociais e afetivos e na tomada de decisões; o lóbulo parietal analisa a informação sensorial visual; e o sulco temporal superior está envolvido no processamento auditivo e na linguagem.

Aprendizagem e empatia

A existência de neurónios-espelho é essencial para a nossa espécie. Isso deve-se principalmente ao papel que desempenham na aprendizagem por imitação e observação, mas também porque participam na aprendizagem de línguas e são essenciais no desenvolvimento da empatia e comportamento social — permitem-nos compreender as ações de outras pessoas e as suas emoções.

Os neurónios-espelho estão implicados em numerosas condições clínicas. São afetados pelo autismo, esquizofrenia, apraxia (incapacidade de realizar tarefas motoras) e doenças neurodegenerativas, entre outras.

Por exemplo, no autismo, há problemas motores, linguísticos e sociais que coexistem. Não é coincidência que todas estas funções estejam relacionadas com áreas do cérebro onde se encontram os neurónios-espelho.

Aproveitar os neurónios-espelho na sala de aula

Podemos considerar que a aprendizagem observacional é qualquer momento em que uma ação é observada e algo novo é aprendido ou conhecimentos anteriores são modificados. Não devemos confundir a imitação (por exemplo, copiar os gestos de um indivíduo) com a aprendizagem observacional. Esta última é uma mudança que perdura no indivíduo e produz uma resposta.

Ao observar um processo, os neurónios-espelho preparam-nos para imitar a ação a ser observada. Se, enquanto ensinamos, combinarmos a aprendizagem observacional com a criatividade dos estudantes, obteremos uma aprendizagem mais eficiente. A lição será internalizada e durará ao longo do tempo.

Tudo isto nos leva a destacar o importante papel que os educadores desempenham na sala de aula. Os alunos observam todas as ações levadas a cabo pelo seu professor.

Por este motivo, devemos olhar para além do ensino tradicional (que é meramente expositivo e estático por natureza) e realizar mais atividades que permitam o desenvolvimento de capacidades de observação.

Outro aspecto a destacar é a atitude que os professores têm na sala de aula. Os neurónios-espelho permitem-nos compreender as intenções e emoções que são transmitidas. Os professores apaixonados que ensinam as suas disciplinas com entusiasmo e alegria conseguem um maior nível de concentração e observação por parte do aluno, captando a sua atenção por um período de tempo mais longo e infectando-os com a sua emoção.

Por todas estas razões, existem diferentes metodologias educacionais que nos permitem combinar este conhecimento sobre neurónios-espelho com ferramentas úteis que se enquadram no contexto da sala de aula. Em qualquer caso, é essencial incorporar novas estratégias para encorajar a motivação, bem como utilizar tarefas manipulativas (sessões de laboratório, casos práticos, etc.) que permitam a utilização e internalização dos conteúdos aprendidos.

Todos os eventos que têm lugar na sala de aula, a dinâmica das aulas e os aspectos emocionais que o professor transmite aos alunos irão condicionar a aprendizagem e a experiência que os alunos têm na sala de aula.

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