O ataque ucraniano à força aérea russa é muito mais grave do que se pensa

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Maxar Technologies

Imagem de satélite de um dos ataques da Ucrânia aos aeródromos russos durante a operação SpiderWeb

Kiev não conseguiu apenas uma vitória histórica, que será lembrada para sempre como um ponto de viragem na guerra moderna. O seu efeito futuro na capacidade ofensiva e nuclear russa é devastador.

Para além do golpe psicológico e de conseguir um marco histórico comparável na sua audácia às melhores missões da Segunda Guerra Mundial, a Operação Spiderweb executada pela Ucrânia a 1 de junho de 2025 desencadeou consequências estratégicas irreversíveis que afetarão a aviação russa durante décadas.

As primeiras informações sobre o ataque ucraniano davam conta de que teriam sido destruídas 41 aeronaves.

Segundo dados confirmados pelo Conselho de Segurança e Defesa ucraniano, pelo menos treze bombardeiros nucleares foram destruídos em quatro bases aéreas russas: Olenya (região de Murmansk), Belaya (Irkutsk), Dyagilevo (Ryazan) e Ivanovo.

Estes aparelhos — Tu-95MS, Tu-22M3, Tu-160 e o avião radar A-50 — são na verdade ativos insubstituíveis para Moscovo: nem podem ser reparados nem há alternativa possível que possa tomar o seu lugar, diz o El Confidencial.

Na base de Olenya, imagens verificadas mostram dois bombardeiros nucleares Tu-95MS ‘Bear-H’ reduzidos a esqueletos carbonizados. Estes gigantes turbo-hélice, desenhados nos anos cinquenta mas modernizados para lançar mísseis Kh-101, representam o núcleo dos ataques russos contra a Ucrânia. Cada um transporta oito mísseis de cruzeiro com ogivas explosivas de 400 quilogramas.

airman980 / Reddit

Bombardeiro russo Tupolev Tu-95MSM com oito mísseis Kh-101 sob as asas

Em Belaya, a 4.000 quilómetros da fronteira ucraniana, a destruição foi mais grave: três Tu-95MS e quatro bombardeiros supersónicos Tu-22M3 ‘Backfire-C’ jazem agora inoperacionais. Este último modelo, chave para ataques com mísseis Kh-22, deixou de ser fabricado em 1993.

Dois bombardeiros supersónicos nucleares Tu-160 ‘Blackjack’ — avaliados em 682 milhões de euros por unidade — sofreram danos severos em Belaya. A Rússia só tem dezasseis unidades operacionais (ou tinha) e produz novos a um ritmo lento: 3 em 4 anos, segundo os últimos dados. E nenhum está operacional ainda.

Por último, um avião radar A-50 ‘Mainstay’, essencial para coordenar ataques (como na operação que recentemente deu uma vitória épica do Paquistão sobre a Índia num combate aéreo), também foi atingido em Ivanovo. Antes do ataque, a Rússia contava com apenas sete operacionais.

Estas perdas são bastante graves para as forças aéreas de Vladimir Putin. A reposição destas aeronaves é totalmente inviável.

Os Tu-95MS não são fabricados desde 1992. Reativar as suas linhas de produção exigiria superar três obstáculos: recuperar planos técnicos dispersos após a queda da URSS, reconstruir cadeias de fornecimento de componentes obsoletos (como motores Kuznetsov NK-12) e destinar mais de 18,2 mil milhões de euros só para que a fábrica volte a funcionar.

A Rússia tem aeronaves retiradas há décadas — expostas a neve, chuva ácida e saque de peças — com uma corrosão estrutural irreversível. “Um Tu-95 oxidado num hangar do Cazaquistão não vale dinheiro: é sucata radioativa“, diz o especialista em aviação russa Piotr Butowski à The War Zone.

Além disso, sabemos que as tentativas de modernizar os Tu-22M3 para a versão M3M avançam a um ritmo geológico: apenas três unidades atualizadas desde 2018 partindo de unidades em estado operacional. A ideia de que a Rússia possa atualizar máquinas com problemas estruturais graves é absurda.

Dmitriy Pichugin / Wikimedia

Alinhamento de aviões bombardeiros Tupolev Tu-95 ‘Bear’ da Força Aérea da Rússia

O efeito imediato

Como assinala o The War Zone, cada Tu-95MS destruído elimina a capacidade de lançar 64 mísseis de cruzeiro mensais — oito por saída operacional. A destruição destas máquinas também afeta diretamente a capacidade estratégica nuclear.

Os Tu-95 e Tu-160 são o componente mais flexível da tríade atómica russa. A perda destes bombardeiros enfraquece a sua capacidade de ataque convencional e nuclear simultâneo, fragilizando a doutrina de ‘dissuasão escalonada’.

Segundo diz um analista militar do Royal United Services Institute citado pelo El Confidencial, a Rússia poderia lançar bombas nucleares de terra ou mar, mas sem aviões perde opções de escalada controlada.

Como estimar o preço do Tu-95MS, que não se produz há mais de 30 anos e não tem substituto? O seu valor para a força aérea russa é maior que o dinheiro“, afirma Butowski.

A Rússia deverá agora redistribuir os seus bombardeiros sobreviventes em bases secundárias, aumentando tempos de resposta e reduzindo saídas em 30% segundo análises do Estado-Maior ucraniano.

Esta dispersão forçada já foi detetada por satélites, que fotografaram bombardeiros Tu-160 recolocados em aeródromos sem hangares reforçados em Vorkuta, no Círculo Polar Ártico.

Mas, diz o El Confidencial, deixar os Tu-160 ao ar expõe-nos a um novo ataque e os ucranianos não vão agora parar — estejam onde estiverem estas aeronaves. Por isso, não se entende que a Rússia não estacione os seus aviões mais preciosos em hangares reforçados.

Na verdade, as forças aéreas de quase todos os países do planeta estão agora em alerta, porque ninguém imaginava que isto era possível. Os EUA estão agora num processo de construção de hangares reforçados para evitar os ataques com drones.

A devastadora operação ucraniana revelou uma verdade incómoda para Moscovo, diz o El Confidencial: os seus ativos nucleares mais preciosos são vulneráveis — e a força aérea russa, que já estava debilitada antes da guerra, enfrenta agora uma decadência terminal.

ZAP //

7 Comments

  1. E ontem os ucranianos acabaram com os depósitos de combustível para esses aviões em Ooo Spetsyugstroy perto de Saratov Capatob …. Os ucranianos sabem o que estão a fazer e tem uma estratégia bem definida para acabar com a capacidade nuclear russo.

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  2. No que diz respeito ao conflito na Ucrânia, há factos, há propaganda, há “wishful thinking” e há fantasias. A ZAP prefere os úlktimos três ao primeiro. Mas isso não muda nada no que se passa no campo de batalha. A Ucrânia continua condenada a ser derrotada. E a ZAP está condenada a ter que puxar pela imaginação para justificar essa derrota, depois dela deixar de poder ser negada…

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  3. Nuno Cardoso Silva,
    Ainda não percebeu que isto não e um jogo?
    Propaganda? A informação proveniente da Rússia é que é isenta …
    Deixe de venerar o quadro do assassino estaline que tem na sua sala e ganhe juízo, já tem idade para isso.
    Os meus desejos de rápidas melhoras seu apoiante de ditadores assassinos.

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  4. Lendo esta notícia e ouvindo alguns comentaristas de serviço, parece que a Ucrânia sozinha está a conseguir derrotar a Rússia. Não se percebe é porque razão as mesmas criaturas que escrevem e dizem esta coisas continuam a tentar impor aos povos europeus um aumento brutal de despesas com “defesa” (leia-se, “com armas”), para nos defendermos dessa mesma Rússia decadente.

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